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Artesanato brasileiro, caminho de bons negócios

OESP, Economia, p.B9
06 de Jun de 2004

Artesanato brasileiro, caminho de bons negócios
Com tratamento empresarial, setor conquista mercados no Brasil e no exterior

Fabíola Glenia

Um rádio a pilhas ou um jogo de talheres novos. Bens de consumo tão simples foram as primeiras aquisições de algumas famílias carentes assistidas por programas de incentivo ao artesanato que deram tão certo que estão conseguindo abrir as portas de grandes redes de varejo e, em alguns casos, até exportar.
Iniciativas como o Programa Sebrae de Artesanato e o Artesanato Solidário fogem do modelo assistencialista e caracterizam-se, principalmente, pelo fato de visarem à geração de trabalho e renda para os artesãos e suas famílias a longo prazo, dando tratamento empresarial para o setor.
Depois de identificar comunidades com trabalho artesanal de qualidade e de oferecer oficinas de capacitação, repassando a técnica do mestre-artesão para outros trabalhadores, aprimorando produtos para que tivessem maior apelo comercial, compondo preços, estimulando a formalidade por meio de associações ou cooperativas, era preciso conquistar o mercado.
A Central ArteSol, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) sem fins lucrativos, instalada em São Paulo, funciona como o braço comercial do Programa Artesanato Solidário. "A comercialização é um estrangulamento, por isso o objetivo é fomentar os contatos comerciais", explica Helena Sampaio, coordenadora nacional do programa.
A Central tem um showroom com cerca de 500 produtos de aproximadamente 40 comunidades, além de estoque para pronta-entrega. Lojistas, decoradores, arquitetos e instituições culturais figuram na carteira com mais de 150 clientes.
O Artesanato Solidário conta com o apoio do Sebrae, que também mantém seu próprio programa de incentivo, espalhado por 27 Estados, em cerca de mil municípios e assessorando em torno de 90 mil artesãos. "A proposta é capacitar comportamental, técnica e gerencialmente grupos de artesãos para que consigam fornecer para atacadistas", explica Roberto Mauro dos Santos, coordenador do programa no Estado.
Para ele, a constatação de que o artesanato é uma atividade econômica geradora de renda e empregos é recente. Depois da capacitação, o Sebrae procura facilitar a aproximação entre fornecedores e compradores por meio de feiras atacadistas, rodadas de negócios, divulgação.
Entre as grandes redes de varejo que apostam na força dos produtos artesanais estão C&C, Pão de Açúcar e Tok Stok. No Pão de Açúcar, os artigos chegaram às gôndolas por meio do programa Caras do Brasil, presente em 4 lojas da capital desde agosto e em fase de expansão. "No último fim de semana ampliamos para mais 4 lojas e, a partir do segundo semestre, mais 10 lojas no Rio e outras 4 em São Paulo terão os produtos."
São artigos como mel produzido por comunidades do Parque Indígena do Xingu; farinha de banana do Pará; doces e geléias caseiras de Minas Gerais; cestaria de Mato Grosso do Sul; objetos de decoração do Ceará; entre muitos outros.
"Uma das bases do programa é respeitar a capacidade produtiva das comunidades", diz Beatriz Queiroz, coordenadora do programa. "Nem todos os fornecedores têm capacidade para estar em todas as lojas, mas isso não é um impeditivo." Até o mês passado, foram vendidos mais de 26 mil artigos do Caras do Brasil, de 16 Estados.
Ela faz questão de destacar que, embora tenha um cunho de responsabilidade social, trata-se de um programa de negócios. "É um programa definitivo enquanto for viável comercialmente para os dois lados, e estamos vendo que é viável."
Única fonte de renda do Vale do Ribeira, a bananeira virou matéria-prima para o artesanato. O resultado foi tão bom que almofadas, tapetes, bolsas e sacolas podem ser encontradas na Divina Peças, em Paris, loja do arquiteto e decorador brasileiro Rogério Rykovsky.
Foi pelas mãos dele que, em janeiro, algumas peças do Banarte, principal oficina de artesanato de Miracatu, foram expostas na Maison & Objet, na capital francesa, uma das mais conceituadas feiras de objetos para casa, decoração e presentes.
"O trabalho nas oficinas de artesanato melhorou a auto-estima dos artesãos, aumentou a renda familiar, favoreceu o convívio social", diz Ofélia Redhed Ratti, coordenadora do Projeto Capacitando para Gerar Renda da prefeitura de Miracatu.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, referentes a 2001, o artesanato movimenta cerca de R$ 28 bilhões ao ano no País e emprega em torno de 8,5 milhões de pessoas.

OESP, 06/06/2004, Economia, p. B9

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