VOLTAR

BR-163 trava e afeta escoamento no Norte

Valor Econômico, Agronegócios, p. B16
16 de Fev de 2017

Frete para transporte de soja começa a reagir

Por Fernanda Pressinott

A colheita de soja desta safra 2016/17 ganhou ritmo e, com isso, começou a aumentar a necessidade de agilizar o escoamento do grão rumo aos portos para honrar os contratos de exportação e abrir espaço nos silos para os volumes que ainda estão por vir. E esse corre-corre, normal para esta época do ano, já se reflete nos valores dos fretes, que nas últimas semanas registraram fortes altas. Para tradings e agricultores, a boa notícia é que, por enquanto, os preços em geral estão mais baixos, em termos reais, que no início de 2016 - o que tem gerado, em contrapartida, preocupação entre as transportadoras.
Levantamento realizado pelo grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog) mostra que, na primeira semana de fevereiro, o reajuste médio dos fretes nas rotas de grãos foi de 20% em relação à semana anterior. Na comparação com igual período do ano passado, porém, a correção nominal não passou de 3%. M0 fato é que nunca tivemos valores tão baixos como em novembro e dezembro, por falta de produto para escoar. Em janeiro, houve estabilidade. Agora, o reajuste sequer recompõe a inflação do ano", diz Samuel da Silva Neto, economista e pesquisador da EsalqLog.
O ciclo 2015/16 foi marcado por uma grande expectativa acerca da produção nacional de soja e milho, frustrada por problemas climáticos No segundo semestre, a forte redução da colheita de milho safrinha fez o transporte do cereal se concentrar no mercado interno, em rotas mais curtas e, portanto, com fretes menores. Daí os baixos valores no fim do ano destacados por Silva Neto.
Nesta semana, o frete do transporte de soja de Sinop, no norte de Mato Grosso, ao porto de Santos, no litoral de São Paulo, está saindo, em média, por R$ 305 a tonelada, aumento de 17% ante os R$ 260 cobrados na última semana de janeiro. Mas, na comparação com a segunda semana de fevereiro de 2016, a elevação é de 3,2%. De Nova Mutum, município um pouco mais ao sul de Sinop, até Santos, o valor atual é de R$ 295, 23,7% mais que no fim do mês passado - e exatamente o mesmo preço de fevereiro de 2016.
Dentro do Estado de Mato Grosso, onde a colheita está mais intensa, o comportamento de preços é semelhante. De Sinop ao terminal de escoamento de Rondonópolis, onde fica o início da ferrovia que leva os grãos aos portos do Sudeste, o frete está em R$ 132 por tonelada atualmente, ante R$ 109,06 na última semana de janeiro e R$ 128,60 em fevereiro de 2016. "No ano passado, os preços de janeiro
estavam muito elevados porque, além da soja, estávamos escoando a safra de milho de inverno [colhida no segundo semestre de 2015], que havia sido enorme. Neste ano, tudo está ao contrário", lembra Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Conforme a Esalqlog, a tendência é que a escalada das últimas semanas tenha prosseguimento nas próximas, já que o volume de soja colhida continuará a crescer. E, no início do segundo trimestre, as entregas de açúcar para exportação também começarão a ganhar envergadura, o que poderá ampliar a pressão de alta. "A janela de exportação da soja e do açúcar está cada vez mais próxima e, com isso, há menos oferta de caminhões", afirma Silva Neto.
As transportadoras mal podem esperar. Pesquisa realizada em janeiro pela Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NT&C) em parceria com a Agência Nacional de Transportes (ANTT) apontou que 82% das companhias de transporte registraram queda no faturamento no ano passado. No caso das empresas de lotação, o percentual chegou a 87%. Na média, a queda no faturamento foi de 19,1%.
Paralelamente, os custos subiram, puxados sobretudo pelos salários, que aumentaram 8,7% em 12 meses, mas também pelo reajuste de combustíveis (4,3%), despesas administrativas (9,2%), manutenção (6,696) e lavagem (8,4%). Também são citados na pesquisa o aumento dos gastos com segurança e a menor demanda por transporte em geral diante da crise econômica.
"O fato é que o frete rodoviário está defasado em 24,8% na carga de lotação (transporte de grãos) e 8% na carga fracionada. Não dá para trabalhar", reclama Neuto Gonçalves dos Reis, diretor da NT&C. Afrânio Kieling, presidente do Sindicato de transportes de cargas e logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), reforça que, se os fretes não subirem, a atividade ficará inviável. Ele calcula que um aumento adicional de 1296 sobre os preços praticados em fevereiro de 2016 ainda deverá ser aplicado no país.
"Não vamos falar em ganho real, porque esse já não conseguimos faz tempo. Mas precisamos recompor os custos para continuar trabalhando", diz ele.
Kieling afirma que, apesar desse cenário de crise, o sindicato e as empresas do segmento não consideram realizar greves no país no curto prazo. As paralisações pontuais que aconteceram em janeiro, diz, foram deflagradas por alguns caminhoneiros autônomos, que raramente têm poder para organizar mobilizações nacionais.

BR-163 trava e afeta escoamento no Norte

Fernanda Pressinott e Bettina Barros

Se os portos do Arco Norte tendem a ganhar participação no escoamento da produção de soja neste ano, como mostrou recente estudo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o frete para Santarém e Barcarena, no Pará, e em Itaqui, no Maranhão, continua um entrave. Levantamento do grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog) aponta que o custo médio para levar grãos a esses portos é R$ 40 por tonelada maior que para outros destinos com distância semelhante.
De Sinop, em Mato Grosso, até Alto Araguaia, no mesmo Estado, são percorridos quase 900 quilômetros ao custo médio de R$ 131,37 a tonelada no fim de janeiro. De Sinop a Itaituba, no Pará, com 999 quilômetros percorridos, o valor cobrado é de R$ 175,72. "O problema é que faltam 100 quilômetros de asfalto na BR-163, o que dificulta o transporte, desgasta o caminhão e atrasa o trajeto. Além disso, a região tem muitas chuvas, que pioram mais a situação da estrada", diz Ângelo Ozelame, gestor técnico do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).
As chuvas que danificam a estrada e provocam atrasos no escoamento não sustentam apenas os preços mais elevados de frete na rota Norte. Elas interrompem desde o início da tarde de terça-feira os embarques de soja nos terminais de transbordo de Miritituba, no Pará, devido aos atoleiros no trecho não asfaltado da BR-163, entre Novo Progresso e Trairão.
Segundo a Abiove, a situação da estrada se tornou mais crítica neste verão amazônico. Conforme a entidade, que representa grandes tradings, o escoamento ocorre em "soluços". Com capacidade de tráfego de 800 caminhões pesados por dia, a BR-163 estava recebendo a metade do volume de carga prevista nos últimos dias. "Mas desde o início da tarde de terça parou tudo. Não chega mais nada a Miritituba", afirma Daniel Amaral, gerente da Abiove.
Miritituba é o primeiro ponto de recebimento de grãos dos caminhões na rota para o Norte. De lá, a carga é transbordada para barcaças que seguem pelo Tapajós até o desembarque nos terminais portuários de Santarém e Barcarena.
O trecho sem asfalto está justamente antes de se chegar a Miritituba, o que atrapalha o cumprimento dos contratos de exportação do grão. Segundo a Abiove, o prejuízo mensurável mais óbvio é de US$ 400 mil por dia por demurrage (a indenização paga pelo afretador pelo tempo que exceder nas operações de carga e descarga de um navio), além das perdas com os atrasos no recebimento da soja dos armazéns e produtores.
A Abiove se reuniu ontem com a Casa Civil para pedir uma ação emergencial na região. A entidade quer que o Exército retome os trabalhos de contenção no período de chuvas - a utilização de cascalho e rolo compressor nos atoleiros, de forma a garantir o tráfego.
Diante desse cenário, as tradings já não descartam a reprogramação de navios com atracagem prevista em Barcarena para Santos, Paranaguá ou Rio Grande. A decisão configuraria um revés para quem acabou de estrear nas águas do Tapajós - e ainda em um ano com previsão de safra recorde.
Samuel da Silva Neto, economista e pesquisador da EsalqLog, diz que, não fossem esses problemas, os portos do Norte já teriam participação muito maior nas exportações brasileiras, porque têm calados mais convidativos aos novos navios, sobretudo em Itaqui, e o trajeto da zona produtora até lá é mais curto. "Com a situação da estrada hoje, o raio de influência do Arco Norte acaba sendo apenas de Sorriso para cima. Abaixo desse município, melhor levar o caminhão por mais quilômetros".
Para a Conab, o Norte será responsável por escoar de 23,8% das exportações de grãos e derivados em 2017, ante 19% em 2016.

Valor Econômico, 16/02/2017, Agronegócios, p. B16

http://www.valor.com.br/agro/4871102/frete-para-transporte-de-soja-come…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.