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Arte que vem da aldeia

O Liberal-Belém-PA
22 de Dez de 2004

O índio Pituku Waiãpi une tradição e contemporaneidade em 25 telas que são resultado de bolsa concedida pelo IAP

O universo da tribo Waiãpi está nas pinturas que o artista Pituku Waiãpi apresenta até janeiro, no Instituto de Artes do Pará. As 25 telas que compõem a exposição são resultado do trabalho de pesquisa do artista a partir da bolsa de criação e experimentação artística concedida pelo IAP, onde ele explora pigmentos naturais retirados do urucum e do genipapo, além de cipós e folhas.

Vítima da poliomielite, Pituku vive, desde a adolescência, longe da aldeia, na Casa do Índio, em Icoaraci. Veio em busca de tratamento, mas com os membros paralisados, acabou ficando de vez. Tetraplégico, aprendeu a pintar com a boca e acabou fazendo da pintura uma forma de expressão e de se relacionar com a aldeia e com as tradições da tribo que ficaram distante.

Foi mesmo a pintura que o levou de volta à aldeia Waiãpi - situada às proximidades da Serra do Navio, no Amapá, onde vivem cerca de quatro mil índios. Lá ele ficou, entre junho e agosto, pesquisando pigmentos e suportes que se integram às tintas acrílicas nos trabalhos, em geral em pequenos formatos, onde ele resgata a influência da arte tradicional Waiãpi de pintura corporal e pintura plumária numa linguagem contemporânea.

Hoje, Pituku vive e trabalha na Casa do Índio, onde contratou uma pessoa especialmente para atendê-lo e se tornou bem conhecido entre os técnicos da Fundação Nacional de Saúde que trabalham no local e dos índios de outras etnias que passam pelo local em busca de tratamento médico. As pinturas de Pituku, claro, não passam despercebidas. "Quando eu estou no quarto pintando, eles chegam para ver e gostam", ressalta Pituku, que acaba tendo como público os índios de várias etnias, como os Kaiapó, Wai-wai, Munduruku e Tembé.

A exposição ficará no ateliê de artes do IAP (ao lado da Basílica de Nazaré) até 15 de janeiro, dentro da Mostra Arte Final, que reúne os trabalhos de todos os bolsistas da instituição. Depois, segue para a sede da Fundação Nacional do Índio, em Brasília, e depois, a convite da Funasa e do Ministério da Cultura, para o Rio de Janeiro.

Desde 1997, Pituku vem participando de salões e exposições de arte. Começou com o Arte Pará, por incentivo de uma amiga branca que conhecia os trabalhos dele e que o instigou a colocar na pintura um pouco sobre o modo de vida dos índios. "Eu fiz três folhas de papel e ela colocou nas molduras", conta. Depois, vieram o Salão Pequenos Formatos da Universidade da Amazônia, em 1998, e mostras na Universidade Federal do Pará e em São Luís. Recentemente, Pituku participou de um salão em Bauru, e pela segunda vez expõe em uma mostra organizada pelo IAP.

E não fica por aí: já tem exposições marcadas para 2005. "Eu ganhei uma bolsa na Suíça, há um ano e meio, dada por uma associação de pessoas que pintam com os pés e a boca. Agora chegou um convite para eu participar de uma exposição no Rio de Janeiro. Vai ser a primeira vez que eu vou ao Rio".

Mas a pintura foi, no começo, para Pituku, uma espécie de terapia. Atingido pela pólio quando tinha apenas um ano de idade, foi trazido para Belém, em busca de tratamento médico. Teve as duas pernas operadas, fez fisioterapia, mas acabou imobilizado e não voltou à aldeia até quando completou dez anos, quando foi aprender a língua do seu povo.

Em 1996, numa passagem pelo Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília, para tratamento médico, ele descobrir outras pessoas da mesma situação que ele e que pintavam quadros usando os os pés e a boca para manipular os pincéis.
"Eu gostava de ver essas pessoas pintando e, uma vez, o professor deles, o Antônio, me viu e perguntou se eu queria pintar também. Disse que eu não sabia, mas ele falou que não importava se o que eu fizesse fosse feio ou bonito. Só que eu pintasse".

Com a mesma boca com que aprendeu o idioma de sua etnia e o português, do homem branco, Pituku também aprendeu a se expressar de outra forma.
Supera as barreiras físicas para soltar a sensibilidade e imaginação e faz da arte sua forma de estar no mundo, criando telas que servem de guias seguros para sua história e de seu povo.

Serviço - Exposição "Ia Mobirã", obras do artista plástico Pituku Waiãpi. No IAP (Praça Justo Chermont, ao lado da Basílica de Nazaré). Visitação até 15 de janeiro, no horário comercial. Informações: 212-1493, 4006-2930 e 4006-2931.

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