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Biotecnologia na agricultura

CB, Opiniao, p.13
Autor: BOREM, Aluizio
13 de Dez de 2004

Biotecnologia na agricultura
Aloízio Borém
Infelizmente, alguns mitos a respeito da biotecnologia na área agrícola ainda circulam na mídia. Um deles diz respeito a um suposto aumento do consumo de herbicidas nas lavouras de soja transgênica. Em primeiro lugar, é importante ressaltar que nenhum agricultor, em parte alguma do mundo, utilizaria um produto que pudesse causar prejuízo às suas plantações, ao ambiente, ou utilizaria algo que, deliberadamente, aumentasse seu custo de produção. Aqueles que optaram pelas sementes geneticamente modificadas o fizeram justamente pelas vantagens que esses produtos proporcionam.
Pesquisas elaboradas nos Estados Unidos a respeito das plantas transgênicas, cultivadas há dez anos no país, confirmam o que os sojicultores do Rio Grande do Sul já sabem. Relatório do Centro Nacional de Alimentos e Políticas de Agricultura Norte-Americano (National Center for Food and Agricultural Policy), organização não-governamental sediada em Washington, aponta que, em 2003, a adoção de transgênicos contribuiu para um aumento de mais de duas mil toneladas na produtividade e fez com que cerca de 21 mil toneladas em ingredientes ativos de agroquímicos deixassem de ser usados nas lavouras norte-americanas, proporcionando aumento de US$ 1,9 bilhão na rentabilidade da agricultura do país.
No Brasil, estudos feitos pela consultoria Kleffmann & Partners no Rio Grande do Sul, onde a soja transgênica é cultivada há seis anos, mostram que houve redução de cerca de 42%, de 1999 a 2003, no uso de herbicidas em geral. O crescimento de herbicidas à base de glifosato, de baixa toxicidade, foi aproximadamente de 10%. Ou seja, um aumento nada expressivo diante dos grandes benefícios que a tecnologia pode trazer: preservar o ambiente, com economia de 53% para o produtor. Segundo a Fundação Centro de Experimentação e Pesquisa (Fundacep), do Rio Grande do Sul, e os próprios agricultores gaúchos, a soja transgênica possibilita lucro médio adicional em torno de R$ 200 por hectare.
É bom lembrar que os aspectos de segurança alimentar e ambiental da soja transgênica foram inúmeras vezes avaliados em todos os países onde ela é produzida. E isso também ocorreu no Brasil. Os parâmetros que devem ser previamente considerados em uma análise de risco são: existência de espécies que poderiam se cruzar com a soja no país e a existência de possíveis efeitos adversos decorrentes da característica introduzida, por exemplo, tolerância a herbicidas.
A probabilidade de um eventual escape gênico no caso da soja no Brasil é extremamente baixa, haja vista que a soja é uma espécie exótica, originária da China. Não existem nas Américas tipos silvestres compatíveis com a soja. Um outro fator que contribui para o pequeno risco de algum efeito adverso da soja tolerante a herbicidas sobre a biodiversidade brasileira é o fato dessa espécie se reproduzir tipicamente por autofecundação. Isto é, o pólen fecunda a própria flor, devido a polinização ocorrer antes desta se abrir. Portanto, a chance de ocorrência de fecundação cruzada é muito pequena na soja.
A tolerância a herbicida introduzida nas variedades transgênicas de soja não oferece riscos para a biodiversidade, pois não altera a habilidade das plantas de colonizar ou invadir o ambiente. Os genes introduzidos não conferem vantagem adaptativa às plantas modificadas. Dessa forma, a soja tolerante a herbicidas não oferece risco de degradação do ambiente. Portanto, não há, do ponto de vista científico, justificativa de qualquer natureza para ser exigir o estudo de impacto ambiental (EIA-Rima), que deve ser realizado sempre que houver riscos de impacto decorrente de algum procedimento degradador do ambiente, com o objetivo de avaliar as conseqüências de algumas ações nocivas aos ecossistemas.
É importante desmistificar esses velhos assuntos relacionados à biotecnologia na agricultura, até porque nenhum deles tem qualquer fundamentação científica e a proliferação de boatos nessa área prejudica o trabalho científico, este, sim, sério e responsável.

Aluízio Borém
Agrônomo, Ph.D. professor do Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de Viçosa e Diretor da Pró-Terra (Associação Brasileira de Tecnologia, Meio Ambiente e Agronegócios).www.proterra.org.br

CB, 13/12/2004, p. 13

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