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Biografia de um dinossauro brasileiro

JB, País, p. A4
16 de Jan de 2004

Biografia de um dinossauro brasileiro
Descoberta do 'Amazonsaurus Maranhesis', com 110 milhões de anos, surpreende arqueólogos

Sheila Machado

O primeiro dinossauro encontrado na região amazônica (no norte do Maranhão), além de único, também é o mais antigo do Brasil e data de um tempo que se confunde com a eternidade: 110 milhões de anos. Seu nome de batismo é Amazonsaurus Maranhensis. , a mais nova e sensacional descoberta da arqueologia nacional. Um achado que abre a perspectiva de se encontrar outras espécies na região e aprofundar cada vez mais o conhecimento científico sobre a origem do Brasil, do continente, do planeta e das gentes.
Os fragmentos do dinossauro foram encontrados próximos de fósseis de criaturas marítimas, o que leva os cientistas a acreditarem que o animal foi contemporâneo do período de formação do Atlântico, na época em que o oceano iniciava a separação entre os continentes Sul-americano e Africano.
A nova espécie foi apresentada ontem na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), depois merecer destacado artigo na edição de dezembro de uma das bíblias da paleontologia mundial, a revista holandesa Cretaceous Research.
O animal pertence a um novo gênero da já conhecida família dos saurópodes. Dele, foram encontrados cerca 100 fragmentos, às margens do rio Itapecuru-Mirim, no norte do Maranhão. Herbívoro, medindo 10 metros e pesando 10 toneladas, o Amazonsaurus Maranhensis é considerado um dinossauro pequeno em relação a outros saurópodes: na parte principal do corpo ele teria a altura de um elefante africano. No entanto, era relativamente leve, porque seus ossos tinham cavidades com ar, o que permitiria o crescimento sem a necessidade de uma quantidade exagerada de massa óssea e a flutuação dentro d'água. A constituição leve, com os espinhos neurais ajudando no equilíbrio, poderiam permitir que o dinossauro maranhense se sustentasse em duas patas, para comer folhas dos topos das árvores.
As características de sua espinha neural, bem mais comprida que a dos outros saurópodes é um grande diferencial que faz do Amazonsaurus Maranhensis um animal que até agora não tinha descrição em nenhum lugar do mundo. Além disso, segundo Candido Simões e Ismar Carvalho, do Departamento de Vertebrados do Museu Nacional/UFRJ, sete outras espécies já haviam sido descobertas no Brasil, principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, mas todas mais jovens, datadas do cretáceo final, há 70 milhões de anos.
O maior problema para os pesquisadores de campo em Itapecuru-Mirim eram as chuvas torrenciais na região Amazônica, que muitas vezes destruíam o sítio de escavação.
- A flutuação da maré dificultava muito o trabalho. Às vezes não tínhamos tempo hábil para retirar uma peça em que estávamos trabalhando. E, na verdade, acamos perdendo muitas rochas - contou Ismar Carvalho, acrescentando que a umidade também não ajuda na conservação dos fósseis, mesmo dentro do terrenos sedimentados como os do local.
Os fósseis do Amazonsaurus foram encontrados perto de um dente de um animal carnívoro - não identificado - e de fósseis de moluscos, tartarugas e peixes. Dessa maneira, foi possível reconstruir também o ambiente em que vivia.
- Na época, África e América do Sul estavam se separando, o Atlântico estava se formando na fresta, o que tornou a área que hoje é a Amazônia mais úmida - conclui Carvalho.

JB, 16/01/2004, País, p. A4

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