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Caiçaras estão prontos para manejo sustentável

Ambientebrasil.com.br
17 de Out de 2006

A comunidade de caiçaras da vila da Barra do Una, em Peruíbe (SP), se reuniu no último dia 13 para debater as possibilidades que o futuro mosaico de unidades de conservação da Juréia abrirá para o manejo da área. Localizada no litoral sul do estado, a vila é envolvida por um dos mais bem preservados remanescentes de Mata Atlântica do país.
Desde 1986, a região é protegida pela Estação Ecológica Juréia-Itatins, a segunda maior unidade de conservação do estado. A categoria de manejo, que não permite a presença humana, gerou um dos maiores conflitos socioambientais do estado. Depois de 20 anos de luta pela manutenção da vila e da cultura caiçara na região, a comunidade aguarda a votação do projeto de lei 613/04, que propõe a criação do mosaico de áreas protegidas da Juréia. Composto por oito unidades de conservação, o mosaico permitirá a preservação do patrimônio biológico e do conhecimento tradicional associado à biodiversidade da Mata Atlântica. O projeto propõe que a área da vila seja transforada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Barra do Una , sendo 302 hectares em terra e 2.951 hectares no mar.
Levantamento realizado junto às comunidades indicou que a área tem vocação para desenvolver atividades em três eixos articulados: pesca, ecoturismo e cultura. "A idéia é que os ecoturistas possam apreciar a culinária e a cultura caiçara, facilitando a distribuição de renda entre os moradores e resgatando a auto-estima da comunidade", explicou Plínio Melo, secretário executivo da Mongue – Proteção ao Sistema Costeiro, organização não governamental que realizou o evento, com o apoio da SABU - Sociedade Amigos da Barra do Una e o patrocínio da Petrobras.
Após uma breve apresentação dos temas por especialistas convidados, os moradores se organizaram em três grupos temáticos para debater e encaminhar propostas que poderão ser implementadas depois de aprovado o projeto de lei. Os resultados dos debates em grupo foram registrados em um vídeo-síntese, exibido em plenária para todos os participantes (veja o vídeo-síntese no site www.mongue.org.br).
O grupo de pesca apontou a necessidade de maior união entre os pescadores, da ampliação da área de manejo de pescado no rio Una e no mar, da implementação da fiscalização participativa e do estabelecimento de fiscalização do tamanho dos peixes.
O grupo de ecoturismo foi dividido em três sub-temas: infraestrutura, capacitação e calendário. A comunidade apontou a necessidade de reformas no comércio, campings e restaurantes, e da melhoria do saneamento básico para recepção dos ecoturistas e saúde dos moradores. A vila sofre com a contaminação por resíduos líquidos domésticos.
Os moradores esboçaram um calendário de festas para ampliar o período de visitação, que hoje dura em média 60 dias, na alta temporada de verão. Em princípio, planeja-se criar as festas da Banana, do Peixe e Junina, e consolidar as tradicionais festas da Tainha e Caiçara. A idéia do calendário inclui intercâmbio com outras comunidades para promover o conhecimento mútuo e o respeito entre as culturas. " O visitante de hoje tem que poder mostrar para o filho dele o que ele está vendo hoje aqui", comentou Luís Perequê, compositor de Parati (RJ), que conquistou os comunitários com a apresentação de um painel sobre cultura caiçara.
No eixo de cultura, os comunitários sugeriram a necessidade de capacitação para o resgate e fortalecimento do artesanato tradicional caiçara. Também seria preciso redirecionar o modelo de turismo, visando a valorização da cultura local, das festas, danças e da culinária.
Ao final do evento, o comunitário Edson dos Santos Carvalho, o Edinho, sintetizou o sentimento geral: "Eu quero saber se isso vai ficar na prática ou na teoria", provocou o caiçara, que é proprietário de um restaurante e uma pousada na vila da Barra do Una.
A implementação das propostas surgidas no evento depende agora da aprovação do projeto de lei pela Assembléia Legislativa Estadual. Até lá, os moradores deverão seguir o processo de mobilização e estabelecimento de diretrizes para o manejo da futura reserva de desenvolvimento sustentável. O processo na Juréia deverá subsidiar e fortalecer a consulta pública nacional sobre a proposta de regulamentação das reservas de desenvolvimento sustentável, em andamento, sob a coordenação da organização não-governamental WWF-Brasil.
No sábado, 14, os moradores celebraram a Festa Caiçara, animada pelo Grupo de Dança de Fandango de Cananéia (SP). Tanto o seminário quanto a festa foram registrados em vídeo pela Mongue e serão disponibilizados em DVD. (Ascom)
17/10/2006
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=27333

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