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Brasil EcoDiesel na momona

GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B14
26 de Mai de 2004

Brasil EcoDiesel aposta na produção de mamona
Canto do Buriti (PI), 26 de Maio de 2004 - A empresa está assentando agricultores para produzir mamona em grande escala no semi-árido nordestino. Casa, escola, cesta básica, posto de saúde, energia elétrica, centro comunitário e 18 hectares de terra para cada família de agricultor. Esta é a estrutura montada pela Brasil EcoDiesel para produzir mamona em grande escala no Piauí, região do semi-árido nordestino, onde conseguir um emprego é uma raridade. De fácil cultivo e resistente à seca, a mamona requer pouca água e terras altas, condições encontradas nas áreas mais estéreis do semi-árido e onde predominam os piores indicadores sociais.
Projetado para abrigar 560 famílias, o primeiro núcleo de produção instalado no município de Canto do Buriti, a 500 quilômetros de Teresina, já conta com 210 famílias assentadas que, desde janeiro, estão plantando mamona, feijão e hortaliças e recebendo um salário mensal de R$ 250. O repasse do dinheiro vale até a colheita da primeira safra, prevista para junho, e está vinculado à manutenção das crianças na escola. Outras 140 famílias serão assentadas em abril e até o final do ano o núcleo estará totalmente ocupado.
Agrovila
O movimento dentro das células de produção - agrovila com 35 casas - é incessante. Os homens cuidam da lavoura, as mulheres cuidam das hortas e as crianças vão diariamente para a escola a bordo de ônibus escolares que percorrem as sete células em funcionamento. Nas nove células ainda em construção (serão 16 no total), muita movimentação de tratores e caminhões pipa, arando e semeando a terra.
Equipada com biblioteca, laboratório e 30 salas de aula, sendo cinco de informática, a escola já tem 300 alunos e funciona em três turnos - manhã/tarde/noite - com horário integral (de 8 às 17 horas) três vezes por semana. De dia, ensino fundamental completo, do pré-primário à oitava série. O turno noturno é destinado à alfabetização de adultos e adolescentes maiores de 16 anos que estão atrasados nos estudos. É o horário do AJA (Alfabetização de Jovens e Adultos).
As crianças adoram: "estou até aprendendo a mexer com computador", vibra Cristina de Almeida Silva, de dez anos. E os professores também: "A estrutura, o material didático e o salário são melhores que os da rede estadual de ensino", confessa o professor Eudinaldo, um dos 18 profissionais contratados pela Brasil EcoDiesel.
Com as crianças na escola, os pais podem se dedicar ao cultivo da terra com a certeza de que seus filhos estão sendo educados e aprendendo o que eles não tiveram a oportunidade de aprender. "É muito bom trabalhar sabendo que nossos filhos estão na escola. Assim fica mais fácil cuidar da terra", afirma Lázaro Pereira da Silva, 28 anos, pai de três filhos em idade escolar.
Realizar o sonho da casa e da terra próprias está atraindo os agricultores. Em poucos meses, a empresa já cadastrou mais de 1200 famílias. A área de 18 mil hectares que abriga o projeto foi cedida em comodato pelo governo do Estado, mas após 10 anos as famílias receberão o título de propriedade da terra. Os mais otimistas já falam até em ampliar a casa e trazer parentes e agregados para aumentar a força de trabalho familiar. "Se tudo der certo, vou trazer alguns parentes para morar aqui", afirma Edmilson dos Santos, ignorando que, neste caso, aumentar a família significa dividir o ganho da produção com mais pessoas.
As mulheres não trabalham na lavoura. Sua tarefa dentro da comunidade é cuidar da horta e do lixo doméstico, que será transformado em fertilizante orgânico. Segundo a chefe de produção agrícola do núcleo, Ulda Peterson, além de diversas leguminosas, a horta terá ervas medicinais e aromáticas que serão produzidas e comercializadas pela própria comunidade. "Eles também vão plantar melancia, milho doce e melão nas áreas de plantio livre de cada família".
O óleo extraído das sementes de mamona possui mercados doméstico e internacional crescentes. Além do biodiesel, ele é utilizado como matéria-prima em mais de 700 aplicações, inclusive o uso medicinal, produção de cosméticos e substituição do petróleo na fabricação de plásticos e lubrificantes. A mamona também é usada na produção de fibra ótica, vidro a prova de balas e próteses ósseas.
Durante décadas, o Brasil foi o maior produtor e exportador mundial de óleo de mamona. A cultura foi esquecida nos anos 90 e hoje o País ocupa o terceiro lugar, superado por Índia e China. O programa Nacional de Biodiesel do governo federal pode ressuscitar a cultura da mamona e abrir uma grande oportunidade de geração de emprego e renda em zonas áridas e empobrecidas como o nordeste brasileiro.
Somente a Brasil EcoDiesel pretende implantar outros 20 núcleos na região Nordeste. Até o final de 2005, a meta é instalar mais cinco projetos semelhantes, sendo três no Piauí e dois no Ceará. No passado, o Piauí já foi um dos maiores produtores de mamona do nordeste e atualmente já conta com cerca de 70 mil hectares plantados.
Na agrovila, o trabalho na lavoura é pesado. Dos 18 hectares, 15 são destinados ao plantio consorciado de mamona e feijão e três hectares são reservados para outras culturas de subsistência, como milho e mandioca ou até mesmo para a criação de aves e produção de ovos. Cada família dita seu próprio ritmo de trabalho: ganha mais quem produzir mais.
A Brasil EcoDiesel semeou metade dos 15 hectares de terra de cada agricultor para o plantio da mamona e garante a compra de toda a produção gerada na lavoura. A primeira safra de mamona está cotada em R$ 0,36 o quilo, o que projeta um rendimento líquido superior a R$ 350,00 considerando uma produtividade de 1,5 tonelada por hectare, sem considerar a produção de feijão. Cada célula de produção terá o plantio escalonado, de forma a facilitar a colheita e a rotação de culturas. Mas a previsão de 1,5 tonelada por hectare dificilmente será alcançada logo na primeira safra. Mesmo com a assistência fornecida por dez técnicos agrícolas, muitas famílias instaladas no núcleo nunca cultivaram mamona e já admitem um rendimento bem menor: "Se colher uma tonelada por hectare já está muito bom. Mas tenho certeza que a próxima safra será muito melhor", comenta o agricultor Jeremias Brandão. Ele confessa que está tendo uma "pouco de dificuldade" para trabalhar com a mamona.
Padrão de qualidade
Os primeiros 7,5 hectares foram semeados de graça, mas a partir da próxima safra as sementes serão vendidas pela própria empresa para manter o padrão de qualidade e de produtividade das lavouras. Os pequenos agricultores do núcleo terão acesso a todas as linhas de crédito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e poderão acessar os programas de financiamento para custeio e investimento com taxas de juros mais baixas e condições especiais de pagamento. O Ministério do Desenvolvimento Agrário também oferecerá apoio técnico para que os agricultores possam diversificar suas produções nos três hectares de plantio livre.
O contrato dos assentados com a Brasil EcoDisesel prevê a incorporação de pelo menos um hectare por ano até alcançar os 15 hectares de cada lavoura. Mas já tem agricultor pensando em antecipar a meta e ampliar a área plantada na próxima safra. "Se a roça render vou plantar mais três hectares. Quero melhorar de vida plantando mamona". Pai de dois filhos, José de Arimatéia Silva é um dos agricultores do MST que ocuparam a área em 1995 e que agora estão participando do projeto mamona: "Vou trabalhar duro para a mamona vingar". A estimativa de rendimento mensal para 15 hectares plantados é de R$ 700 por família.
kicker: As crianças estudam enquanto os adultos cuidam da lavoura
kicker2: A tarefa das mulheres é cuidar da horta e do lixo doméstico

GM, 26/05/2004, p. B14

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