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Cambuci, ideal para o cultivo ecológico

OESP, Agrícola, p. 3
17 de Mar de 2010

Cambuci, ideal para o cultivo ecológico
Pequenos produtores da região serrana do Vale do Paraíba plantam a árvore e garantem a sobrevivência da espécie

João Carlos de Faria
Especial para O Estado

O cambuci, fruta nativa da Serra do Mar, já garante o sustento de pequenas propriedades do Vale do Paraíba. Em plena safra, a fruta, conhecida por ter seu xarope adicionado à cachaça, a "pinga de cambuci", tem bom potencial de se tornar alternativa de renda, e preservar a mata atlântica. Em quatro anos, a região entre São Paulo e Cunha ganhou 30 mil pés. Além disso, com a Rota Gastronômica do Cambuci, com lançamento previsto para sábado, dia 20, no Bairro do Cambuci, na capital, espera-se uma expansão ainda maior dos plantios.
O produtor Ranulfo de Jesus, de Natividade da Serra, aprendeu há 50 anos a receita do xarope de cambuci e então começou a cultivar a fruta. Sempre descalço - diz que só usou gravata e sapato quando casou com dona Juventina, há 60 anos -, ele cuida de mais de 200 pés da fruta. "Eu pegava o cambuci e fazia suco e xarope para consumo próprio, com cachaça. O que sobrava, vendia." Esta safra, Jesus deve colher 500 quilos da fruta, que, transformada em xarope, rende 400 litros. Além disso, ele vende, por ano, 150 mudas de cambuci. O quilo da fruta custa R$ 2; o litro do xarope, R$ 4 e a muda R$ 5.
Parceria. O impulso que o cambuci tem tomado na Serra do Mar tem a ver com o esforço do Instituto H&H Fauser (IHHF), que, em parceria com as Prefeituras de Natividade da Serra e Paraibuna e com a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, organizou, em 2008, o 1o. Workshop do Cambuci.
Antes, em 2006, o ex-secretário de Desenvolvimento de Rio Grande da Serra Flávio Lemos criou o primeiro Festival Gastronômico do Cambuci. O evento foi um sucesso e despertou o interesse de Salesópolis e Paraibuna. "Hoje a rota gastronômica do cambuci é um programa de fomento e tem como braço executor a Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica. Já o IHHF coordenacabe a coordenação das ações de capacitação", diz Amely Fauser, do IHHF.
Participam da rota São Paulo (Bairro do Cambuci), Santo André (Vila de Paranapiacaba), Rio Grande da Serra, Salesópolis, Paraibuna, Natividade da Serra e Ilhabela. Lemos estima que a produção regional fique entre 300 e 400 toneladas.
Mil toneladas. "Nossa expectativa é produzir, em 2012, mil toneladas por ano", diz. A maior parte é de pequenos produtores, com 50 pés, em média, mas já há outros com pomares com mais de mil pés, que entram em produção em 2011. Se bem manejado, um pé rende até 200 quilos. Salesópolis é um dos grandes produtores, com mais de cem propriedades coma fruta. A mais conhecida produtora é Conceição de Oliveira Magoffi, que tem cerca de cem pés de cambuci, com a média de 200 quilos por pé. O segredo, diz, é manter a distância mínima de 5 metros entre os pés, e irrigar. Da sua produção, 80% são vendidos in natura e o restante vira xarope. "Faço isso há 30 anos", diz a produtora.
Em Rio Grande da Serra já há até uma cooperativa, com 25 produtores da fruta, e também de xarope, geléia, mousse, polpa, trufa, sorvete e até alfajor. "Eles já estão buscando registro na Anvisa para seus produtos, vendidos com a marca Cambucy da Serra", diz Lemos.

Serviço
Instituto H&H Fauser (IHHF), TEL. (0--12) 3974-0713; Produtor de Cambuci Flavio Lemos, (0--11) 9230-7538

Para entender
A origem da "pinga de cambuci"

Na década de 1950 instalou-se no Bairro Alto, em Natividade da Serra (SP), o Bar do Alemão, de Alexander Linz, que na verdade era austríaco, conta o pesquisador de gastronomia e jornalista João Evangelista de Faria, o "João Rural". "Ele inventou o xarope de cambuci, aproveitando a fartura da fruta na região. Depois de fervê-la, acrescentou açúcar e passou a servir junto com a cachaça. A partir daí, criou-se o hábito, entre os turistas, de parar no bar, antes de descer a serra, para degustar a "pinga de cambuci", explica o jornalista.

OESP, 17/03/2010, Agrícola, p. 3

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