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Barris de pólvora

CB, Brasil, p. 16
07 de Out de 2007

Barris de pólvora
Polícia Federal monitora áreas em que há risco de uma explosão de conflitos sociais. Os casos mais graves estão na Região Amazônica, onde invasores permanecem em terras indígenas

Edson Luiz
Da equipe do Correio

A Polícia Federal mantém um monitoramento em cerca de 50 áreas que são consideradas de risco por conta da probabilidade de conflitos que podem ocorrer.
Pelo menos cinco delas já são encaradas como "barris de pólvora" que estão sujeitas a explodir a qualquer momento. Com exceção da reserva indígena Roosevelt, em Rondônia, as demais estão localizadas na região de fronteira, onde há pobreza.
Pelos levantamentos da PF, o perigo, a violência e a tensão estão localizadas no interior do Rio Grande do Sul, em Foz do Iguaçu (PR), na fronteira do Brasil com a Guiana e na área indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, onde o problema é considerado mais grave.
Se nos últimos anos a preocupação do governo era com a ação dos movimentos sociais, agora isso virou coisa do passado. Para delegados federais que atuam na área de monitoramento das questões políticas e sociais do país, os conflitos fundiários, o contrabando, o tráfico de armas e drogas se tornaram problemas maiores, principalmente em áreas de fronteiras abertas ou em estados mais carentes. A baixa renda da população em algumas regiões faz com que a sociedade se torne, cada vez mais, refém da criminalidade, como já ocorre em grandes centros urbanos.
Há mais de 20 anos, índios e brancos lutam pelas terras de Raposa Serra do Sol, ao norte de Roraima, uma região onde sempre predominou o medo e tensão. Em 2004, a União reconheceu a área como terra indígena, mas plantadores de arroz, que a ocupam a reserva resistem em deixá-la. Para retirá-los, o governo federal planeja uma grande operação nos próximos meses, mas a promessa de resistência está intimidando uma ação da União, até pelo fato de os plantadores terem apoio dos políticos locais e até mesmo de parte dos índios macuxis e ingaricós, as etnias predominantes da região.
Durante os últimos anos, Raposa Serra do Sol se transformou numa área de tensão social forte. Pouco depois da promulgação do decreto que homologou a demarcação da área indígena, plantadores de arroz se uniram aos moradores de Pacaraima para fecharem a BR-401 e a BR-174, que dá acesso a Santa Elena de Uraien, na Venezuela, e a Manaus (AM), e por onde passa grande parte dos produtos que abastece a capital, Boa Vista, inclusive o combustível mais barato.

Pouco depois, quando a estrada foi desobstruída, índios favoráveis à permanência dos plantadores de arroz na reserva fizeram quatro policiais federais de reféns. Os agentes estavam dando segurança à área, quando foram surpreendidos e detidos. Nesse período, o governador do estado, Ottomar Pinto (PTB), tentou negociar com os índios, mas autoridades federais acreditavam que, por trás do seqüestro estavam políticos locais, o que nunca chegou a ser confirmado. A PF chegou a acionar seu Comando de Operações Táticas (COT) para resgatar os agentes, mas a medida não chegou a ser necessária.
Rondônia
Apesar de todos estes fatos, a situação nunca se normalizou em Raposa Serra do Sol, cuja tensão só se iguala à da reserva indígena Roosevelt, na divisa de Rondônia e Mato Grosso. Há três anos, 29 garimpeiros foram massacrados pelos índios cintas-largas, com quem tinham sociedade na exploração ilegal de diamantes, já que a área é hoje uma das maiores jazidas do mundo. O governo federal chegou a fazer uma grande operação no local para acabar com a retirada das pedras preciosas, envolvendo pelo menos 400 homens de vários órgãos. No entanto, o trabalho só deu certo nos primeiros meses, embora constantemente a PF seja chamada a fazer incursões na região. Atualmente, calcula-se que mais de 1.500 garimpeiros continuam dentro da área indígena, que tem 2,7 milhões de hectares, um território maior que o estado de Sergipe.
Novamente, por trás da situação encontram-se políticos locais, muitos favoráveis à abertura da reserva para os garimpeiros que lotam as cidades de Pimenta Bueno, Cacoal e Vilhena, em Rondônia, e Nova Apurinã, em Mato Grosso, o que aumenta o grau de tensão. Por outro lado, a polícia suspeita que os índios ainda continuam incentivando a exploração ilegal de diamantes em troca de uma sociedade que fazem de alguns poucos caciques pessoas ricas, enquanto a maioria da comunidade indígena permanece na pobreza de grande maioria. A PF também descobriu que empresários de outros centros ajudam, legalizando o diamante para exportação.
Ainda no Norte do país, outra preocupação traz intranqüilidade às autoridades brasileiras. O sonho do enriquecimento rápido e a possibilidade de melhorar de vida está levando migrantes de vários estados ao Oiapoque, no Amapá, fronteira com a Guiana Francesa. Hoje, estima-se que pelo menos 25 mil brasileiros estão em cidades do país vizinho, trabalhando na construção civil, ou nos garimpos espalhados na floresta. A Polícia Federal tem observado e reprimido o tráfico de mulheres, não apenas para a Guiana, mas também para a Europa. "Nessa área, o problema somos nós com a Guiana", afirma um delegado federal.

O caso pode levar à geração de conflitos futuros com a população local, apesar de hoje haver cordialidade. Como a maior parte dos brasileiros na Guiana Francesa está ilegal, e poucos passam pelo serviço de migração do país, a maioria se vê obrigada a trabalhos forçados. Além disso, a disseminação dos garimpos está causando hostilidades entre brasileiros e a polícia local, que reprime constantemente a entrada clandestina, mas muitas vezes de forma violenta. Além disso, pequenas cidades do Amapá e Roraima estão recebendo grande número de migrantes, sem qualquer estrutura.

CB, 07/10/2007, Brasil, p. 16

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