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Brasil usa escravidao no campo, diz estudo

OESP, Economia, p.B9
06 de Jan de 2006

Brasil usa escravidão no campo, diz estudo
Denúncia foi publicada ontem pelo jornal inglês 'Daily Telegraph'
João Caminoto
Um estudo que será publicado este ano no Reino Unido afirma que a carne bovina brasileira importada pelo país é "subsidiada" pelo trabalho escravo. O jornal Daily Telegraph noticiou ontem que o produtor rural britânico David Ismail recebeu uma bolsa de estudos da fundação Nuffield para visitar o Brasil e pesquisar as condições sociais na produção das "crescentes exportações de carne bovina brasileira, que estão prejudicando os preços internacionais", e teria confirmado uma denúncia que organizações internacionais vêm fazendo há algum tempo, de uso de trabalho escravo na pecuária brasileira.
Segundo o jornal, em áreas remotas onde a floresta está sendo derrubada para dar lugar a pastos, Ismail constatou relações entre trabalhadores sem-teto e empregadores "similares às piores cenas no apartheid".
O aumento das exportações de carne e frango para o Reino Unido e outros países europeus tem sido alvo de forte oposição. Os produtores dizem que a carne do País tem controle sanitário inadequado e deprime os preços. Nos últimos meses, houve protestos em mercados ingleses e irlandeses contra a carne brasileira.
ACORRENTADOS
Ismail afirma que trabalhadores brasileiros analfabetos, alojados em barracos, não tinham acesso assistência médica e às vezes eram acorrentados a árvores. Segundo ele, os trabalhadores rurais - a maioria do Nordeste - são levados para a região central do Brasil para cortar árvores com instrumentos rudimentares, não são pagos , são perseguidos, brutalizados e algumas vezes alvejados.
O Daily Telegraph cita que os trabalhadores são descritos no Brasil como escravos e que o Ministério do Trabalho já libertou 11.946 pessoas nessas condições de 2000 a 2004. O jornal observa que três dos principais Estados brasileiros produtores de carne bovina - Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná - estão com as exportações limitadas devido aos casos de febre aftosa no País.
Segundo o jornal, uma certa quantidade de carne bovina brasileira cozida ou congelada é importada e usada principalmente pela indústria de refeições industriais. O Reino Unido importou cerca de 17 mil toneladas de carne congelada brasileira em 2005.

E leviandade, reage ministério
Objetivo da notícia seria brecar as vendas brasileiras
Fabio Graner
O ministro da Agricultura em exercício, Luís Carlos Guedes Pinto, respondeu duramente às acusações reportadas pelo jornal britânico 'Daily Telegraph' de que o Brasil exporta carne a preços competitivos porque usa trabalho escravo nas propriedades rurais. "Considero leviana a acusação e a rechaçamos de forma veemente."
Para o ministro interino, notícias como essa são uma tentativa de brecar o forte aumento das exportações do agronegócio do País. "Por trás desse tipo de acusação está a ocupação cada vez maior nos mercados mundiais de produtos brasileiros, especialmente carne, da qual o País é o maior exportador."
Segundo Guedes Pinto, "não tema menor sustentação na realidade" a afirmação de que a carne brasileira seria barata pelo suposto uso de trabalho escravo. Ele lembrou que a região amazônica, à qual a reportagem faz referência, "não exporta um quilo sequer de carne". Os preços competitivos, disse, devem-se ao avanço tecnológico da produção nacional, às condições ambientais favoráveis e à competência dos produtores.
O ministro lembrou ainda que o boi brasileiro é criado em pasto, onde o risco de doenças como o mal da vaca louca inexiste, o que é valorizado no mercado internacional. "Esse conjunto de fatores fazem com que nossos concorrentes fiquem atemorizados. Oferecemos um produto barato e de qualidade."
O governo, acrescentou, está fazendo um trabalho duro de combate ao trabalho escravo, reconhecido internacionalmente. "O governo está atuando fortemente na repressão ao trabalho escravo. Isso não significa que eliminamos o problema, mas que ele existe em escala reduzida. Nosso esforço é para eliminá-lo, mas sem dúvida ele não existe em proporção que permita dizerque nossa carne é barata por usar esse tipo de mão-de-obra."
jogada
Para o presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas paulista, Edvar V. Queiroz, a notícia do Daily Telegraph é "uma jogada do produtor inglês para aumentar as vendas de seus produtos, que estão perdendo a concorrência para os brasileiros". A denúncia, diz ele, "não vai atrapalhar o desempenho das exportadoras brasileiras".
"É uma acusação antiga que sempre aparece quando o País ganha destaque", acrescentou Queiroz, cujo sindicato reúne as maiores empresas exportadoras de carne bovina do País.

OESP, 06/01/2006, p. B9

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