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Área homologada mostra diferença entre modo de vida indígena e de colonos

Agência Brasil - www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/09/04/materia.2009-09-04.8527902499/view
Autor: Marco Antonio Soalheiro
04 de Set de 2009

Dourados (MS) - Homologada em 2004, a aldeia de Panambizinho, é citada como exemplo pelos grupos favoráveis e contrários ao reconhecimento de áreas indígenas na região.

Os índios e antropólogos dizem que a vida das comunidades melhorou. Os colonos que deixaram a área, entretanto, acusam os índios de preguiça e de desperdiçarem terras que eram produtivas. A aldeia de Panambizinho abriga 400 índios em 1,2 mil hectares a 25 quilômetros de Dourados.

A estrada que hoje separa a área particular da terra indígena já evidencia diferenças. Do lado privado, há plantações extensas. Do lado demarcado, um pasto não trabalhado bastante alto, onde se destaca o colonião, uma espécie de capim.

As moradias indígenas, por sua vez, são melhores do que as de outras reservas da região onde há grande concentração populacional. As famílias continuam recebendo duas cestas básicas por mês - uma do governo federal e outra do governo estadual.

Dentro da aldeia, num caminho por estradas de terra que parecem labirintos em meio à vegetação alta, chega-se à casa de madeira do capitão Valdomiro Aquino, herdada de colonos. No local moram sete pessoas, entre adultos e crianças sorridentes, que se espalham em colchões por três cômodos. A casa tem televisão, geladeira, DVD e som.

Ao lado, ele cria 12 vacas, 15 porcos e 42 galinhas. Planta mandioca que "dá para passar o resto da vida", um pouco de milho, batata, tomate e melancia. Mas admite que a vida "seria muito apertada" se não tivesse cesta básica, mesmo considerando o direito à terra mais importante.

O capitão explicou o ideal de vida indígena. "Nossa vida não é para ficar rico. Queremos ficar é com um espaço bem adequado para as crianças, filhos e netos. Cesta básica não é tão importante para nós. O mais importante é terra e água. Nossa vida é a cultura da gente, com reza [atualmente contra o suicídio e a influenza A (H1N1) - gripe suína] e tradição."

Esse modo de vida não é compreendido pelas 38 famílias de colonos que foram indenizados pelas benfeitorias e reassentados para deixar a área aos índios. Eles se sentem injustiçados.

"A gente fica aborrecido porque era gente que trabalhava, de idade, que tinha tudo para ficar tranquilo. Agora os índios deixam mato e abandono. Tudo que se planta naquela terra dá", criticou Maria Rosa Cardoso, 50 anos, cuja família ocupava 10 hectares na área desapropriada.

Ela também afirmou que a Terra do Boi, área a 110 quilômetros de Panambizinho onde os colonos foram reassentados em pedaços um pouco maiores, é imprópria para o cultivo, diagnóstico confirmado pelo Sindicato Rural de Dourados.

"A soja produziu pouco, o milho não produziu nada, a terra é areia pura. Ninguém teve boa colheita lá até hoje", lamentou Rosa, que mantém um comércio no distrito de Panambi.

Produtor rural vizinho à aldeia, João Batista se solidariza aos colonos que tiveram de deixar a região. Segundo ele, na área se produzia soja no verão e milho safrinha no inverno e hoje "não se colhe uma carroça". "[O índio] vive ali igual a um animal", disse.

Para Batista e Rosa, o governo federal deveria descartar novas desapropriações de terras para beneficiar índios na região.

"Não adianta dar terra e não ter uma infraestrutura. O índio vai comer terra?", questionou Batista. "Não podem cometer outro erro na região e tirar os produtores de lugar. É triste e dará prejuízo ao governo, que vai perder impostos", argumentou Rosa.

Segundo o capitão Valdomiro Aquino, os índios passaram por muitas dificuldades depois de 1940, quando houve a colonização da região. A comunidade vivia em apenas 60 hectares, faltava espaço para construir moradias à medida que as famílias cresciam. Segundo ele, o não aproveitamento de toda a terra homologada é, em parte, proposital e justificado por questões de tradição, técnicas e ambientais.

"Alguém vai morar ali. Quando casar as filhas, já tem espaço para morar e criar coisas. E a gente não planta tanto assim porque colocaram muito veneno nessa terra. A gente não quer isso porque amanhã crianças podem nascer deficientes", disse Aquino.

"Tem gente que fala que não trabalhamos. A gente trabalha, mas não temos trator suficiente. A Funai [Fundação Nacional do Índio] manda um trator para atender várias aldeias e diz que não tem verba agora [para ajudar nas plantações], aí a gente tem que esperar."

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