VOLTAR

Avanco inicia produção de cobre e mira expansão

Valor Econômico, Empresas, p. B1
22 de Abr de 2016

Avanco inicia produção de cobre e mira expansão

Renato Rostás

Próximo à região de Serra Pelada, que marcou o início da corrida do Brasil ao ouro nos anos 80, um grupo de investidores estrangeiros apoiou a construção de uma mina de cobre que, apesar de não ser tão representativa do mercado internacional, demonstra que há possibilidade de se iniciar projetos no setor, mesmo com a recente depressão dos preços das commodities.
A Avanco Resources, empresa australiana cuja única atividade é essa unidade, iniciou nesta semana o embarque de seus produtos, os concentrados de cobre, após quase nove anos de estudos e construção. A companhia estreia no mercado em um momento no qual a maioria dos analistas já acredita que o preço do metal chegou ao "fundo do poço" - ou seja, a perspectiva é de começo da recuperação.
Foram quase nove anos estudando o depósito e preparando a construção da mina de Antas Norte, em Curionópolis, no Pará. A capacidade produtiva é de 45 mil toneladas de concentrados de cobre, com potencial para se fabricar 12 mil toneladas de cobre metálico e 7 mil onças de ouro por ano. Foram gastos até agora US$ 55 milhões, a maioria injetado pela gestora de recursos americana BlackRock, e uma expansão já é planejada para Água Azul, na mesma região - o projeto Pedra Branca.
"O que nós precisamos é dos recursos para tocar o novo projeto", explica Luis Azevedo, diretor-executivo da Avanco. "Lá, a mina será subterrânea, a primeira do Pará, mas precisamos de algumas garantias do governo", acrescenta. Dentre os problemas encontrados, está a legislação trabalhista, que proíbe o trabalho em minas do tipo por mais de seis horas. "Às vezes leva 45 minutos só para se chegar ao local de trabalho."
Essa expansão tem potencial para produzir o triplo de Antas Norte. O investimento necessário será de ordem semelhante, em comparação com a unidade de Curionópolis - US$ 165 milhões. "Queremos ser líderes na exploração subterrânea de Carajás", afirma Anthony Polglase, presidente do grupo australiano. O projeto está atualmente na fase de estudos.
A Avanco tem capital aberto na bolsa de Sydney e o maior acionista é a Appian Natural Resources, fundo de investimento em extração mineral, com 19,2%. A Greenstone possui 16,69% e o BlackRock World Mining, 12,86%. A trading e mineradora Glencore detém 8,27% das ações - o projeto Pedra Branca foi comprado em 2012 da Xstrata, mineradora adquirida pela Glencore.
Mas o aporte da BlackRock foi mais significativo e a administradora de fundos ganhou direito a royalties da venda. "Investimos porque a geologia tinha potencial e a região ao redor apóia a mineração", explica Evy Hambro, gestor do fundo da BlackRock. "Além disso, a equipe contratada era de boa qualidade técnica para gerar valor com o ativo."
A Avanco pretende ter receita de aproximadamente US$ 35 milhões já em 2016, mas em 2017, quando funcionará a plena capacidade durante todo o ano, já acredita poder aumentar a cifra para US$ 50 milhões. Melhorias na unidade podem levá-la a produzir até 18 mil toneladas de cobre. Os volumes serão todos destinados à Ásia.
A ideia da Avanco é fazer parte de uma outra onda da mineração, e especificamente do Pará, de empresas de médio porte. Carajás é bastante conhecido por ser uma área dominada pela Vale, e um local no qual o projeto S11D, o maior de minério de ferro no mundo, está para iniciar suas atividades neste ano. Mas a Avanco pretende ser uma "júnior" eficiente, não de alto custo.
Dentre as medidas que possibilitaram nível mais baixo de despesas do que o normal, está o uso de algumas máquinas de segunda mão na construção e lavra da mina de Antas. Além disso, a companhia australiana conseguiu desenhar seu projeto com profissionais experientes, mas que estavam disponíveis no mercado depois que se encerrou o superciclo das commodities. As negociações com os governos federal e estadual, em um momento no qual o Pará tenta acelerar o desenvolvimento mineral, também foram mais produtivas.
"Também tivemos que adotar uma postura mais conservadora no lado dos custos depois que vimos a queda dos preços do cobre", afirma Azevedo. "Com o início de operação agora, cria-se a oportunidade de se beneficiar da recuperação das commodities", diz Hambro, do BlackRock. "Foi até bom o preço cair enquanto era pré-operacional, assim a empresa não deixou de ganhar receita durante o processo."
Também parte da estratégia atual do Pará de agregar valor aos produtos, autoridades locais cobraram da Avanco evolução no sentido de verticalizar a produção. O problema é que um dos subprodutos da transformação do metal é o ácido sulfúrico, poluente e com mercado muito pequeno para a venda.
"Precisamos quebrar essa barreira [da verticalização]", pediu Eduardo Leão, diretor de geologia e mineração da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme) do Pará.
O repórter viajou a convite da Avanco

Valor Econômico, 22/04/2016, Empresas, p. B1

http://www.valor.com.br/empresas/4533177/avanco-inicia-producao-de-cobr…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.