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Brasil lidera ranking mundial de assassinatos no campo em 2017

A tarde http://atarde.uol.com.br/
Autor: Erick Tedesco
24 de Jul de 2018

O Brasil é o país com o maior número de assassinatos em áreas rurais de 2017. Das 207 vítimas no mundo por supostos conflitos por terra, segundo levantamento divulgado nesta terça-feira, 24, pela organização internacional Global Witness, 57 morreram em território brasileiro. No topo do ranking, o Brasil aparece à frente de Filipinas (48), Colômbia (24), México (15), Congo (13), Índia (11), Peru (8) e mais 15 nações, que compõem o grupo de países que registraram de 5 a 1 assassinatos no campo em 2017.

Apesar de chamadas de ativistas pelo Global Witness, um termo que considera a atuação "pacífica" para proteger a propriedade, meio ambiente ou terreno que se encontra estabelecido, as vítimas listadas neste ranking também são sem-teto, trabalhadores rurais, pequenos posseiros e lideranças indígenas e quilombolas.

Os 57 assassinatos no Brasil indicados pela organização é, também, um recorde negativo se comparado a resultados anteriores levantados pelo Global Witness. Em 2016, foram 49 vítimas de conflitos no campo, enquanto em 2015 o número foi de 50, ante 29 em 2014.

"O mundo está mais perigoso do que nunca para os defensores da terra e do meio ambiente", enfatiza a organização na introdução do documento de 72 páginas, disponibilizado gratuitamente em PDF no site www.globalwitness.org. "Os dados que meticulosamente obtivemos e apresentamos neste relatório e os estudos de caso incluídos estão provavelmente bastante subestimados, devido à grande quantidade de desafios na identificação e na denúncia dos assassinatos. E mesmo assim, o relatório aponta que os riscos enfrentados diariamente pelos defensores continuam a crescer, e os governos e empresas têm questões sérias a responder", apontam.

Mortes no Brasil

Os números do Global Witness referente aos assassinatos no campo em 2017 no Brasil diferem do levantamento realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que aponta 71 mortes em nove estados (Alagoas, Amazonas, Bahia, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Rio Grande do Sul e Rondônia).

De acordo com a instituição ligada à Igreja Católica que acompanha os conflitos no campo, o Pará é o estado com mais assassinatos neste perímetro, com 22 ao longo do ano passado, cujas vítimas são apontadas como sem-terra, um assentado e lideranças quilombolas, entre 20 e 82 anos.

Oito dos assassinatos no Pará foram no município de Pau D'Arco, em 24 de maio do ano passado. O caso ganhou repercussão nacional como Massacre de Pau D'arco, que de acordo com o inquérito da Polícia Federal (PF), trabalhadores rurais foram assassinados por um grupo formado por 29 policiais do município de Redenção, 17 deles responsabilizados pela execução.

Outro caso negativamente emblemático no Pará foi a morte de dois idosos no Projeto de Assentamento Uxi, na cidade de Itupiranga, que completa um ano exatamente nesta quarta, 25. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, Manoel Índio Arruda (82 anos) e Maria da Lurdes Fernandes Silva (60 anos) há meses reclamavam junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e outros órgãos para denunciar a aquisição ilegal de parcelas nas proximidades do seu lote, alteração de limites de sua parcela e ameaças. O caso ainda continua sem solução.

Rondônia aparece no levantamento do CPT como o segundo estado brasileiro onde mais matam no campo. Foram 17 assassinatos no ano passado, a maioria deles de sem-teto. Vilhena e Machadinho do Oeste lideram a lista de municípios que mais concentraram estas mortes em 2017, com três cada uma.

Conflitos na Bahia

A Comissão Pastoral registrou quatro casos na Bahia, que resultaram em 10 assassinatos de quilombolas por conflitos de terra no estado em 2017. De acordo com a instituição, todos os casos ocorreram no segundo semestre do ano passado e a morte de José Raimundo Mota de Souza Júnior, de 38 anos, na comunidade quilombola de Jiboia, no município de Antônio Gonçalves foi a primeira. Também foram apuradas uma morte em Simões Filho, na comunidade quilombola Pitanga dos Palmares, e outra no assentamento Cruz do Ouro, em Itamaraju.

As demais sete mortes na zona rural da Bahia são referentes ao caso de agosto passado na comunidade quilombola de Iúna, em Lençóis, onde trabalhadores rurais de 20 a 51 anos foram mortos a tiros. Segundo a investigação da polícia, no entanto, as mortes não têm relação com disputa agrária.

O A TARDE contatou a Comissão Pastoral da Terra para analisar os dados tanto da própria instituição quanto ao do ranking da Global Witness, mas não retornou o contato até a publicação desta reportagem.

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