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Brasil, Colombia e Peru contra as Farc

JB, p.A3
12 de Fev de 2004

Brasil, Colômbia e Peru contra as Farc
Governos dos três países anunciaram operações coordenadas contra o terrorismo e o tráfico de drogas

Hugo Marques
TABATINGA, AM - Os governos do Brasil, da Colômbia e do Peru vão realizar operações fluviais coordenadas contra o terrorismo e o narcotráfico, com a utilização dos efetivos da Marinha dos três países e da Polícia Federal. Um dos principais alvos do memorando assinado ontem são as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que já montaram acampamentos a poucos quilômetros da fronteira com o Brasil.
Para assinar o acordo, foi escolhida a fronteira dos três países nas águas turvas do Rio Solimões, de onde é possível avistar as cidades de Tabatinga, Leticia, na Colômbia, e Santa Rosa, no Peru. A bordo do Navio Patrulha Fluvial Pedro Teixeira, os ministros da Defesa dos três países anunciaram uma série de ações para fortalecer a segurança na fronteira. O ministro José Viegas Filho - que já vinha alertando as Farc para a contra-ofensiva das forças armadas em caso de invasão do território brasileiro - elevou os guerrilheiros à condição de terroristas.
- Ninguém pode ter dúvidas de que atos terroristas foram praticados em território colombiano. Todas as investigações feitas apontam no sentido da autoria por parte das Farc - disse Viegas Filho.
O ministro afirmou que o Brasil não tem uma lista com os nomes de organizações e pessoas envolvidas com o terrorismo. Reafirmou, no entanto, que não se questiona mais o tipo de ação promovido pelas Farc.
- Não temos dúvidas quanto ao aspecto deletério das ações terroristas que são praticadas na Colômbia e contra elas nós afirmamos nossa clara oposição - disse.
Para fortalecer a presença do Exército na fronteira com a Colômbia, o governo vai criar uma brigada militar em São Gabriel da Cachoeira, com 2,5 mil homens. Viegas Filho anunciou um ''adensamento'' progressivo do Exército na região, com a instalação de mais pelotões de fronteira. A Marinha também vai ganhar mais efetivos na luta contra o crime organizado, mas para isso o ministro aguarda liberação de dinheiro.
Do lado colombiano, o ministro da Defesa, Jorge Alberto Uribe Echavarría, anunciou a criação de um pelotão com mil homens na região de Leticia. Para o ministro colombiano, as Farc representam um perigo para todos os países, inclusive o Brasil. O ministro não vai se opor a uma possível participação de qualquer país na negociação da paz entre as Farc e o governo de Álvaro Uribe. Reafirmou a disposição do governo em negociar com os guerrilheiro, mas até lá promete não dar trégua.
- Quem disser que as Farc não são terroristas está cego. Quem coloca 300 quilos de dinamite num burro e explode, ferindo crianças, é terrorista - disse Echavarría.
Por trás do acordo assinado ontem, está um grande projeto do governo brasileiro em aumentar a integração sul-americana na área de defesa, o que no futuro poderia crescer para uma força-multilateral, admite Echavarría. O ministro da Defesa do Peru, Roberto Chiabra León, afirmou que os governos só podem combater o crime organizado se atuarem de forma organizada.
Echavarría afirmou que o crime organizado na Colômbia tornou-se ''multinacional''. Prova disso, segundo ele, foi a prisão, em território colombiano, do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, viajou para Tabatinga acompanhado do diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para demonstrar a importância do acordo na luta contra o crime organizado.
Durante a assinatura do convênio, Viegas Filho falou sobre os R$ 143 milhões liberados para a área de Defesa. É dinheiro para modernizar os aviões F-5 e os AM-X. Também será modernizado um avião de treinamento Supertucano. O ministro espera a liberação de mais de R$ 100 milhões para a retomada do Programa Espacial Brasileiro, com a reconstrução da estação de lançamento de foguetes da Base de Alcântara (MA).
Os ministros da Defesa prosseguiram ontem com reuniões para continuar acertando a participação da Colômbia e do Peru no Projeto Sivam. O Brasil também espera definição da lei de abate de aviões do Peru para regulamentar o tema. O ministro peruano Chiabra León também depende dos Estados Unidos, onde a legislação impõe sanções aos países que não garantem a segurança da aviação civil.
JB, 12/02/2004, p.A3.

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