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Bird quer pacote de US$ 475 bi para clima

FSP, Ciência, p. A18
Autor: ANGELO, Claudio
16 de Set de 2009

Bird quer pacote de US$ 475 bi para clima
Dinheiro deve ser suprido pelos países desenvolvidos para corte de emissões e adaptação nas nações pobres até 2020
Relatório do Banco Mundial afirma que aquecimento global drena recursos do desenvolvimento e pede fim de tarifa ao álcool do Brasil

Claudio Angelo
Editor de Ciência

O combate e a adaptação às mudanças climáticas se tornaram parte obrigatória de qualquer plano de desenvolvimento. E custarão, no Terceiro Mundo, US$ 475 bilhões por ano nos próximos 20 anos, segundo um relatório do Banco Mundial divulgado ontem.
É a primeira vez que o tema do aquecimento global aparece como assunto principal do "World Development Report", uma espécie de guia anual publicado pelo Bird desde 1978.
O relatório vem num momento estratégico, a três meses da conferência da ONU em Copenhague, que forjará o novo acordo de proteção ao clima, e a oito dias do encontro do G20 que debaterá o assunto.
Segundo o documento, os efeitos da mudança climática -mais tempestades, secas e ondas de calor-, que já acontecem e tendem a se agravar, tornam mais difícil a tarefa de aliviar a pobreza, pois "drenam recursos do desenvolvimento" e aumentam o preço da comida.
"Países em desenvolvimento são afetados desproporcionalmente pela mudança climática -uma crise que eles não produziram e para a qual não estão preparados", disse o presidente do banco, Robert Zoellick.
É nesses países, como o Brasil, que está o potencial de corte de emissões com menor custo.
Mas esse corte terá de ser financiado pelos países ricos, diz o banco. E aqui há uma lacuna: hoje, ações de adaptação e de mitigação (redução de emissões) no Terceiro Mundo têm US$ 10 bilhões por ano. Mas o relatório estima que serão necessários US$ 400 bilhões por ano para a mitigação e US$ 75 bilhões para a adaptação.
Para comparação, a crise econômica mundial já tragou US$ 3 trilhões em um ano.
O relatório aponta problemas nos atuais mecanismos de financiamento de ações antiaquecimento. Um exemplo é o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), criado pelo Protocolo de Kyoto, de 1997. Através dele, ações de redução em países pobres poderiam valer créditos de carbono, a serem abatidos das metas de corte de emissões dos países ricos.
Mas o MDL, avalia o banco, rendeu poucos recursos (serão no máximo US$ 18 bilhões em 11 anos) e fracassou em seu objetivo: "Ele não levou os países em desenvolvimento para trajetórias de baixo carbono".
O relatório propõe novos mecanismos de financiamento, como impostos "fiscalmente neutros" sobre as emissões de carbono -ou seja, que fossem restituídos com redução de outros impostos- até uma taxa sobre o transporte internacional, ecoando uma proposta feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva dois anos atrás.

Álcool brasileiro
Outra lacuna apontada é a do desenvolvimento de tecnologias de energia limpa. Elas são vistas como a principal arma para impedir que o aquecimento global fique muito acima de 2C até 2100.
"Os subsídios globais ao petróleo e derivados são de US$ 150 bilhões por ano, mas o gasto público em desenvolvimento e emprego de tecnologias de energia é de cerca de US$ 10 bilhões há décadas", diz o banco.
Aqui, mais uma vez, a responsabilidade é dos países ricos, não só de investir em tecnologia e na sua transferência às nações pobres, mas também de derrubar tarifas a essas tecnologias quando desenvolvidas a baixo custo no Terceiro Mundo. O álcool brasileiro é citado.
"Os subsídios dos países da OCDE [desenvolvidos] a seus biocombustíveis foram de US$ 11 bilhões em 2006. Como resultado, não se fazem investimentos nos países onde a tecnologia tem uma melhor relação custo/benefício. O Brasil, o produtor de etanol a custo mais baixo, viu um crescimento modesto de 6% na sua produção de etanol entre 2004 e 2005, enquanto os EUA e a Alemanha tiveram crescimentos de 20% e 50% (...)", conclui o Bird, pedindo menos tarifas.

Mídia induz imobilismo, diz texto

Da Redação

A imprensa pode estar involuntariamente contribuindo para a "inércia" do mundo para enfrentar o aquecimento global, diz o relatório do Bird. Segundo ele, o catastrofismo dos meios de comunicação pode ter um efeito de imobilizar as pessoas.
"Quanto mais as pessoas são bombardeadas com palavras ou imagens de efeitos devastadores, quase bíblicos, da mudança climática, mais elas tendem a mudar de canal", diz. A percepção induzida por reportagens apocalípticas é a de que "não há nada que se possa fazer".
Além disso, como o debate científico envolve incertezas, diz o Banco Mundial, a imprensa pode estar complicando as coisas ao passar a impressão de que não existe progresso científico e sim um conjunto de opiniões opostas.
"Além disso, a necessidade de apresentar matérias "equilibradas" tem dado uma cobertura desproporcional a céticos do clima que não têm conhecimento nem estatura científica." (CA)

FSP, 16/09/2009, Ciência, p. A18

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