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Cacique é ameaçado de morte por garimpeiros em Altamira (PA)

Amazônia.org.br-São Paulo-SP
Autor: Maurício Araújo
24 de Abr de 2002

O cacique Joaquim Curuaia, líder da Comunidade Indígena Curuaia, encaminhou esta semana um documento ao Ministério Público Federal, à Polícia Federal e ao Exército afirmando que vem sofrendo ameaças de morte desde a última semana. Ele credita as ameaças a um grupo de garimpeiros que vem atuado ilegalmente dentro do Território Indígena Curuá, no município de Altamira (PA).
A reportagem do Amazônia.org.br conversou com o cacique Curuaia sobre os motivos do conflito, a inoperância das autoridades e as possíveis conseqüências: "Quando voltar para a aldeia, esses caras vão querer me matar e vou ter que me defender."

Amazonia.org.br: Qual a origem deste conflito com os garimpeiros?
Joaquim Curuaia: Nós começamos a trabalhar para agilizar o processo de documentação da área de nosso território indígena. Começamos a trabalhar viajando, cobrando o andamento do processo junto à Funai e o grupo de garimpeiros acha que eu estou fazendo todo este movimento. A Funai é cobrada por mim, exigindo pressa e rapidez. Quando saiu a portaria no dia 28 de janeiro, identificando a área indígena, começaram as pressões.

Amazonia.org.br: E como se deram as ameaças?
Curuaia: No último dia 17 de abril, a enfermeira Eliane Pessoa do posto de saúde indígena da adeia Curuá, entregou-me uma carta contendo ameaças de morte. A carta não estava assinada mas outros moradores locais afirmaram terem ouvido de Antonio Mendes, o líder dos garimpeiros, a intenção de me matar.

Amazonia.org.br: Como os garimpeiros chegaram à região?
Curuaia: Em 1996 ocorreu a exploração e pesquisa mineral realizada por uma empresa canadense chamada Southern Anaconda Resourcer junto a uma empresa brasileira chamada Brasinor. Nesta mesma área instalaram-se, após a saída das empresas, um grupo de 12 garimpeiros ilegais. Após a desativação de uma área da Southern permaneceram na área em torno de 12 garimpeiros. Hoje há mais de 50 pessoas trabalhando na área e todo final de semana sai tiroteio - além do consumo de álcool e drogas. Os garimpeiros também têm derrubado mogno e diversas castanheiras.

Amazonia.org.br: E onde está localizada a área de garimpo?
Curuaia: Nosso território indígena tem uma área de 166.000 hectares - a aldeia está localizada na margem do Rio Curuá, no centro desta área. Os garimpeiros estão localizados a uma distancia de 12 quilômetros, dentro da Reserva, na outra margem do Rio - o que é a nossa sorte, pois se estivessem da mesma margem já teriam nos atacado.

Amazonia.org.br: As autoridades competentes já foram informadas desta situação de conflito iminente?
Curuaia: Já foram enviados documentos à Funai relatando o caso. A Funai afirma que já encaminhou à Polícia Federal de Santarém . Os policiais federais visitaram a área, tiraram fotografias mas não houve nenhum resultado, os garimpeiros continuam lá ilegalmente.

Amazonia.org.br: Por que a Funai e a PF não retiram os garimpeiros?
Curuaia: Sinceramente não sei. Parece que existe a necessidade de acontecer uma tragédia. Após os conflitos e mortes eles tomam alguma providência.

Amazonia.org.br: E as autoridades locais? O prefeito e a Polícia Militar do Estado?
Curuaia: Tentei uma audiência com o prefeito de Altamira (Domingos Juvenil - PMDB) mas ele está sempre ocupado e viajando. A Polícia Militar afirma não ter poderes para interferir neste caso. A Polícia Militar do Estado me deu um documento dizendo que se a Funai e a PF autorizassem, eles tirariam os garimpeiros da área no mesmo momento. Procuradores? É difícil entrar em contato - a gente conhece muito pouco.

Amazonia.org.br: Qual a sua expectativa em relação a esta questão? O que você acha que pode acontecer?
Curuaia: Não restam dúvidas de que haverá confronto. No momento em que voltarmos de barco para a vila, haverá (NR: o cacique está no momento em Altamira e aguarda o conserto do motor de seu barco para retornar). Esses caras vão querer me matar, não resta dúvida, vou ter que me defender, de que maneira? Usando armas de fogo!! E tudo isto poderia ser evitado - estamos pedindo pelo amor de deus e ninguém faz nada.

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