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Caingangues elegem cacique

Zero Hora-Porto Alegre-RS
Autor: FERNANDA CRANCIO
11 de Mai de 2001

Eleição tenta evitar confrontos políticos entre facções

O caingangue Danilo Braga, 27 anos, foi eleito, na tarde de ontem, o novo cacique da Reserva Indígena do Ligeiro, localizada no município de Charrua, no Planalto Médio.
Eleito por 392 dos 590 votantes, Braga é o primeiro cacique escolhido em eleição direta na história da reserva.
Com cerca de 1,3 mil habitantes, a reserva do Ligeiro ocupa uma área de 4,5 mil hectares do município de Charrua e freqüentemente esteve envolvida em desentendimentos políticos.
Há dois anos, o atual cacique, Valdemar Mendonça, assumiu o poder sob intervenção da Polícia Federal, escolhido por consenso. Insatisfeitos com a falta de diálogo com Mendonça, líderes indígenas da reserva pediram nova eleição no início desta semana, mas esbarraram na divisão dos moradores entre dois candidatos: o ex-capitão da reserva Vilácio Candinho e o professor da escola do Ligeiro Danilo Braga.
O clima de tensão marcou parte das cinco horas destinadas ao pleito indígena, que se iniciou às 10h, mas nenhum incidente foi registrado.
Como grande parte da população da reserva é formada por índios semi-analfabetos, a solução encontrada foi identificar os candidatos de maneira familiar para os índios. Vilácio era representado por grãos de soja, e Danilo, de feijão. Dessa forma, os eleitores escolhiam o candidato e depositavam o grão correspondente em uma caixa.
A adesão ao pleito surpreendeu os representantes locais da Fundação Nacional do Índio (Funai). Mesmo não sendo obrigada a votar, a população maior de 16 anos compareceu em massa à eleição. Durante todo o dia, filas se formaram em frente ao posto da administração da reserva, onde a urna foi colocada.
– A eleição é um momento importantíssimo na reserva. Pela primeira vez, esses índios exercem a democracia e realizam uma escolha desse tipo – disse o administrador da Funai de Passo Fundo, Jaci Sbardelotto.
Por volta das 17h, Danilo foi anunciado como o novo cacique da reserva. Ovacionado pelos índios, o professor de história pediu que não houvesse brigas nem provocações e prometeu lutar pelo progresso da reserva e por melhores condições de vida para seu povo.
– A amizade e o diálogo serão meus aliados a partir de agora. De imediato, quero melhorar as habitações da reserva, que não são próprias para o inverno – declarou.
O pleito foi acompanhado por equipes da Polícia Federal de Passo Fundo e pelo Pelotão de Operações Especiais da Brigada Militar de Erechim, que garantiram a segurança da reserva durante todo o dia. A operação foi organizada para evitar possíveis desentendimentos entre as duas facções indígenas que disputavam o controle da reserva e que, na última terça-feira, chegaram a se enfrentar por um novo cacique.
Na ocasião, um acordo firmado pelos índios, com a intervenção da Polícia Federal, de representantes da Funai e do Ministério Público Federal de Passo Fundo, garantiu a realização da eleição de ontem.

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