VOLTAR

Capital natural

FSP, Ciência, p. C9
Autor: LEITE, Marcelo
16 de Jul de 2011

Capital natural
Expedição vai percorrer 19 mil km em nove rotas pelo Pantanal para mapear práticas sustentáveis na região

Marcelo Leite
Enviado especial a Miranda (MS)

A pujança do Pantanal e o fascínio que sua natureza exerce sobre empresários do Sudeste ficam evidentes no campo de pouso da Estância Caiman: dois helicópteros e vários aviões se aglomeram na grama, a poucos metros de uma das imensas baías que fazem a fama da região.
O 10 de julho era de comemoração: a 18ª Festa Pantaneira, cujo ponto alto não foi a prova de laço, como de costume. Em lugar de cavalos e bois, o lugar de honra estava ocupado por uma camionete paramentada com adesivos dos patrocinadores da Expedição Pantanal (Instituto SOS Pantanal, Fundação Toyota, Supermercados Comper e governo de Mato Grosso do Sul).
Até dezembro, a equipe percorrerá 19 mil km, em nove rotas da bacia do rio Paraguai em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso.
Na expedição, que tem custo total de R$ 550 mil, eles têm uma missão singular em suas andanças: conversar.
O objetivo dos expedicionários é recolher e mapear, em cada propriedade, pousada e instituição visitada, um acervo de práticas econômicas e culturais que concorram tanto para melhorar a renda da população quanto para preservar o ambiente.
Os interlocutores serão fazendeiros, pescadores, cozinheiras, ribeirinhos, índios, peões e isqueiros (os fornecedores de iscas vivas).
Mas não será um bate-papo qualquer, explica a bióloga Lucila Egydio, 42, coordenadora da expedição, e sim uma "prosa orientada".

TAREFA COMPLICADA
Conhecedores da reputação de desconfiados dos pantaneiros, o grupo dispensará pranchetas, blocos e gravadores. O questionário preparado tem de estar todo na cabeça de cada integrante do quarteto, que, em três horas de prosa, precisa cobrir 16 tópicos distribuídos em quatro eixos: consumo/produção, infraestrutura, ambiente e questões socioculturais.
Seu maior esforço será não acabarem confundidos com agentes da Polícia Florestal, do Ibama ou da Funai. A ordem é iniciar a conversa esclarecendo que não estão ali para fazer auditoria, mas para descobrir e mostrar quem está fazendo a coisa certa.
"O foco aqui é a pecuária", admite a bióloga. Os dois Estados (MT e MS) abrigam um quarto do rebanho bovino de mais de 200 milhões de cabeças no país, e cerca de 75% dos bois mato-grossenses são criados no Pantanal.
O grupo viajará de olho em medidas ambientalmente responsáveis como rotação de pastagens, convivência de pastos naturais com capins exóticos (para melhorar produtividade) e curvas de nível (para prevenir a erosão) -mas também registrará aspectos sanitários, educacionais e até culturais, como a confecção de violas de cocho.
Embora menos danosa para o bioma, a pecuária extensiva tradicional no Pantanal já é considerada economicamente insustentável, por ser pouco produtiva. As fazendas vão sendo divididas e vendidas. No aperto para melhorar de vida, proprietários derrubam os capões de mata e substituem as gramíneas pantaneiras por exóticas.

AMEAÇAS
Cerca de 17% do Pantanal já foi desmatado. O restante sofre com as ameaças de fora, como a agricultura intensiva de soja e cana no planalto à volta, onde nascem seus rios. Com a perda de solos resultante, os sedimentos se acumulam nos modorrentos rios da bacia do Paraguai, cada vez mais assoreados.
A degradação é lenta, mas persistente. Já quase destruiu um rio, o Taquari. A Expedição Pantanal quer investigar e difundir o que os próprios pantaneiros já estão fazendo para impedir a generalização desse desastre.

Os jornalistas Marcelo Leite e Lalo de Almeida viajaram a convite do Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai/SOS Pantanal

Paulistas se apaixonam por vida pantaneira

Do enviado a Miranda

Logo após a entrega dos prêmios da 18ª Festa Pantaneira, toma a palavra André Esteves, do banco BTG Pactual. Ele se confessa apaixonado pelo Pantanal e sua "gente maravilhosa".
Além de arquitetar negócios como a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, ele investe no Pantanal. Comprou terras e arrendou pastagens nos 53 mil hectares da Estância Caiman.
"Mais importante que preservar é desenvolver a atividade econômica", afirma Esteves ao elogiar a Expedição Pantanal. "A gente consegue ter a pecuária convivendo com esse ambiente todo há mais de cem anos."
O dono da Caiman é outro empresário de São Paulo, Roberto Klabin, que mantém na fazenda da família a pousada de mesmo nome. Mais conhecido como fundador da SOS Mata Atlântica, Klabin liderou a criação em 2009 de uma entidade similar, o Instituto SOS Pantanal.
A expedição é o primeiro grande empreendimento da nova SOS. Para Klabin, seus resultados só ficarão evidentes dentro de um ano. Na segunda viagem, os expedicionários mostrarão aos entrevistados tudo que se aprendeu com eles na primeira. (ML)

FSP, 16/07/2011, Ciência, p. C9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1607201101.htm
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ciencia/fe1607201102.htm

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.