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Cai o uso de sementes certificadas

GM, Agribusiness, p.B13
30 de Set de 2004

Cai o uso de sementes certificadas
Com avanço do plantio ilegal de soja no Rio Grande do Sul, muitas empresas saíram do mercado. O plantio ilegal de transgênicos no País fez com que muitas indústrias de sementes entrassem em falência. No Rio Grande do Sul, onde há estimativas de que 90% do cultivo de soja é geneticamente modificado, metade das empresas do ramo fecharam nos últimos sete anos, quando começou o contrabando da Argentina. Segundo levantamento da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes (Abrasem), neste período caiu em mais de 25% o número de associados, indício de que muitos saíram do setor.
Além de reduzir a quantidade de sementeiras, o cultivo ilegal trouxe prejuízos financeiros, pois caiu o uso de sementes certificadas. Em 1997, a taxa de utilização de sementes fiscalizadas era de 85% para a soja. No último cultivo foi de 65%. Ou seja, com a quantidade não vendida, as indústrias perderam R$ 35 milhões na safra passada.
Outro dado preocupante é que, no último cultivo, não foi apenas a soja que registrou queda na taxa de utilização de sementes certificadas. Os números da Abrasem mostram que houve redução de 90% para 61% no índice de uso de sementes fiscalizadas de algodão. Isto pode indicar a ocorrência de algodão transgênico no País, como comprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os dados são contestados pela Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa).
Segundo o diretor-executivo, Décio Tocantins, não há correlação entre a diminuição e a ocorrência de transgênicos. Além disso, ele acrescenta que, com o programa de incentivo à cultura no estado, há a obrigatoriedade do uso de sementes fiscalizadas.
Até o último dia 10, segundo o ministério, foram coletadas 591 amostras em sete estados e suspensa a venda de 70 mil sacas de sementes em Mato Grosso. Fontes da Abrasem afirmam que certamente a área é maior que a encontrada. "Isso é preocupante, pois o algodão faz polinização cruzada e contamina outras lavouras", diz a fonte.
"Quanto maior a demora da entrada do plantio legalizado, pior vai ser a situação da indústria e da pesquisa nacional", avalia uma fonte da Abrasem. Segundo ele, o desenvolvimento de novas cultivares é financiado em parte pelo pagamento dos "royalites". "Para cada saca de semente certificada há uma ilegal - OGM ou pirata. Isso vai corroendo o mercado", avalia Ivo Carraro, diretor-executivo da Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec).
A maior dificuldade para a indústria sementeira no País ocorre no Rio Grande do Sul. Há sete anos, a Associação dos Produtores de Sementes do Rio Grande do Sul (Apassul) estimava que entre 65% e 75% das sementes de soja utilizadas no estado eram certificadas e, o restante, reproduzidas pelos produtores. Atualmente, os dados da Apassul se inverteram: apenas 10% das sementes são legalizadas e as demais, de origem não identificada, provavelmente transgênica.
"Os transgênicos ilegais afetaram a indústria sementeira no Rio Grande do Sul. Muitas empresas fecharam", diz Narciso Barison Neto, presidente da Apassul. Segundo ele, em sete anos, caiu pela metade o número de associados. De acordo com uma fonte da Abrasem, em virtude da pirataria, a indústria sementeira do estado sobrevive vendendo para outras regiões.
Em Goiás, terceiro maior produtor de soja em 2003, houve diminuição da procura por sementes certificadas e fiscalizadas, mas não existem dados precisos. Segundo o presidente da Associação Goiana de Produtores de Sementes e Mudas (Agrosem), Clodoaldo Calegari, a estimativa é de que 10% da área de soja no estado seja geneticamente modificada. "A tendência é de que, se não for liberado o plantio para 2005, pode ter quebradeira na indústria. O agricultor vai plantar, assim como no Sul", afirma Calegari.
No Paraná, onde o governo local tenta barrar o cultivo de transgênicos, a taxa de uso de sementes certificadas tem se mantido em 85%, segundo a Associação Paranaense de Produtores de Sementes e Mudas (Apasem). "Estamos sobrevivendo, mas se continuar o impasse político, estamos fadados à falência como no Rio Grande do Sul", diz Ronaldo Vendrame, presidente da Apasem.
Mas os transgênicos, quando legalizados, poderão ser a salvação da lavoura para essas indústrias que sobreviveram. Atualmente, de acordo com a Abrasem, existem cerca de 205 mil sacas (40 quilos) de sementes de soja geneticamente modificada. Se autorizado o plantio de transgênicos no Brasil ainda neste cultivo, esse produto poderia ser multiplicado e utilizado na safra 2005/06. Segundo Barison Neto, metade disso ficaria no Rio Grande do Sul e o volume seria suficiente para fazer com que 25% da safra nacional de soja fosse tolerante ao glifosato, desta vez, legalizada.
De acordo com dados do ministério, com base nas declarações dos produtores, o Brasil colheu 4,1 milhões de toneladas de soja geneticamente modificada, ou quase 8% do total da na safra 2003/04. Número contestado pela Abrasem. Na estimativa da associação, 35% do cultivo foi transgênico.
Barison Neto acredita que, mesmo mais cara que a semente contrabandeada, o produtor vai buscar o produto legalizado. "O agricultor vai cultivar um grão com origem e aclimatado ao Brasil, dando mais segurança ao plantio", avalia.
A maior parte dessas sementes, que esperam a autorização para a multiplicação, está nas mãos da Coodetec. Em 1997, a instituição firmou convênio com a Monsanto para o desenvolvimento de cultivares adaptadas ao Brasil. Com base na lei 10.814, do ano passado, foram produzidas as sementes básicas que agora dependem do registro definitivo para a multiplicação e, posteriormente, o uso comercial. As sementes foram produzidas nos estados de Goiás, Tocantins e Rio Grande do Sul e são adaptadas ao Centro-Sul do País.

GM, 30/09/2004, p. B13

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