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Brasil melhora em desenvolvimento humano, mas ritmo da evolução cai

OESP, Vida, p. A17-A18
03 de Nov de 2011

Brasil melhora em desenvolvimento humano, mas ritmo da evolução cai

BRASÍLIA

O Brasil subiu uma colocação no Índice de Desenvolvimento Humano 2011. O relatório, divulgado ontem pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), mostra o País em 84.o entre 187 nações.
Nos últimos seis anos, o País subiu quatro posições no ranking, tendo sido classificado, em 2007, pela primeira vez, como Alto Desenvolvimento Humano. O avanço brasileiro, no entanto, está ficando mais lento. Resolvidos os grandes problemas, o País esbarra agora no mais difícil: não basta apenas a quantidade, é preciso resolver a qualidade.
Os dados apontam que, desde 2000, o Brasil avança 0,69% ao ano no IDH. Nas últimas três décadas, a evolução anual foi de 0,87%, uma média só inferior a outros seis países hoje classificados como de alto ou muito alto desenvolvimento humano. Entre 1980 e 1990, a melhora foi de quase 1% ao ano. (Embora o índice de IDH tenha sido criado nos anos 90, o PNUD recuperou dados das últimas três décadas para avaliar a evolução de cada país).
Essa queda na velocidade de avanço do IDH - uma tendência na maior parte dos países mais desenvolvidos - revela que quando o macro já foi feito, os detalhes que garantem a qualidade de vida da população ficam cada vez mais difíceis de resolver, são mais demorados e requerem mais investimento para alcançar os mais pobres entre os pobres.
Os números mostram que o Brasil tem hoje uma expectativa de escolaridade de 13,8 anos, superior a países de Alto Desenvolvimento Humano como Luxemburgo (25.o) e Catar (37.o). A escolaridade real, no entanto, é de apenas 7,2 anos, semelhante à de Gana.
Tarefa. A tradução desses números é que uma criança brasileira tem chances reais de completar o ensino médio e entrar em uma faculdade porque há oferta de vagas e o ensino básico brasileiro obrigatório é de 12 anos. Na prática, boa parte delas sai antes mesmo de terminar o ensino fundamental. Segurar esses meninos e meninas na escola, fazer com que aprendam é um dos maiores exemplos do trabalho difícil que País ainda não conseguiu fazer.
Ainda assim, os avanços sociais são o que levou o Brasil a melhorar seu IDH na última década. Descontada a renda per capita, o índice brasileiro chegaria a 0,748 e permitiria ao País estar 17 posições acima no ranking mundial. A expectativa de vida ao nascer - que pode ser considerada uma síntese de melhorias é a principal alavanca do IDH brasileiro. Entre 2000 e 2009, esse índice aumentou praticamente cinco anos, alcançando os 73,5 anos registrados no relatório.
Já a renda derrubaria o Brasil em sete posições, se apenas ela fosse usada para classificar os 187 países analisados pelo PNUD. Apesar de ter subido mais de 50% desde 1985, alcançando 10.162 dólares PPP (Paridade por Poder de Compra, medida internacional que permite comparar as diferentes moedas), é pouco mais de um quinto da renda per capita da Noruega, o número 1 do ranking. é inferior à da Turquia, com IDH semelhante ao brasileiro. E é essa renda, que permite a qualquer um decidir o que lhe falta e o que gostaria de ter, o maior desafio brasileiro nos próximos anos. / LISANDRA PARAGUASSU, LÍGIA FORMENTI e RAFAEL MORAES MOURA

'IDH das desigualdades' faria País despencar 13 posições
Índice paralelo criado pelo PNUD mostra que desigualdade social se mantém mesmo com redução da pobreza

BRASÍLIA

Apesar dos avanços, o Brasil continua sendo um país desigual. Se a forma como a distribuição de recursos acontece fosse levada em conta, o País perderia 13 posições na classificação feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) cairia de 0,718 para 0,519 - uma nota menor do que a apresentada por, exemplo, pelo Gabão (0,543) ou Mongólia (0,563).
A desigualdade se mantém mesmo com a diminuição no número de pobres registrada nos últimos anos no País e tão comentada pelo governo.
O relatório mostra que apenas 0,2% da população está dentro do que o PNUD considera "grave pobreza multidimensional" - os mais miseráveis entre os miseráveis, aqueles que, além da baixa ou nenhuma renda, não têm também acesso à educação, saúde, moradia de qualidade, água potável e nem conseguem ser alcançados por programas como o Bolsa-Família porque, muitas vezes, nem sequer existem formalmente para o Estado.
A "pobreza multidimensional" atinge menos de 400 mil pessoas no País. No entanto, o número de pessoas que sofre privações diversas, seja de renda, seja de outros aspectos que definem uma vida precária, é significativamente maior: 5,1 milhões.
Ainda assim, entre os países com situações de desenvolvimento semelhantes ao brasileiro, os denominados Brics - além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, o Brasil tem, juntamente com a Rússia, o menor número de pessoas em pobreza grave, apesar de possuir um índice maior de famílias vulneráveis.
O ajuste pela desigualdade é feito por um indicador aplicado desde o ano passado pelo PNUD, o IDHD. Essa análise considera, além da média de desenvolvimento, as diferenças nos indicadores de renda, educação e saúde entre a população. Quanto maior a desigualdade, maior o desconto.
Por isso, países mais pobres, mas menos desiguais, alcançam notas superiores à do Brasil. A lista vai além de Gabão e Mongólia: República da Moldávia (0,569), Uzbequistão (0,544) e Jordânia (0,565), todos classificados como de desenvolvimento humano médio, ultrapassam o IDHD brasileiro.
O mesmo acontece com a China, companheira do Brasil no Brics. Em 101.o lugar no IDH, a nota do país, quando observada a desigualdade, supera a nota brasileira e chega a 0,534.
Peso da renda. O fator que mais contribui para a queda do Brasil no ranking do IDHD é a renda da população.
O desconto da nota brasileira é de 40,7% nesse quesito. Em segundo lugar vem o índice de educação, com perda de 25,7%. A menor desigualdade é registrada na área de saúde. Nesse item, a perda provocada no ajuste é de 14,4%.
O que chama atenção é o porcentual da perda na nota da renda. O Brasil é o terceiro em desigualdade nesta área entre o bloco de países de desenvolvimento alto. O desconto aplicado ao País neste quesito do IDHD só é menor que o da Colômbia (que teve sua nota reduzida em 53,9%) e o da Venezuela (com desconto de 44,9%).
O desempenho brasileiro no IDHD ano passado não foi diferente. A pontuação brasileira também caiu por causa da desigualdade. E, assim como no índice divulgado ontem, a maior responsável foi a diferença na renda da população, seguida por educação e saúde. O padrão é observado em todo o bloco de países de desenvolvimento humano muito elevado e de desenvolvimento humano elevado: conjuntamente, a renda é o principal fator de desigualdade, seguido por educação e, por último, a saúde.
Entre países de desenvolvimento humano médio e desenvolvimento humano baixo, essa lógica não se repete: a maior desigualdade é encontrada na educação. / LIGIA FORMENTI, LISANDRA PARAGUASSU e RAFAEL MORAES MOURA

Brasileiro tem índice de satisfação de 1o Mundo
Em uma escala de 1 a 10, população do País deu nota 6,8 para sua vida, melhor que a de alemães e de países vizinhos

BRASÍLIA

Os brasileiros estão tão felizes com a sua vida quanto populações muito mais ricas, como os alemães, belgas e islandeses. Em uma escala de 1 a 10, a população do País deu nota 6,8 para sua vida, enquanto os alemães acreditam que seu dia a dia merece 6,7, os belgas e islandeses, 6,9, e os noruegueses - país com maior IDH no mundo -, 7,6.
Neste item, o brasileiro é mais feliz que os russos (que deram nota de 5,4 para sua vida), indianos (5,0), chineses (4,7) e sul-africanos (4,7) - países emergentes que formam os Brics. O brasileiro também demonstra mais satisfação com sua vida do que vizinhos sul-americanos, como chilenos (6,6), argentinos (6,4) e uruguaios (6,1) - países com IDH superior ao brasileiro.
Meio ambiente. Comparado aos 10 países com melhor IDH, o Brasil se mostra mais preocupado em geral com o aquecimento global (para 94,9%, o tema é grave, ante 43,7% da Noruega), reconhecem em maior grau que o aquecimento global é causado por ação humana (81,3%, contra 50,1% da Suécia), estão menos satisfeitos com as ações para preservar o meio ambiente (48,2%, inferior aos 66,1% dos Países Baixos), menos satisfeitos com a qualidade do ar (68,2%, abaixo dos 93,1% da Austrália) e menos satisfeitos com a qualidade da água (83,1%, ante 89% da Nova Zelândia).
"O brasileiro, em geral, está tendo acesso a muita informação do ponto de vista ambiental. Hoje você abre qualquer jornal, grande revista, não tem pelo menos uma página dedicada a esse assunto. Está na pauta", diz Gustavo Souto Maior, professor do núcleo de estudos ambientais da Universidade de Brasília (UnB).
O professor atribui a falta de engajamento a dois fatores: a cultura da população e a existência de outras prioridades. "Saúde, educação e segurança são temas considerados mais prioritários. A própria academia, as universidades e a UnB poderiam desempenhar um papel mais forte e incisivo. O brasileiro está mais preocupado com a Copa do Mundo, enquanto a Rio+20 está passando ao largo das discussões."
Governo. No Brasil, 29,6% da população está satisfeita com o governo quanto à redução de emissões - informação não disponível para 105 países dos 187 do ranking do PNUD, o que inviabiliza uma comparação mais apurada. Dentro dos Brics, é um índice superior ao da Rússia (9,4%), mas inferior ao de África do Sul (34,5%), China (33,4%) e Índia (41,6%)./ L.F, L.P. e R.M.M.

OESP, 03/11/2011, Vida, p. A17-A18

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