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Brasil e Chile selam aliança em biocombustíveis

OESP, Economia, p. B6
27 de Abr de 2007

Brasil e Chile selam aliança em biocombustíveis
Acordo assinado entre Lula e Bachelet prevê que chilenos terão acesso à tecnologia brasileira

Rolf Kuntz, SANTIAGO

Um ambicioso plano de cooperação energética foi estabelecido ontem pelos governos chileno e brasileiro, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a esta capital. Os dois presidentes assinaram um memorando de entendimento sobre um plano de ação para pesquisa, desenvolvimento e produção de biocombustíveis.

A Petrobrás e a Enap, empresa chilena do setor de petróleo e gás, formalizaram acordo para participação conjunta em projetos relacionados a biocombustíveis, ao gás natural liquefeito e à exploração da Plataforma Pacífica, Os dois projetos de cooperação surgem num momento em que o Chile se defronta com a ameaça de escassez de energia para manter o crescimento econômico. De imediato, o principal risco é a redução do fornecimento de gás pela Argentina.

O programa de ação para o setor de etanol e biodiesel envolve três linhas de ação: 1) promover projetos binacionais de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis; 2) promover missões empresariais para troca de experiências e identificação de oportunidades de negócios; 3) elaborar projetos de cooperação para os anos 2008 e 2009, com base nas informações produzidas pelas missões.

O memorando de entendimento entre Petrobrás e Enap é amplo, mas o esforço principal deve ser voltado, a curto prazo, para o abastecimento das centrais de processamento de gás liquefeito de petróleo em construção junto ao terminal marítimo de Quintero, ao norte de Santiago.

A formalização desses compromissos é parte de um amplo projeto brasileiro de promoção internacional do uso de biocombustíveis. Em várias cerimônias, ontem, Lula falou sobre os benefícios ambientais e sociais do uso do etanol e do biodiesel. Sua campanha envolve, também, a contestação das críticas ao programa de biocombustíveis como nocivo à produção de alimentos. A posição do Brasil foi reforçada, ontem, pela divulgação de um estudo da FAO, o organismo da ONU para a alimentação e a agricultura.

RISCO DE APAGÃO

O governo do Chile, a economia mais próspera e mais estável da América do Sul, está batalhando para evitar o risco de um apagão. Sua estratégia inclui a busca de novas fontes de energia, para reduzir, entre outros problemas, a dependência do gás importado da Argentina.

O uso do etanol e do biodiesel pode ser parte da solução. Isso explica a boa receptividade à posposta brasileira de cooperação para a produção e o suprimento de biocombustíveis. A visita do presidente Lula a Santiago dificilmente poderia ser mais oportuna.

O Chile importa mais de 70% de sua energia primária, fornecida pelo gás, pelo petróleo e pelo carvão. No caso do gás e do petróleo, a dependência da importação chega a 90%. O consumo de energia tem crescido em média 7% ao ano e as projeções de longo prazo indicam expansão anual de 5% a 6%. A Argentina, única exportadora de gás para o país, começou a cortar o fornecimento em 2004, por causa das necessidades internas.

O Chile chegou a comprar em média 18 milhões de metros cúbicos diários de gás na época de maior suprimento. Ultimamente o volume tem ficado em torno de 3 milhões de metros cúbicos. Parte da solução será importar gás liquefeito, provavelmente da África. O recurso ao gás boliviano, pelo menos por enquanto, está fora de consideração, segundo as fontes oficiais, mas já se falou da compra de produto peruano.

Ao mesmo tempo, o governo tenta garantir a oferta de eletricidade baseada no potencial hidráulico e noutras fontes de energia térmica. Uma grande licitação foi feita no ano passado - todo o setor elétrico é privado - e já se desenham planos para obras até 2018. Além disso, o governo tenta estimular o investimento em fontes não convencionais e menos prejudiciais ao ambiente. O biocombustível pode entrar nesse esquema.

A visita do presidente Lula ao Chile é parte da grande equação energética sul-americana. Essa equação está particularmente complicada neste momento. A Venezuela continua voltada aos mercados do norte, a começar pelos Estados Unidos. O outro grande produtor de gás, a Bolívia, é hoje um parceiro difícil e incerto. O governo argentino estimulou o aumento de consumo interno, subsidiando o gás, mas ao mesmo tempo desencorajou o investimento na produção, ao intervir na fixação de preços. Tudo isso ocorreu numa fase de aceleração do crescimento na Argentina. O corte do fornecimento ao Chile é conseqüência dessa política.

Mercosul pode ter moeda única em 4 anos, diz Lula

Marina Guimarães

Em dia de extensa agenda em Santiago, que será finalizada com o embarque para Buenos Aires, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi destaque nos principais jornais do Chile e da Argentina. Em entrevista aos três correspondentes argentinos e dois chilenos, concedida ainda no Palácio do Planalto, o presidente defendeu a moeda única para o Mercosul, assim como um Banco Central do bloco. "Trabalho com a idéia de que possamos construir nos próximos quatro anos uma moeda única no Mercosul. Devemos chegar a um Banco Central", destacou o chileno 'El Mercurio'.

O economista Fábio Giambiagi, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), não acredita em proposta concreta para criação de uma moeda única do Mercosul. "Não me parece que isto esteja em pauta. Eu nem perderia muito tempo com elucubrações acerca disso", desconversou o pesquisador.

Para ele, a proposta deve estar mais restrita a operações comerciais, não a um modelo semelhante ao adotado na economia européia, com a instituição do euro como moeda única.

OESP, 27/04/2007, Economia, p. B6

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