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Caça ao palmito juçara ameaça reservas de Mata Atlântica

OESP, Vida, p. A15
04 de Out de 2010

Caça ao palmito juçara ameaça reservas de Mata Atlântica
Quadrilhas desmatam áreas protegidas em busca das palmeiras e abrem trilhas para caçadores; produto é vendido para restaurantes

José Maria Tomazela

Em busca do palmito da palmeira juçara, quadrilhas de palmiteiros estão invadindo os parques estaduais Carlos Botelho, Intervales, Jurupará e do Alto Ribeira, as reservas de Mata Atlântica mais protegidas do Estado de São Paulo.
Além de cortar a palmeira, importante para a biodiversidade da floresta, eles abrem trilhas usadas por caçadores. Os próprios palmiteiros abatem para consumo espécimes de uma fauna fortemente ameaçada de extinção, que inclui animais como a anta e o mono-carvoeiro, e aves como o macuco e a jacutinga.
A Mata Atlântica é um dos biomas mais ameaçados do País. São Paulo detém a maior porção contínua dessa floresta, com 200 mil hectares, quase tudo no interior dos parques estaduais do Vale do Ribeira, sul do Estado. De janeiro a agosto deste ano, a 3ª Companhia de Policiamento Ambiental, com sede em Sorocaba, apreendeu 4.719 toras de palmito in natura ou pronto para o consumo.
Cada unidade corresponde a uma palmeira cortada. De acordo com o comandante, tenente Edson Moraes, mais de 90% foram extraídos dos parques estaduais, por uma razão simples: fora das reservas, a palmeira juçara está praticamente extinta.
Ele calcula que o material apreendido representa uma parcela mínima do que foi cortado. De acordo com o tenente, o total de apreensões este ano será maior que no ano passado. "É uma atividade que se mantém, apesar do aumento na fiscalização e no grau de dificuldade para encontrar o palmito."
A extração indiscriminada levou à escassez da palmeira e os palmiteiros têm de caminhar dois dias no interior da mata para chegar ao local do corte. "O grupo entra na mata na segunda-feira e sai na quarta ou na quinta", explica. O transporte das toras, mesmo com o auxílio de mulas, é um serviço extenuante. Os palmiteiros levam a carga para processar fora do parque, onde a legislação é menos rigorosa.
Em fabricas improvisadas, o palmito é cortado, colocado em vidros e cozido. "Fechamos fábricas que funcionavam em banheiros", diz Moraes. O produto é vendido para restaurantes, pizzarias e churrascarias. Cada feixe com cinco ou seis toras rende 10 kg de palmito que, no Vale, é vendido por R$ 10 o kg.
Em São Paulo, o produto chega custando R$ 25. A condição socioeconômica precária dos moradores da região favorece o esquema, segundo o policial. "A alternativa para eles seria trabalhar na lavoura de banana, ganhando R$ 10 por dia."
No que resta dos acampamentos, a polícia tem encontrado restos de animais e aves abatidos para consumo. Na maior parte das apreensões, o palmito foi interceptado em rodovias, no transporte para São Paulo.

OESP, 04/10/2010, Vida, p. A15

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101004/not_imp619843,0.php

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