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Banco genético de Mata Atlântica

O Globo, Revista O Globo, p. 46
04 de Set de 2005

Banco genético de Mata Atlântica
Reserva é capaz de produzir 45 milhões de mudas de diferentes espécies por ano, o suficiente para recuperar 60% da floresta

Por Roberta Jansen

No Espírito Santo, onde a destruição da Mata Atlântica foi quase total, existe o maior banco genético da floresta do mundo, uma coleção de sementes tão diversa que seria capaz de recuperar a mata em até 60% da costa brasileira. Se houvesse vontade política e recursos para tanto, claro.
No Brasil, hoje, os remanescentes de Mata Atlântica representam cerca de 5% da cobertura original da floresta na época do descobrimento. A devastação foi ainda maior no Espírito Santo, onde esse percentual é de apenas 1%. Um terço dessa área (22 mil hectares) se encontra na Reserva Natural Vale do Rio Doce, em Linhares, que acabou se transformando num dos maiores centro reprodutores de floresta do país.
- Com a destruição, vamos progressivamente perdendo a variabilidade genética das espécies - explica o engenheiro florestal Renato Moraes de Jesus, gerente da reserva, destacando a importância de se ter um banco de espécies in natura.
Além de preservar a variedade genética, a reserva tem hoje capacidade para produzir 45 milhões de mudas de 800 diferentes espécies de Mata Atlântica por ano. Guarda, por exemplo, a maior reserva genética de jacarandá da Bahia, a madeira mais valiosa do mundo, avaliada em US$50 milhões. Além disso, há coleções significativas de outras madeiras nobres, como o jequitibá e a peroba, e de plantas igualmente importantes da floresta, como a castanha-do-pará.
A reserva também serve de base para pesquisas. Estudos realizados ali já identificaram 80 novas espécies botânicas - uma pequena amostra do quanto deve ter sido perdido em conhecimento de biodiversidade com a destruição da Mata Atlântica. Foram ainda desenvolvidas diferentes tecnologias de recuperação de áreas degradadas.
- O maior objetivo da reserva é mostrar que é possível viver em harmonia com os recursos naturais, recuperar áreas degradadas e que é a maior idiotice cortar a floresta para a obtenção de madeira se podemos plantá-la - sustenta Jesus.
Para o especialista, o reflorestamento é a única solução possível. Com base em estudos realizados na própria reserva, ele garante que os chamados planos de manejo (a derrubada de árvores de interesse comercial de forma seletiva e, em tese, sustentável) só servem para matar as florestas de forma lenta.
- É uma verdadeira tortura florestal. Os estudos mostram que esses planos não têm sustentabilidade. Que a biomassa que volta a crescer não é a mesma, não tem o mesmo valor, nem depois de cem anos - aponta. - Ou seja, essas práticas são uma hipocrisia ambiental, levadas a cabo por ignorância, falta de conhecimento ou simples desonestidade.
Os estudos mostram que o plantio de árvores que fornecem madeira nobre, por exemplo, é mais viável e mais rentável a longo prazo do que a simples derrubada da mata.

- É possível conseguir um volume muito maior de madeira do que na floresta manejada em razão da homogeneidade - explica.
Segundo Jesus, o arco do desflorestamento na Amazônia, poderia rapidamente se transformar numa região viável com o replantio, que geraria emprego e riquezas.
A repórter viajou a convite da Vale do Rio Doce.

O Globo, 04/09/2005, Revista O Globo, p. 46

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