VOLTAR

Aumento da cárie entre índios preocupa Funasa

O Globo, O País, p. 14
23 de Dez de 2007

Aumento da cárie entre índios preocupa Funasa
Na tribo dos zoés, recém-contactados, Funai proíbe entrada de doces e balas; escovas de dente serão distribuídas

Jailton de Carvalho

Como se não bastasse o sofrimento com antigas doenças e com a desnutrição infantil em algumas aldeias, os índios brasileiros estão às voltas com mais um problema resultante do encontro com os não-índios: o avanço das cáries dentárias na mesma proporção do crescimento do consumo de biscoitos, doces, balas e outras guloseimas, principalmente entre as crianças.

O problema é tão grave que, a partir de janeiro, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), órgão responsável pela saúde indígena, vai distribuir 1,7 milhão de escovas de dente para aproximadamente 487 mil índios em todo o país.

Depois da chegada do açúcar nas aldeias, crianças de 11 e 12 anos de idade já não têm os pré-molares definitivos. Uma tragédia - afirma a professora Carlota Novaes, coordenadora de magistério nas aldeias dos índios ticunas, no Amazonas.

Carlota chama a atenção especialmente para o drama dos ticunas com quem trabalha há alguns anos, como voluntária pela Organização Geral dos Professores Ticunas Bilíngües. No entanto, alerta que o sofrimento é partilhado também por índios tabajaras, tapebas, pitaguaris, tremembés, jenipapos e canindés, no Ceará; pelos xucurus e fulnio-ôs, em Pernambuco; pelos cambebes, caexanas e cocanas no Amazonas; e pelos potiguaras, na Paraíba.

São povos indígenas que a professora conhece de perto.
Mas a cárie é um problema generalizado em quase todas as 280 tribos do país.

- Os índios estão numa situação muito parecida com as de crianças da zona rural e de algumas favelas - afirma Carlota.

Alimentos com carboidrato e açúcar na merenda escolar
O fantasma da cárie não é novo nas aldeias, mas está se tornando mais visível com a crescente disseminação de biscoitos e doces entre os índios. Algumas guloseimas, repletas de carboidratos e açúcares, estão na merenda escolar, são levadas por visitantes incautos ou, em muitos casos, são compradas pelos próprios índios nas visitas que fazem às cidades.

Preocupado com a conseqüências das cáries na saúde em geral dos índios, o presidente da Funai, Márcio Meira, proibiu a entrada de biscoitos e balas na reserva dos índios zoé, uma tribo do Pará, recém-contactada por técnicos do órgão.

Lá não entra doce de espécie alguma - afirma Meira.

Nas aldeias que interagem com não-índios há mais tempo, a proibição é inútil. A alternativa é a distribuição de escovas de dente. A Funasa também repassará aos índios 1,6 milhão de tubos de creme dental, 400 mil protetores de cerdas e 200 mil caixas de fio dental.

Distribuição de kits custará R$ 1,9 milhão ao governo
O programa prevê a doação de quatro kits (escova, pasta e fio dental) por um ano, um kit a cada três meses. A licitação para a compra do material foi concluída mês passado e custará aos cofres públicos R$ 1,9 milhão. Esta não é a primeira vez que a Funasa distribui escovas para os índios.

O Globo, 23/12/2007, O País, p. 14

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.