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Assembléia da Opir discute ensino superior diferenciado

Folha de Boa Vista - Bôa Vista -RR
Autor: Ray Raújo
12 de Mar de 2001

Os indígenas vão propor ao Conselho Estadual de Educação mudança no calendário escolar do ano letivo de 2002

A 8ª Assembléia Estadual da Organização dos Professores Indígenas de Roraima (OPIR), que se encerra hoje, reuniu no sábado, na maloca do Canauanin, mais de 400 pessoas entre professores, diretores, tuxauas e alunos. Um dos principais assuntos discutidos foi a implantação de um curso superior diferenciado para os professores indígenas. Além de índios, participam do encontro professores da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Segundo o coordenador da Opir, Enildo André da Silva, as discussões sobre a formação superior diferenciada acontecem desde o ano passado. "No último encontro, formamos uma comissão com representantes da Universidade (UFRR) e de indígenas. Esta comissão está trabalhando na estruturação do curso, mas isso é um processo demorado", disse.
A grade curricular dos cursos direcionados aos indígenas vai garantir a preservação da língua e cultura dos povos. Para ter a formação diferenciada, segundo explicou Silva, é preciso inserir nessa grade disciplinas ligadas à área indígena, como línguas e cultura. "Nós também queremos que as aulas do curso de nível superior, sejam no período do recesso escolar para não prejudicar o calendário letivo", justificou. Com as discussões deste encontro, o coordenador acredita que a partir do próximo ano o projeto seja implantado.
Como o tema do encontro é "Definindo Alternativas Educacionais", os indígenas também estão discutido a implantação de um calendário escolar diferente para 2002. "Os feriados não são de acordo com nossos costumes. Os brancos comemoram o feriado da Semana Santa somente na sexta-feira e isso prejudica a realização de festas de acordo com nossa cultura. Nós índios comemoramos a Semana Santa da segunda-feira até a Sexta da Paixão", alegou. O documento com a nova proposta de mudança de calendário, elaborado na Assembléia, será encaminhado ao Conselho Estadual de Educação.
A Assembléia da Opir é realizada uma vez por ano e tem como finalidade discutir projetos e alternativas que proporcionem a melhoria da educação indígena, preservando sempre a língua materna e a cultura de cada maloca. Segundo Silva, mais professores não participaram do encontro por falta de transporte.
Recursos para custear educação são insuficientes, alega Opir
Para o coordenador da Opir, os investimentos na educação indígena ainda estão sendo insuficientes. "O próprio Estatuto do Índio, que tramita no Congresso Nacional, não garante ensino superior", criticou Silva.
A exemplo disso, dos professores indígenas do Estado que têm o curso de magistério, são poucos com habilitação em línguas indígenas. "Ano passado, através do Projeto Anikê, 42 professores foram habilitados em história dos povos Macuxi e Wapixana", lembrou o coordenador.
Esse projeto foi financiado pelo Ministério da Educação (Mec) e Fundação Nacional do Índio (Funai). Ele informou que no mês passado, foi enviado ao MEC o projeto de Construção de Conhecimento e Interdisciplinaridade, que tem o objetivo de preparar mais professores em línguas indígenas.
Dos cerca de 480 professores que trabalham em áreas indígenas, aproximadamente 40 não são índios. Alguns deles são da União, outros concursados e grande parte tabela especial.
A maioria das escolas possui boa estrutura física, segundo Silva. "Mas existem algumas que funcionam em casas construídas pelos próprios índios", garantiu.

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