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Via Campesina depreda Monsanto em SP

FSP, Brasil, p. A13
08 de Mar de 2008

Via Campesina depreda Monsanto em SP
Sem-terra destroem campo de milho transgênico em protesto contra liberação de duas variedades do grão pelo governo
Multinacional relata em boletim de ocorrência que foi invadida por cerca de 40 pessoas; movimento afirma que eram 300 manifestantes

Maurício Simionato
Da agência Folha, em Santa Cruz das Palmeiras (SP)

Um grupo de manifestantes -na maioria mulheres- ligados à Via Campesina invadiu na madrugada de ontem a unidade de pesquisa da empresa norte-americana Monsanto, em Santa Cruz das Palmeiras (244 km de São Paulo), e destruiu um viveiro e um campo experimental de milho transgênico.
A Monsanto registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil da cidade, no qual relatou que um vigia da empresa, que estava na guarita, foi rendido e ficou amarrado durante 40 minutos. Ninguém ficou ferido.
No boletim, a empresa registrou que foi invadida por cerca de 40 pessoas. No entanto, um funcionário disse à Folha que foram cerca de cem pessoas. Já a direção nacional do movimento afirmou que 300 pessoas participaram da invasão.
A Polícia Civil abriu inquérito para apurar os crimes de dano ao patrimônio e de cárcere privado. Segundo o boletim de ocorrência, antes de amarrar o vigia, os manifestantes o renderam "com foices e paus".
Em 2001, o Greenpeace já havia realizado um protesto nessa mesma área contra o plantio de milho geneticamente modificado. Na ocasião, os ativistas cercaram uma plantação experimental e coloriram as sementes com tinta atóxica.
Na terça-feira, 69 pessoas ligadas à Via Campesina ficaram feridas durante reintegração de posse feita pela PM em fazenda da multinacional Stora Enso em Rosário do Sul (RS).
Ontem, os manifestantes chegaram por volta das 3h e derrubaram parte de um alambrado que dá acesso à empresa. Em seguida, destruíram o viveiro e o campo experimental. A ação durou cerca de uma hora. Quando a PM chegou, não havia mais ninguém no local.
A Via Campesina disse que o objetivo era protestar contra a liberação de duas variedades de milho transgênico pelo Conselho Nacional de Biossegurança. Segundo nota do movimento, "o governo Lula cedeu às pressões das empresas do agronegócio e liberou, em fevereiro, o plantio e comercialização das variedades Guardian (da linhagem MON810 da Monsanto) e Libertlink (da alemã Bayer)".
A invasão faz parte da Jornada Nacional de Lutas da Via Campesina. Uma guarita da empresa foi pichada com dizeres "Mulheres em luta", "Fora Monsanto", "MST" e "Movimento Via Campesina".
"O objetivo foi protestar contra a decisão do Brasil de produzir milho transgênico. Não existe nenhum estudo conclusivo que diga se tem ou não tem problemas para a saúde e para o ambiente", disse uma das coordenadoras da Via Campesina, Marina dos Santos.

Multinacional condena ação dos sem-terra

Da agência Folha, em Santa Cruz das Palmeiras

A Monsanto divulgou nota ontem condenando a invasão: "A Monsanto condena veementemente atos ilegais como este, inclusive desrespeitando recentes decisões do Poder Judiciário", diz. "A empresa acredita que, num regime democrático, como o que vivemos, discordâncias -ideológicas ou não- devem ser expressas por meio dos caminhos legais e de livre forma de expressão e não por meio de atentados aos indivíduos e à propriedade privada."
Segundo a Monsanto, "a biotecnologia é uma tecnologia que contribui para uma agricultura sustentável e com menor uso de agroquímicos", e foi "aprovada no Brasil com pareceres conclusivos (técnicos e socioeconômicos) emitidos pelos órgãos federais competentes". A empresa diz que "o segmento de pequenos agricultores é um dos que mais poderia se beneficiar da biotecnologia como já têm demonstrado os exemplos no Brasil e no exterior".

FSP, 08/03/2008, Brasil, p. A13

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