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Biocombustível é 'problema moral', diz Strauss-Kahn

OESP, Economia, p. B3
19 de Abr de 2008

Biocombustível é 'problema moral', diz Strauss-Kahn
Diretor-geral do FMI atribui alta nos preços de alimentos à produção do combustível, e alerta para conseqüências

Jamil Chade

A declaração do diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, de que os biocombustíveis representam "um problema moral", veio acompanhada de um alerta. Segundo Strauss-Kahn, a crise mundial dos alimentos pode estar apenas começando e a alta dos preços, se continuar, pode provocar a queda de governos e até guerras.

Nos últimos dias, líderes dos países ricos voltaram suas atenções para o campo. Em entrevista ontem à rádio francesa Europe-1, Strauss-Khan deixou claro que o FMI está "muito preocupado" com as crises que vêm ocorrendo no Haiti, Egito e na Ásia, pressionando a inflação na Europa e ainda derrubando políticos. "Esse deve ser um assunto que todo o planeta deve lidar", disse o número 1 do FMI.

Desde meados do ano passado, os preços dos alimentos já subiram 40% e, para países pobres, essa inflação representou um aumento do número de famintos e pobres. "Em termos de conflitos por causa dos alimentos, o pior está infelizmente por vir. Centenas de milhares de pessoas serão afetadas", disse Strauss-Khan. Ele acredita que o crescimento da economia mundial somente será retomado em 2009, e o pior momento deverá ocorrer no fim do ano.

Para ele, até mesmo regimes democráticos estariam em perigo diante de uma crise na alimentação. "Quando as tensões vão além do normal e democracias são questionadas, existem riscos de guerras", afirmou. "A história está repleta de guerras que começaram a partir de problemas como esse."

Quanto ao etanol, Strauss-Khan deixou claro que a expansão de sua produção poderá ter efeitos negativos, mas insinuou que existe uma diferença entre o etanol feito como milho nos Estados Unidos e o etanol brasileiro, feito a partir da cana-de-açúcar. "Quando fazemos biocombustíveis de produtos agrícolas não usados para a alimentação, tudo bem. Mas quando são feitos de produtos alimentícios, isso representa um verdadeiro problema moral."

"O problema (energético) do planeta é muito importante, mas não se resolverá com os biocombustíveis, já que os motores de hidrogênio serão muito mais eficazes em poucos anos", disse o diretor-geral do Fundo. Segundo ele, pessoas "morrerão de fome" por causa do etanol feito de alimentos.

MORATÓRIA

Questionado se apoiaria uma moratória na fabricação de biocombustíveis, Strauss-Kahn disse que sim, quando feitos de produtos destinados à alimentação. Quem primeiro lançou a idéia de moratória foi o relator da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler. Em entrevista ao Estado, ele disseque está buscando o apoio de países como a Bolívia para que o tema seja apresentado como resolução na próxima reunião da Assembléia Geral da ONU. Foi Ziegler que na segunda-feira afirmou que os biocombustíveis são um "crime contra a humanidade", comentário criticado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Já Strauss-Kahn acredita que os países precisam encontrar um equilíbrio entre lidar também com os problemas ambientais e a necessidade da população de se alimentar.

Para ele, o que o mundo precisa agora é garantir uma maior produtividade agrícola. Doações para que a ONU continue a distribuir alimentos não ajudarão no longo prazo.

Ontem o presidente francês, Nicolas Sarkozy, não perdeu a oportunidade de declarar que vai defender a agricultura francesa diante da alta nos preços, em um sinal de que poderá resistir a acordos de abertura dos mercados agrícolas na Organização Mundial do Comércio (OMC). Para Sarkozy, um plano internacional deveria ser elaborado para lidar com a nova realidade no campo.

OESP, 19/04/2008, Economia, p. B3

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