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Biodiversidade em baixa

O Globo, Planeta Terra, p. 4-5
26 de Jun de 2012

Biodiversidade em baixa
Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza mostra que 31% das espécies avaliadas estão ameaçadas de extinção

Renato Grandelle
renato.grandelle@oglobo.com.br

Em meio às discussões intermináveis da Rio+20, a divulgação da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) passou despercebida. Considerada um indicador da saúde da biodiversidade mundial, a lista traz más notícias: entre as 63,8 mil espécies avaliadas, 19,8 mil - 31% do total - estão ameaçadas de extinção. O percentual evidencia, segundo os cientistas que participaram do levantamento, a necessidade urgente de medidas de conservação. Além disso, mostra o quanto o mundo está longe de atingir uma das metas do Plano Estratégico para a Biodiversidade, que previa que a extinção da fauna e flora ameaçadas seria evitada até o fim desta década.
A pesquisa da IUCN usa poucos dados brasileiros. A metodologia empregada aqui para identificar a vulnerabilidade das espécies é diferente da aplicada pela instituição. O governo federal espera se adequar aos padrões internacionais até 2014, quando vai divulgar seu primeiro grande levantamento sobre as espécies do país. Diversos grupos de pesquisa trabalham há quatro anos para identificar todos os vertebrados e os invertebrados com importância econômica que tenham a sobrevivência ameaçada. Algumas equipes, como as que estudam crustáceos, tubarões e tartarugas, já terminaram seus relatórios.
Onze mil cientistas e especialistas voluntários de 160 países participaram da nova Lista Vermelha. O grau de exposição das espécies impressiona: um em cada quatro mamíferos está ameaçado de extinção. Entre outros grupos o percentual é ainda maior. Ele chega a 33% entre os corais formadores de recifes e 41% se considerados apenas os anfíbios.
- A Lista Vermelha tem um lado negativo, mas também pontos positivos - assegura Jane Smart, diretora global de Conservação da Biodiversidade do IUCN. - Não só listamos as espécies ameaçadas, mas informações completas sobre ameaças e ações que poderiam ser tomadas. Vemos os benefícios que estes serem trazem e o que aconteceria se nós os perdêssemos. É um ponto de partida para projetos de preservação ambiental.
A perda de biodiversidade se deve, principalmente, à sua exploração econômica. Na lista há diversas espécies usadas como alimentos ou tratamento medicinal, de algas a serpentes. No couro da rã, por exemplo, encontram-se componentes químicos importantes, muito valorizados em Madagascar. Já a pesca excessiva ameaça arraias e peixes que habitam recifes de corais. A maioria da fauna e flora comprometidas está na África e no Sudeste Asiático, regiões pouco desenvolvidas e muito dependentes destes recursos.
- Devemos manter o foco ambiental de 20 anos atrás, a conferência Rio+ 20 não deveria ter se limitado à economia verde - critica Cyriaque Sendashonga, diretora do Grupo de Políticas e Programas da ICUN. - A lista deve fornecer dados para os tomadores de decisão, que precisam saber quais espécies devem priorizar em ações de conservação. Às vezes falamos de discussões globais, mas esquecemos de valorizar as espécies locais, ou seja, o meio ambiente presente em seu próprio município.
No Brasil, o levantamento de espécies cabe ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Equipes montadas por estes órgãos já analisaram, desde 2008, a vulnerabilidade de 3 mil espécies. Outras sete mil passarão pelo crivo dos especialistas.
- Recebemos o resultado dos grupos de trabalho, cada um dedicado a um grupo de animais ou plantas, e comparamos esses dados com nossas séries históricas - explica Ugo Vergillo, coordenador-geral de Espécies Ameaçadas do ICMBio. - A etapa seguinte é verificar o quanto reduziu a população das espécies nos últimos dez anos. Para espécies marinhas e micos, por exemplo, temos dados de décadas atrás. Mas, para diversos outros seres, não há uma contagem anterior com a qual podemos comparar sua situação atual.

O Globo, 26/06/2012, Planeta Terra, p. 4-5

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