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Atenção à Amazônia

CB, Opinião, p.10
02 de Ago de 2004

Atenção à Amazônia

Há tempos o governo e a sociedade debatem formas de fazer o país crescer economicamente sem destruir o meio ambiente. Essa preocupação tem especial relevância na produção de soja, no aumento da área reservada à criação de gado e na manipulação de produtos à base de madeira. Hoje, ao mesmo tempo que ganham status de motores do crescimento brasileiro, a agricultura e a pecuária atiçam a sensibilidade dos ambientalistas e motivam inúmeros debates - alguns, muitas vezes, apaixonados e, como tais, desprovidos de bom senso.

Mas o fato é que as políticas ambientais merecem, cada vez mais, uma atenção diferenciada - principalmente depois de conferidos e analisados os dados e as opiniões apresentados numa conferência realizada na semana passada, em Brasília, sobre assuntos relacionados à atmosfera e biosfera.

Por exemplo: a destruição lenta e agonizante da Floresta Amazônica, a partir de queimadas e desmatamentos, pode um dia vir a afetar todo o sistema hídrico do continente sul-americano em função da redução da umidade do ar da região Norte, segundo estudo de um pesquisador do Inpa, o órgão de pesquisas da Amazônia. Em conseqüência, toda a produção agrícola e pecuária da região se inviabializará. E a desertificação se espalhará e faltará água para hidrelétricas.

O cenário é assustador. Convém não ignorá-lo. Já está comprovado cientificamente que a devastação da floresta - perdemos 20 mil quilômetros quadrados de verde a cada ano - influencia sobremaneira o regime de chuvas. Há microrregiões de floresta já transformadas, pela ação nefasta do homem, em savanas.

Portanto, comprovados os efeitos maléficos, há que se agir. Mas como impedir transformações em um dos mais belos e perfeitos ecossistemas do planeta? Mais: como desenvolvê-lo sem destruí-lo? A legislação ambiental brasileira é rígida. Pô-la em prática, um desafio. Faltam fiscais, em razão das definições historicamente equivocadas das prioridades de governo. Falta consciência ecológica àquele empresário distante que apenas tem negócios - madeireiras, boiadas ou minas - nas matas da região. Falta esclarecimento ao prefeito, ao vereador e ao cabloco das cidades ribeirinhas. Em contrapartida, sobram ignorância, ganância e oportunismo a muitos. Daí a necessidade de uma presença forte do Estado, como indutor das políticas e, essencialmente, como fiscalizador.

A Amazônia é, de fato, nossa - mas sua devastação é um problema global. Podemos usar esse fato para, com clareza e sabedoria, buscar ajuda para conservá-la.

CB, 02/08/2004, Opinião, p. 10

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