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A biodiversidade brasileira

JB, Outras Opiniões, p. A11
Autor: SOUZA, Wanderley de
09 de Out de 2004

A biodiversidade brasileira

Wanderley de Souza
Biólogo

Na medida em que se ampliam os estudos sobre a identificação de novos organismos nos mais diferentes biomas, milhares de novas espécies vão sendo descritas. São diferentes formas de vida com morfologias características, ciclos de vida complexos e habitats inesperados. Uma análise do conjunto do muito que já foi realizado nos leva à conclusão de que conhecemos apenas uma pequena fração do que existe.
Até o momento, ênfase maior tem sido dada aos organismos de maior porte e que podem ser identificados e caracterizados com uma simples inspeção visual, não requerendo o uso de equipamentos especiais. E o que dizer do chamado mundo sub-microscópico, constituído por microalgas, leveduras, protozoários, bactérias, vírus?
Aqui a situação é muito mais crítica. No caso do Brasil, essa é uma área que ainda não despertou o interesse das autoridades responsáveis pela definição de prioridades. O pouco que tem sido feito resulta do interesse e da dedicação de alguns grupos de pesquisa. A situação é ainda mais grave no que se refere aos microorganismos com capacidade real ou potencial de se tornarem agentes etiológicos de doenças que possam afetar o ser humano, outros animais e plantas. Um exemplo interessante do potencial dessa área surge com estudos que vêm sendo realizados com répteis da Amazônia brasileira.
Recentemente, tive o prazer de integrar um grupo de pesquisadores que caracterizou o primeiro protozoário capaz de infectar e destruir os neutrófilos de um pequeno lagarto que vive nas árvores. Cabe lembrar que os neutrófilos são células encontradas no sangue dos vertebrados e responsáveis pela ingestão e destruição de microorganismos. Podemos prever que se algum protozoário com essas características se adaptar à espécie humana estaremos diante de uma grave doença infecciosa.
Cada dia mais se fala de biodiversidade. No entanto, muito pouco se faz efetivamente nessa área. O tema tem sido tratado mais intensamente pelos ambientalistas do que por pesquisadores. Dezenas de organizações não-governamentais abordam o assunto, o que pelo menos assegura a preservação da biodiversidade. Poucas efetivamente atuam incentivando o seu melhor conhecimento.
O governo do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e da Fundação de Amparo à Pesquisa, decidiu colocar como tema prioritário para os pesquisadores fluminenses o melhor conhecimento da importante reserva de biodiversidade da Mata Atlântica. Redes temáticas, congregando pesquisadores de diferentes instituições, serão formadas para estudos sobre todas as formas de vida, dos microorganismos aos mamíferos, da fração fluminense desse importante bioma brasileiro.

Wanderley de Souza é Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro.

JB, 09/10/2004, Outras Opiniões, p. A11

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