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Barragem vira palco das ações dos Xokleng

Diário Catarinense-Florianópolis-SC
18 de Fev de 2002

Há três meses, os Xokleng da Reserva Duque de Caxias (nos municípios de José Boiteux, Vitor Meirelles, Doutor Pedrinho e Itaiópolis) protestam acampados na área da Barragem Norte.

Exigem cerca de R$ 2 milhões do governo federal para a construção de 56 casas, extensão da rede elétrica, asfalto e indenização pelas terras férteis que lhes foram tomadas para a construção da obra ainda na década de 80.

O movimento revela duas faces: resistência e falta de orientação política. A barragem está seca; assim, poucos se preocupam com a ameaça de abertura das comportas para possível inundação de cidades do Vale do Itajaí.

A greve de fome, outra forma de protesto, quase nada reflete. Mesmo os Xokleng que não estão acampados convivem com a falta de alimentos no dia-a-dia. Passou-se Natal, Réveillon e Carnaval sem nenhuma providência.

Cada uma das cinco aldeias da reserva enviou cerca de dez famílias para o acampamento. Entre os adultos, dezenas de crianças. Algumas tiveram disenteria e foram socorridas com remédios distribuídos pela Fundação Nacional do Índio (Funasa).

Enquanto os homens resguardam os motores da barragem, as mulheres dedicam-se ao artesanato. Ao contrário das Guarani, que vão às áreas urbanas para vender o que produzem, as mulheres Xokleng só oferecem seus produtos a quem as visita. Neli Indile, 63 anos, está desanimada. "A gente faz, mas fica tudo aqui".

Na semana que vem, lideranças Xokleng prometem ir a Brasília. Vão cobrar do Ministério da Integração a liberação dos recursos. Querem saber no Ministério da Justiça em que pé está a denúncia de tortura praticada por policiais militares sob alegação de cumprimento de ordem judicial, na Aldeia Bugio, em março.

SAIBA MAIS
Isolados pela extrema pobreza

Aimor Ka-Mrêm, 70 anos, nasceu no tempo em que as terras Xokleng eram férteis. Tudo o que era bom a barragem levou, conta, falando sobre os efeitos desastrosos da obra erguida no território indígena. Desde novembro, o velho índio trocou a aldeia Palmerinha, onde tem casa, para assumir o controle dos motores da barragem. "Não queremos prejudicar ninguém, mas pressionar para que o governo faça justiça com os índios e indenize pela perda de nossas terras", diz. Aimor explica que a distância entre as casas e falta de luz elétrica trazem dificuldades para a população indígena. "Não gostamos de viver isolados de nossas famílias, da gente do nosso sangue", conta.
Parentes espalhados nas cidades
Alfredo Patté, 69 anos, conhece os matos da aldeia Duque de Caxias como poucos índios. "Quatorze mil hectares de terra estão regularizados, mas 24 mil estão há dois anos esperando por uma decisão", conta, explicando o processo das terras La Klãnõ. A portaria declatória está para ser publicada pelo Ministério da Justiça. Patté se entristece quando lembra dos tempos em que a barragem não existia. "Aqui viviam cinco comerciantes, dava para plantar e pescar", recorda. "Hoje, nosso povo está jogado por aí e a gente está cada vez mais pobre", compara. "A terra boa, de onde se tirava milho e feijão com fartura, ficou embaixo da água", explica. "Muitos parentes meus estão espalhados pelas cidades. Eu não acho certo", diz.

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