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Brasil vai à conferência do clima com 'más notícias', diz especialista

Valor Econômico, Brasil, p. A2
Autor: CHIARETTI, Daniela
27 de Out de 2016

Brasil vai à conferência do clima com 'más notícias', diz especialista

Daniela Chiaretti

O Brasil irá para a conferência de Marrakesh - a primeira grande reunião climática das Nações Unidas com o Acordo de Paris em vigor -, com duas más notícias e emitindo sinais trocados. As duas nuvens negras são o aumento do desmatamento na Amazônia e a seca extrema que avança pelo Nordeste indicando a vulnerabilidade do país à mudança climática. O maior sinal trocado depende da decisão de o presidente Michel Temer vetar ou não o artigo que pretende estimular o setor de carvão mineral no Sul, em medida aprovada pelo Congresso este mês.
Esta é a análise do ambientalista Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, rede de 41 organizações não-governamentais que trabalham com questões climáticas e políticas públicas no contexto brasileiro.
O desmatamento na Amazônia terá aumentado pelo segundo ano depois das quedas sucessivas entre 2009 e 2012. Embora o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) não tenha divulgado oficialmente os dados, números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que vazaram em setembro mostram que o desmatamento entre agosto de 2014 a julho de 2015 foi de 6.207/km2 ao ano. Isso significa um aumento de 24% em relação ao período anterior.
O aumento do desmatamento se reflete no crescimento das emissões de gases-estufa, mesmo com o país em recessão e queda de PIB (veja matéria nesta página). "As indicações é que o desmatamento está aumentando, e isso preocupa", diz Rittl, administrador com mestrado em biologia tropical.
A segunda má notícia é a seca, que ele interpreta como sinal de vulnerabilidade climática "quase sem precedentes". As previsões para o próximo ano são de possibilidade de racionamento de água em várias capitais do Nordeste, cita. "Isso parece notícia velha porque sabemos que o paciente está doente. Mas a situação está piorando."
A terceira possível má notícia é o artigo 20 que prevê a modernização do setor de carvão mineral no Sul e foi embutido na MP 735 que trata das privatizações do setor elétrico. Na semana passada, 21 ONGs enviaram carta a Temer para que ele vete o programa.
"O presidente Temer foi à reunião do G-20 e ouviu líderes mundiais falando de mudança do clima. Ratificou o Acordo de Paris tornando o Brasil a terceira grande economia a dar este passo, depois apenas dos EUA e China. Não é possível que não vete este artigo, que dá sobrevida a um combustível do século XIX e que sujará a matriz. Não existe carvão limpo."
Continua: "Não queremos demonizar quem depende do emprego deste setor. Mas é preciso investir na transição necessária e ver que o mundo está se livrando do carvão. Carvão é sujo, consome água, provoca aquecimento global, polui o ar. O que mais falta dizer para justificar que é uma decisão ultrapassada quando o Sul pode ter eólicas e solar?"
Em sua visão, o país dá sinais trocados com a série de pautas que estão no Congresso e que vão em direção oposta à agenda climática e ambiental - do licenciamento ao fato de o país ainda não ter assinado o Protocolo de Nagoya, que trata do acesso e repartição de benefícios aos recursos genéticos.
"Marrakesh, a chamada CoP-22, é importantíssima. Não pode ser entendida como uma reunião menor. Ela irá tirar o Acordo de Paris do papel", diz Rittl. "O Brasil tem que seguir com o protagonismo."

Valor Econômico, 27/10/2016, Brasil, p. A2

http://www.valor.com.br/brasil/4757467/brasil-vai-conferencia-do-clima-…

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