Brasil deve apostar no ecoturismo

Brasil deve apostar no ecoturismo

Benedito Dias

Podemos crer que o Brasil tem tudo para tornar-se destino ecoturístico mundial - basta analisar sua dimensão continental e diversidade ambiental, cultural e inúmeros outros atrativos. Mas, para isso, precisamos de um turismo especializado e, claro, não é caso para amadores ou oportunistas.
Assim, é de vital importância que o desenvolvimento de destinos e dos pólos ecoturísticos seja precedido de uma análise ambiental, com eventuais adequações. E, aos poucos, vamos descobrindo o enorme potencial do ecoturismo como alternativa de conservação e também como fonte de renda.
Isso porque é um segmento de atividade turística que consegue utilizar, de forma sustentável, o patrimônio cultural e natural, incentivando sua conservação e buscando a formação de uma consciência ambiental, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. Hoje, podemos dizer que esse tipo de turismo tornou-se uma tendência mundial - em pleno processo de globalização, a preocupação com o meio ambiente é generalizada.
O ecoturismo já representa mais de 5% do turismo mundial. Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), enquanto o turismo registra um crescimento de 7,5% ao ano, o ecoturismo ultrapassa a casa dos 20%. Atualmente, este segmento não se resume apenas a uma atividade alternativa dos amantes do meio ambiente, pois transformou-se na indústria que mais cresce no mundo.
Portanto, com investimentos corretos e projetos sustentáveis, essa atividade econômica poderá crescer cada vez mais, promovendo a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas - e, o que é melhor, sem agredir a natureza.
O adepto do ecoturismo tem um perfil próprio: é um viajante que busca experiências reais e autênticas. Muito bem informado, tem um elevado nível de consciência ambiental e social e seus destinos favoritos são as florestas tropicais e lugares de fauna e flora preservados. Sua idade varia entre 30 e 50 anos e, habitualmente, viaja em pequenos grupos.
Deixando o amadorismo de lado, já existem vários programas para o desenvolvimento do ecoturismo no Brasil. Um exemplo é o Proecotur, um programa para o desenvolvimento do ecoturismo na Amazônia Legal, que tem como meta viabilizar o desenvolvimento deste segmento na região amazônica brasileira, onde se estabelece a base de investimentos públicos necessários para a atração de investidores privados.
A biodiversidade é a grande riqueza nacional e o Brasil é considerado a maior reserva hidrológica do mundo. Só a Amazônia, com sua floresta e rios, recebe milhares de turistas nacionais e estrangeiros anualmente, que buscam desvendar os mistérios e belezas da fauna e flora nativas. Ecologicamente temos áreas territoriais relevantes e, seguramente, fontes de recursos turísticos criadores de emprego e renda.
Nove Estados da Amazônia (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) poderão administrar suas áreas selecionadas para o ecoturismo de forma responsável e adequada, com planejamento, assistência técnica e capacitação.
O Amapá é considerado um modelo de desenvolvimento economicamente viável e tem uma situação única entre todos os Estados da Amazônia, pois somente 1% de sua área de quase 150 quilômetros quadrados foi desmatada. Assim, a floresta de mata firme, que ocupa 70% do território, conserva sua biodiversidade praticamente intacta. E, devido à localização privilegiada, no extremo norte do Brasil, possui diferentes ecossistemas, com características amazônica, guianense e oceânica. O resultado são paisagens bem distintas, como planície, campos inundáveis, mangues, cerrados e florestas virgens.
Há, ainda, oficinas de capacitação em ecoturismo, intercâmbio em ecoturismo Brasil-Venezuela - ambos têm como parceiro o BIOMA Educação e Assessoria Ambiental, centros de eco-desenvolvimento regionais, com da parceria Rede Brasileira Agroflorestal (Rebraf), programa piloto de ecoturismo em áreas indígenas, entre muitos outros.
Aumentar a qualidade do turismo em nosso País é uma das metas de crescimento e desenvolvimento. Portanto, é de vital importância a execução de ações que apresentem resultados mais eficientes em toda sua estrutura. Com toda a sua biodiversidade e extensão territorial, o Brasil tem tudo para tornar-se um destino ecoturístico mundial.
Capacitar nossa força de trabalho, focando sempre a melhoria de serviços, investir em planejamentos ordenados e estratégicos, criar diferenciais que tornem o Brasil ainda mais atrativo do que já é, exigem um trabalho conjunto, cujo objetivo final é o de criar empregos e dar exemplos para uma política mais consciente, produtiva e justa.

OESP, 08/06/2004, Viagem, p. V2