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Brasil/Indígenas criticam ação da Funasa

Correio da Bahia
26 de Mai de 2008

Documento afirma que operações promovidas pelo governo não são adequadas para sanar epidemias na Amazônia

VALE DO JAVARI, AM - Entidades representativas dos povos indígenas do Amazonas criticam a ação desencadeada pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Vale do Javari para tentar conter o número de mortes entre os índios da região. Em carta assinada por várias entidades, eles acusam o governo de fazer uma ação para aparecer na mídia e não se preocupar em estruturar um sistema permanente de atendimento à saúde dos povos indígenas. "Não apoiamos e nem acreditamos que esse tipo de operação traga resultados. O que a Funasa faz é tentar encobrir os grandes problemas que existem no Vale do Javari com essa ação espalhafatosa", atacou o coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa Cabral.

A Funasa, em parceria com Exército, Marinha e Aeronáutica, iniciou há um mês uma megaoperação que vai durar 60 dias para vacinar os 3,6 mil índios já contatados que vivem no Vale do Javari e fazer uma ampla triagem epidemiológica da região para direcionar suas ações de saúde. Os índios da reserva apresentam altos índices de contaminação com malária e hepatite e taxas elevadas de mortalidade infantil.

Para Cabral, medidas emergenciais como esta "não atacam de forma concreta e estruturante as epidemias que assolam o Vale, como a da hepatite". O diretor do Departamento de Saúde Indígena (Desai) da Funasa, Wanderley Guenka, rebate. "Não existe epidemia no Vale do Javari e com esse amplo mapeamento de saúde poderemos atacar de forma mais eficaz o problema", disse Guenka.

Carta - Poucos dias antes do início da operação, o Conselho Indígena do Vale do Javari (Civaja) e outras quatro organizações de base elaboraram uma carta intitulada "SOS Javari". Segundo as entidades, formadas por índios, os povos da região "se encontram sofrendo e as mortes acontecendo silenciosamente sem que as autoridades se preocupem com tal situação que já se torna uma calamidade pública". "Nossas crianças e parentes morrem de hepatite A, B, C e D, tuberculose, meningite e tantos outros que não se conhecem, que nos últimos 17 anos já sofremos epidemias de cólera, coqueluche, malária tipo falciparum e vivax, e hoje o maior índice de doenças é hepatite, tuberculose bem como surgimento de meningite que levou dois adolescentes indígenas matis a óbito em dezembro de 2007", denuncia o documento.

A carta relata ainda que, no Vale do Javari, em média "os índios já tiveram dez a 15 casos de malária" e que muitos "sofrem de cirrose e até úlcera por ingerirem tanto medicamento e não têm mais resistência física para outras enfermidades".

As entidades apontam ainda a falta de um levantamento especifico e detalhado sobre o quadro de saúde dos índios do Javari e também a falta de profissionais fixos nas aldeias. Eles acusam as autoridades de não se preocuparem com as mortes que estão ocorrendo entre os índios da região. "Pelo visto, as autoridades responsáveis querem o extermínio definitivo dos nossos povos, por isso permanecem silenciosas, sem se manifestar sobre as mortes dos nossos parentes do Vale do Javari", diz a carta. "Ressaltamos ainda que as autoridades não tomarem as devidas providencias concretas e necessárias. O mundo assistirá à extinção dessa diversidade étnica e ficará na historia e lenda como aconteceu no passado com outros povos durante os 508 de colonização no Brasil", conclui.

Alternativa - O coordenador geral da Coiab afirma que o governo precisa tomar medidas que garantam a permanência de equipes dentro do Vale do Javari. Ele defende que unidades de saúde sejam efetivamente estruturadas, com equipamentos e materiais e que não haja mais rodízio de profissionais nessas áreas. A permanência desses profissionais nas aldeias também é uma cobrança dos próprios índios que ali vivem. O cacique geral dos índios marubos, Ivinimpapa (nome branco Alfredo), disse que muitos médicos que visitam a região chegam "descontentes" para trabalhar e partem na primeira oportunidade. Os marubos são a segunda maior etnia dentro do Javari. O diretor do Desai afirmou que a situação na região é crítica, mas que a operação servirá para um novo trabalho que resultará no controle dessas doenças entre os povos indígenas do Javari. (AE)

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