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Bolsonaro usará militares para combater incêndios e desmatamento

O Globo, Sociedade, p. 34
24 de Ago de 2019

Bolsonaro usará militares para combater incêndios e desmatamento
Sob pressão externa, Bolsonaro autoriza tropas na Amazônia
Presidente diz que incêndios não podem ser 'pretexto para sanções'

GUSTAVO MAIA
gustavo.maia@bsb.oglobo.com.br

Diante da crescente pressão diplomática e comercial da Europa e do Canadá, motivada pelas queimadas na Floresta Amazônica, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que autorizou o envio de tropas para "conter o avanço de queimadas" e "combater atividades ilegais" na região. Em pronunciamento em rádio e TV, no qual adotou tom moderado, disse que incêndios florestais não podem "servir de pretexto para possíveis sanções internacionais". Durante sua fala, houve panelaços no Rio, em São Paulo e em outras cidades. Manifestantes protestaram ontem em diversos pontos do mundo. O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que Bolsonaro mentiu sobre compromissos climáticos. O presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu defender o Brasil na reunião do G 7. Acrise pode prejudicar o acordo comercial entre Mercosul e UE.

Com seu governo sob crescente ameaça diplomática e comercial de países europeus e do Canadá, por conta do aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro fez ontem um pronunciamento em rádio e TV com tom conciliador, no qual afirmou que o Brasil se preocupa coma defesa da floresta e usará as Forças Armadas para "combater atividades ilegais" e "conter o avanço de queimadas na região". Bolsonaro pediu também "serenidade ao tratar dessa matéria", disse que o Brasil "continuará sendo um país amigo de todos e responsável pela proteção da sua floresta amazônica" e afirmou que os incêndios florestais não podem "servir de pretexto para possíveis sanções internacionais", como as que foram aventadas por França e Irlanda, que ontem ameaçaram não ratificar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. -Devido a minha formação militar e a minha trajetória como homem público, tenho profundo amore respeito pela Amazônia. A proteção d aflorestaén osso dever-declarou o presidente em sua fala, que foi gravada com antecedência na tarde de ontem e recebida com "panelaços" em diversos bairros do Rio e de São Paulo. Em meio a exaltações sobre as riquezas da floresta, o presidente se comprometeu a agir para controlar os incêndios, destacando a autorização assinada à tarde para que as Forças Armadas atuem nos nove estados da Amazônia Legal, caso sejam requisitadas pelos governadores -os de Rondônia e Roraima confirmaram ontem que aceitariam a oferta. Publicado em edição extra do Diário Oficial de ontem, o decreto autoriza o emprego

das Forças Armadas para realizar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) na Amazônia, no levantamento e combate a focos de incêndio. Os militares também devem participar de "ações preventivas e repressivas contra delitos ambientais". O decreto, que vale de hoje a 24 de setembro, estabelece ainda que os militares deverão atuar em articulação com os órgãos de segurança pública locais, coordenados pelos comandos das Forças Armadas. Em linha com a política de seu governo, que defende a exploração econômica da Amazônia, Bolsonaro afirmou que "não bastam operações de fiscalização, comando e controle" para proteger a floresta. -É preciso lembrar que

naquela região vivem mais de 20 milhões de brasileiros, que há anos aguardam dinamismo econômico proporcional às riquezas ali existentes (...). É preciso dar oportunidade a toda essa população para que se desenvolva junto com o restante do país.

MULTA DA PETROBRAS
A Câmara dos Deputados pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal que parte dos recursos depositados pela Petrobras em acordo com autoridades
"Incêndios florestais existem em todo o mundo e isso não pode servir de pretexto para possíveis sanções internacionais"

americanas pelos prejuízos provocados pela Lava-Jato sejam investidos nos estados que sofrem com os incêndios. A Câmara pediu que R$ 800 milhões sejam destinados à prevenção e combate de incêndios florestais. Outros R$ 200 milhões seriam redirecionados para um desbloqueio orçamentário do Ministério do Meio Ambiente. O R$1,5 bilhão restante iri apara a Educação. Em resposta à ação, o ministro Alexandre de Moraes deu prazo de 48 horas para a Procuradoria-Geral da República, a Advocacia-Geral da União, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e o Ministério da Economia se manifestarem sobre a proposta. (Colaboraram Amanda Almeida e Carolina Brígido)

"A proteção da floresta é nosso dever. Estamos cientes disso e atuando para combater o desmatamento ilegal e quaisquer outras atividades criminosas que coloquem a nossa Amazônia em risco" Jair Bolsonaro, em pronunciamento oficial, ontem

Governo federal cortou verba de combate a queimadas
Ministério do Meio Ambiente bloqueou 29,6% dos recursos de prevenção

RENATA MARIZ
renata.mariz@bsb.oglobo.com.br
REUTERS

Enquanto o fogo arde na região amazônica, colocando o Brasil na mira de críticas internacionais por conta da preservação ambiental, o governo bloqueia recursos federais destinados a evitar e combater queimadas nas florestas. O Ministério do Meio Ambiente (MMA) contingenciou 29,6% do orçamento deste ano voltado à prevenção e controle de incêndios florestais em áreas federais. Dos R$ 45,5 milhões previstos para essa ação, R$ 13,5 milhões estão congelados, sem possibilidade de uso. A outra iniciativa da pasta na área, o programa de fiscalização ambiental, prevenção e combate a incêndios florestais, tem 19,5% dos recursos bloqueados. O governo congelou R$ 5,4 milhões dos R$ 28 milhões previstos no orçamento. Os dados obtidos pelo GLOBO são do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). Questionado sobre os contingenciamentos, o MMA não retornou aos contatos do jornal. O programa que perdeu quase 30% do seu orçamento custeia ações em áreas florestais federais prioritárias, como municípios vulneráveis a queimadas. A verba é usada para contratar brigadistas, alugar aeronaves, veículos e

Devastação. Os incêndios atingiram grande parte da floresta em Porto Velho equipamentos, além de pagar diárias aos combatentes, entre outras ações.

Já a ação do MMA que teve 19,5% do orçamento bloqueado foca a prevenção e o combate a incêndios com prioridade nas unidades de conservação. Além de monitorar focos de calor, o dinheiro é usado para contratar brigadas, adquirir equipamentos e recuperar as áreas degradadas pelo fogo. O MMA divulgou nas redes sociais um informe com o título "9 fatos sobre os incêndios na Amazônia". O material diz que os recursos para controle de incêndios "permanecem em níveis similares aos de anos passados", sem dar números, e que há 2.409 brigadistas do governo federal atuando e à disposição dos governos estaduais. Segundo a pasta, esse contingente de profissionais é "acima da média de anos anteriores", sem dar detalhes. Diz ainda que "quase todos os incêndios registrados em 2019 são de nível 1, o mais baixo numa escala que vai até 3" e afirma que o Brasil é referência no "combate terrestre aos incêndios florestais". Em letras maiúsculas, o nono ponto conclui que "os incêndios que ocorrem agora não estão fora de controle".

O Globo, 24/08/2019, Sociedade, p. 34

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