VOLTAR

Caminho sem volta

O Globo, Ciência, p. 34
17 de Dez de 2008

Caminho sem volta
Degelo no Ártico acelera mais do que o previsto e alarma cientistas

Steve Connor Do Independent

Cientistas descobriram a primeira prova inequívoca de que as temperaturas da região do Ártico estão se elevando numa velocidade maior do que as do restante do mundo. E o fenômeno está ocorrendo pelo menos uma década antes do previsto, alarmando cientistas. Segundo especialistas, as temperaturas do ar na região estão mais altas do que seria normalmente esperado para o período de outono porque o aumento do derretimento excessivo do gelo marinho no verão está fazendo com que o oceano acumule mais calor.

O fenômeno, conhecido como amplificação do Ártico, não era esperado por pelo menos mais dez ou 15 anos. As descobertas indicam que o aquecimento do Ártico pode ter passado do ponto considerado irreversível, em que os verões serão totalmente livres de gelo. E isso poderia acontecer dentro de 20 anos, não em 2070 conforme previsto anteriormente. O Ártico é considerado uma das regiões mais sensíveis do planeta em termos de mudanças climáticas e alterações ali têm um impacto direto em outras partes do Hemisfério Norte, bem como efeitos indiretos no restante do planeta.
Aumento de até 7 graus Celsius
Embora pesquisadores tenham documentado uma perda catastrófica de gelo durante os meses do verão nos últimos 20 anos, foi somente agora que eles detectaram sinais claros de temperatura que podem ser relacionados às emissões de gases-estufa. Um novo estudo, a ser apresentado no Encontro Anual da União Geofísica Americana, revela que a amplificação do Ártico vem ocorrendo há cinco anos e continuará intensificando o aquecimento da região pelos próximos anos.

Modelos computacionais do clima global já vinham mostrando que o Ártico aqueceria mais rapidamente do que o restante do mundo justamente em função desse fenômeno, mas muitos cientistas acreditavam que a amplificação só seria mensurável nas próximas décadas.

Entretanto, o estudo do Centro Nacional de Gelo e Neve dos Estados Unidos (NSIDC, na sigla em inglês) revelou que a amplificação já pode ser medida com o aumento das temperaturas do ar na região durante o período do outono, quando o gelo marinho começa a se recuperar após o degelo do verão.

Julienne Stroeve, do NSIDC, que coordenou o estudo juntamente como Mark Serreze, disse que as temperaturas registradas no outono deste ano e dos últimos estão anormalmente altas, de 3 graus Celsius a 5 graus Celsius acima da média. Em algumas áreas, entretanto, chegam a 7 graus Celsius.

Os cientistas acreditam que a única explicação para tal aumento é que o calor acumulado pelo oceano durante o verão por conta da perda do gelo marinho está sendo devolvido à atmosfera antes que o gelo se forme novamente. O calor do Sol é absorvido mais facilmente pelas áreas escuras da água comparadas com as superfícies mais reflexivas do mar congelado.

- O aquecimento observado no outono sobre o Oceano Ártico não apenas este ano, mas nos últimos cinco anos, representa a amplificação do Ártico, a noção de que elevações na temperatura do ar de superfície em resposta ao aumento das concentrações de gases-estufa serão maiores no Ártico do que em qualquer outro lugar do globo - afirmou Stroeve

Dois trilhões de toneladas de gelo a menos

Antártica, Groenlândia e Alasca perderam dois trilhões de toneladas de gelo nos últimos cinco anos, segundo um novo estudo da Nasa que atribuiu o problema ao aquecimento global.

A nova pesquisa, que será apresentada no encontro da União Geofísica Americana, é baseada nos resultados de análises de imagens captadas pelo satélite Grace nas áreas desde 2003.

Mais da metade da perda total de gelo foi registrada na Groenlândia. Desde 2003, quando o satélite começou a tomar imagens da região, o Alasca perdeu 400 bilhões de toneladas de gelo. Entretanto, a pesquisa indica que, após uma perda considerável em 2005, o gelo na região aumentou este ano.

Uma das principais conseqüências da redução de gelo das regiões polares é o aumento do nível do mar e a elevação das temperaturas das águas - o que tem um efeito direto no clima de todo o planeta. O volume de gelo perdido na Antártica, na Groenlândia e no Alasca fez o nível do mar aumentar em 4,5 milímetros nos últimos cinco anos, segundo o estudo.

Uma outra pesquisa da Nasa mostrou que os últimos 12 meses foram os menos quentes desde 2000. Segundo os cientistas, isso estaria relacionado ao fenômeno La Niña, e não a um retrocesso do aquecimento global.

O Globo, 17/12/2008, Ciência, p. 34

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.