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Cacique terena defende espaço igual para índios em cargos públicos

A Crítica -Manaus-AM
23 de Fev de 2001

O índio Marcos Terena, 46, natural de Mato Grosso, coordenador geral do departamento de Direitos Humanos da Funai, disse, em Manaus, que gostaria de ver índios nas secretarias de Educação, Cultura e Meio Ambiente da presidência da República, Estados e municípios.
Segundo Terena, é possível abrir um leque de negociação para colocar índios com condições intelectuais e tribais nesses órgãos. Marcos esteve em Manaus, na terça-feira da semana passada, participando da solenidade de oficialização da educação indígena no Estado.
A grande linguagem do Brasil neste novo milênio é reconhecer os 200 povos indígenas, que com suas tradições e cultura diversificadas têm também direito a ter acesso à internet, afirmou. Segundo Terena, apesar dos 500 anos do descobrimento do Brasil, ainda prevalece a cultura que determina a palavra índio como sinônimo de coisa errada, atraso e selvageria.
Nós queremos transformar esse termo índio em povos indígenas para mostrar que este foi um conceito criado com o raciocínio de que nós não tínhamos valor, que precisávamos chegar à civilização, argumentou Marcos, um dos precursores do movimento indígena no Brasil.
Na avaliação dele, o movimento indígena está mais organizado na Amazônia, porque alguns povos se organizaram e se credenciaram para as negociações com o homem branco. Agora, o próximo passo é conseguir ter representação política no futuro para influenciar nas decisões de Governo.Terena explica que só hoje os índios são capazes de questionar os valores dos brancos com relação a eles porque esses valores geraram preconceitos e discriminações que fizeram com que os índios tivessem vergonha de sua identidade. Para conseguir enxergar o mundo do branco, o líder disse que os índios tiveram que aprender a língua do branco, sem esquecer da sua nem deixar as suas tradições. Agora queremos educar o branco sobre essa nova concepção, garante.
A importância da educação indígena diferenciada é destacada por Marcos Terena com um exemplo simples, de uma aldeia do povo terena. Na escola do branco, tínhamos que contar 2 + 2, quando na língua terena não existe quatro. O número máximo que existe é três, disse ele. Nós, os índios, devemos aprender as coisas dos brancos e vice-versa, afirmou, apontando essa troca como fundamental no processo educacional.Terena adverte contra aqueles que vêem a escola indígena como privilégio, dizendo que ela deve ser vista como acréscimo ao processo educacional no País. Criar a escola indígena é fazer a transição entre uma cultura e outra, é um aprendendo a cultura do outro, admite.

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