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Campanhas pelo voto consciente chegam aos índios da Amazônia

24 Horas News-Cuiabá-MT
30 de Set de 2004

Há dez anos, povos indígenas de nove estados da Amazônia recebem orientações sobre a importância do voto para a comunidade. A campanha, elaborada pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab) em conjunto com o Conselho Indigenista Missionário (Cime), se concentra na distribuição de cartilhas com dicas para evitar que os índios se deixem enganar com falsas promessas de políticos interessados apenas em votos.

Este ano, cinco mil cartilhas foram distribuídas a pelo menos 400 organizações que atuam diariamente com povos indígenas da Amazônia. Com o título "Tem político na aldeia", o material traz desenhos e textos didáticos com informações sobre os políticos que "prometem mundos e fundos" e, depois de eleitos, não colocam as promessas em prática. "A gente tem visto que nossas comunidades indígenas têm sido exploradas pela politicagem da compra de votos, pela politicagem do rancho, da troca. Diante dessa realidade, estamos fazendo um trabalho de conscientização em nossas comunidades", ressalta o coordenador-geral da Coiab, Gecinaldo Barbosa Cabral.

O assessor de comunicação da Coiab, Paulino Montejo, é um dos autores da cartilha. Segundo ele, é comum em períodos eleitorais a presença de candidatos nas aldeias em busca de votos com ofertas de cestas básicas ou outros "presentes" para os índios. "Nessa época os políticos viram bonzinhos. E vários deles são contrários aos direitos dos povos indígenas. Por isso a orientação é necessária", ressalta.

A cartilha dá conselhos explícitos com relação aos presentes oferecidos por candidatos. "Votar em troca de presentes ou favores caracteriza venda de voto e da própria consciência. Nunca vote em candidato que procura corromper através da compra de votos, quando dão cestas básicas, dentaduras, gasolina, óculos e outros objetos".

A cartilha também orienta os índios a questionarem os candidatos que visitam as aldeias sobre os seus projetos, especialmente em temas como a homologação de terras indígenas, projetos para os índios, reforma agrária e sugestões para os movimentos sociais.

Na avaliação de Gecinaldo Barbosa, desde o início da campanha os índios da Amazônia já deram um salto de cidadania contra a compra de votos. Um dos resultados da cartilha, segundo ele, é o número de índios que se candidataram a cargos eletivos este ano. "Esse trabalho abre a importância do interesse das comunidades e organizações de base espalhadas em toda a Amazônia para lançarem candidaturas indígenas, onde de fato é importante porque essas candidaturas foram discutidas nas aldeias, em assembléias, e saem com o fortalecimento das organizações dos povos indígenas, para que as pessoas depois de eleita estejam do lado da defesa do direito dos povos da Amazônia", ressaltou.

O coordenador-geral da Coiab informou que 60 índios da região amazônica são candidatos às eleições municipais no próximo domingo. Desse total, 58 índios são candidatos a vereadores, e dois a prefeitos dos municípios de São Gabriel da Cachoeira (AM) e Barreirinhas (AM). "Já temos hoje dezenas de vereadores indígenas, e a expectativa é aumentar esse número este ano. É um marco importante dentro desse trabalho de conscientização daqueles que habitam o território brasileiro há mais de 30 mil anos", afirmou Barbosa.

O Brasil tem hoje 345 mil índios espalhados em 24 estados, que representam cerca de 0,2% da população. Do total de 250 povos indígenas que existem no país, apenas 46 vivem hoje isolados da civilização. A maior concentração das aldeias está região da Amazônia Legal - que reúne os estados do Amazonas, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Acre, Tocantins e Maranhão.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tem estatísticas de quantos índios atualmente têm título de eleitor no país

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