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Atentado destrói embarcação comunitária em Canavieiras

Conservação Internacional - www.conservacao.org
22 de Mai de 2009

Na madrugada da última quarta-feira (20/05) cinco canoas de fibra que pertencem à Comunidade Extrativista dos Campinhos, em Canavieiras (586 km de Salvador), foram atacadas por pessoas que se mostram inconformadas com os resultados positivos da Reserva Extrativista (Resex) na região. O grupo, ainda não identificado, espalhou gasolina nas embarcações doadas pela Bahiapesca às associações locais de pescadores e ateou fogo em uma delas, que ficou bastante danificada. As embarcações estavam sendo utilizadas no transporte de materiais de construção para as casas de um programa habitacional do governo, fruto de conquista dos extrativistas da Resex.

A ação criminosa tem indícios de orquestração. Semanas antes, circularam notícias de que opositores da reserva iriam realizar práticas de vandalismo, visando impedir ou dificultar a construção das casas para os pescadores. O ataque é uma demonstração da situação desconfortável dos que se opõem à Resex, diante dos benefícios que a unidade começa a trazer para os extrativistas. A reserva, além de proteger os manguezais e as comunidades que dele vivem, impede a sequência de ações predatórias na região.

Uma comissão composta por lideranças e representantes da comunidade e das colônias de pesca viajou ontem (21/05) para Ilhéus, para registrar denúncia na Delegacia das Capitanias dos Portos, no Ministério Público Federal e na Delegacia da Polícia Federal.,Será solicitada a abertura de inquérito para investigar os desmandos e as intimidações. Para o chefe da Resex Canavieiras, Sérgio Freitas - analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, a destruição de patrimônio público e as ameaças a extrativistas são ações pontuais. "Na verdade, trata-se de um ato de desespero diante do enfraquecimento daqueles que tentam nos inibir e amedrontar".

Na contramão

No mês de abril, um projeto habitacional fruto de parceria entre os governos federal (Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca/Seap), estadual (Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Bahia/Sedur) e a ONG Associação do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Amova) iniciou a construção de 85 casas populares destinadas aos extrativistas. Ainda está prevista a construção de outras 60 moradias que contribuirão para a melhoria da qualidade de vida da comunidade local.

Novos empresários do setor de turismo e hotelaria também estão investindo na região e na implementação da Resex, criando uma perspectiva de valorização e preservação dos recursos naturais como produtos turísticos. Por meio de um projeto coordenado pela ONG Conservação Internacional, estes investimentos estão sendo revertidos na construção de embarcações de apoio às comunidades da reserva e em um censo dos extrativistas para o recebimento de benefícios do governo. Outra iniciativa recente, que também tem o apoio do governo estadual, pretende criar capacidade e estrutura para o beneficiamento do pescado proveniente da região, organizando a comercialização desses produtos.

O ato de vandalismo acontece em um dos momentos mais produtivos da Resex Canavieiras, indo de encontro à proposta de pacificação e desenvolvimento sustentável na região.

Resex: importância vital

Localizada no litoral sul da Bahia, a Resex Canavieiras ostenta uma das maiores áreas contínuas de manguezais do estado, sendo considerada uma região de alta importância biológica. A área total demarcada é de 100.600 hectares de reserva, distribuídas em 83.432,23ha de mar e 17.213ha de área continental. Em toda a região predominam extensas áreas de Mata Atlântica não degradada, um dos biomas mais ricos e ameaçados do planeta, considerado um hotspot mundial de biodiversidade.

Criada em 2006, a reserva, além de sua importância ambiental, representou a expressão de uma necessidade econômica e sociopolítica, sendo a única forma viável que as comunidades tradicionais encontraram para garantir a sua manutenção e sobrevivência. Com uma estrutura sócio-econômica pouco diversificada, o município de Canavieiras conta com um grande contingente populacional relativo que está à margem de qualquer processo de absorção de mão-de-obra formal. São cerca de 11.000 pescadores e marisqueiras cuja sobrevivência depende do acesso aos recursos naturais do estuário e de sua relação sustentável com esse ecossistema.

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