VOLTAR

Borracha feita com mais tempo e compromisso

O Globo, Razao Social, p.21
07 de Fev de 2004

PROJETO TECBOR, FINANCIADO PELA FUNDAÇÃO BANCO DO BRASIL, DEVOLVE AOS SERINGUEIROS DO AMAZONAS, PARÁ E RONDÔNIA O PRAZER DE FAZER CONTATO COM O LÁTEX E AINDA DOBRA A RENDA DELES
Borracha feita com mais tempo e compromissoPor Amélia GonzalezPireto do produtor para o consumidor. Sem passar por usinas de beneficiamento, sem precisar ser picada, moída, a borracha feita pelos seringueiros do projeto Tecbor, no Acre, Amazonas, Pará e Rondônia, sai das mãos deles já beneficiada. Com a vantagem de não gastar água e energia como as usinas, de aumentar em cerca de R$ 50 a renda mensal da família e, mais do que tudo isso, de elevar a auto-estima desses profissionais. É como diz o professor Floriano Pastore, que ensina tecnologia química na Universidade de Brasília e é um dos idealizadores da iniciativa:— O seringueiro tem maior compromisso com aquele produto, que sai direto das mãos dele para o consumidor. Que praticamente leva o nome dele nas placas de borracha. O Tecbor tem o apoio da Fundação Banco do Brasil, que investiu inicialmente R$ 451 mil, e a parceria da Universidade de Brasília, do Ibama e do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar. Duzentas e dez famílias estão sendo beneficiadas e, mês passado, dois núcleos foram implantados. Ou seja: mais seringueiros aprenderam a técnica que, simplesmente, consiste na substituição do processo rudimentar de defumação do látex pelo banho de ácido pirolenhoso, substância que reproduz as propriedades químicas da fumaça e permite que a borracha saia limpa e resistente a fungos que ocorrem com freqüência durante o armazenamento do produto.— A história da borracha e da Amazônia se entrelaçam. E nos últimos 20 anos, quase 80 mil famílias — que costumam tomar conta de cerca de 500 hectares de terra cada uma — deixaram de ter renda na região da Amazônia. Isso é um problema, porque quando a pessoa fica na miséria ela se torna uma predadora, não uma guardiã dos produtos naturais — lembra o professor Pastore.O processo começa com o recolhimento do látex nas tradicionais latinhas amarradas às árvores. E é também nesta fase que fica mais nítida a diferença entre o processo Tecbor e o processo de beneficiamento industrial. Porque quando o seringueiro toma conta do seu produto, ele tem tempo, paciência e cuidado para observar o balde, e colhê-lo depois de quatro horas no máximo. Já se é preciso fazer tudo correndo, no processo industrializado, aquele látex pode ficar dois, três dias ali e, quando é retirado, está malcheiroso. Dali ele passa direto para as máquinas, sem as mãos dos seringueiros, onde será triturado antes de ser vendido como matéria-prima.— O seringueiro tem tempo de sobra, pode trabalhar melhor a borracha, não precisa participar de um processo tão preguiçoso — diz Pastore.Atualmente existem 220 famílias treinadas para produzir borracha a partir do projeto Tecbor. Inicialmente os seringueiros vêem a novidade com desconfiança, mas logo se acostumam e gostam.— Acabo de saber que o núcleo de Manicoré, implantado no início de janeiro, está dando super certo. Isso é muito gratificante — comemora o professor.Ele lembra que os passos que dependem da iniciativa privada estão sendo dados, mas que o governo também precisa intervir e ajudar:— A ministra Marina da Silva, do Meio Ambiente, conhece o trabalho e gosta dele. Mas é preciso que o ministério tenha um pouco mais de interesse para que possamos trabalhar juntos. É o ideal para todos.

O Globo, 07/02/2004, p.21

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.