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Área devastada ofusca o desenvolvimento sustentável no País

GM, Meio Ambiente, p. A6
05 de Nov de 2004

Área devastada ofusca o desenvolvimento sustentável no País

Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) 2004, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram um Brasil que melhorou, relativamente, seu desempenho nas áreas social e econômica, mas que enfrenta sérios problemas na área ambiental. A área devastada no País foi crescente. Na Amazônia, o desmatamento atinge cerca de 20 mil a 25 mil quilômetros quadrados por ano. Mais ou menos um Estado de Sergipe a cada 12 meses.
As queimadas e incêndios florestais continuam sem controle, com tendência a aumento e destruindo grandes áreas de vegetação. Ainda no quesito ambiental, o Brasil, conforme o IDS, é responsável por 10% do mercado mundial de tráfico de animais silvestres, um negócio que movimenta cerca de US$ 10 bilhões por ano. De acordo com os técnicos do IBGE, a estimativa é que 30% desses animais negociados pelo tráfico no Brasil sejam exportados.
O Brasil é considerado um dos 12 países dotados da chamada megadiversidade, que, juntos, abrigam 70% da biodiversidade do planeta. Mas, conforme alertam os técnicos do IBGE, existem 398 espécies de animais terrestres sob risco de extinção no País. No Brasil, 82% dos animais apreendidos com os traficantes entre 1999 e 2000 são aves, parte dos 38 milhões de animais retirados ilegalmente da natureza no mundo todo.
"Se o País continuar nesse ritmo vai caminhar para dilapidar seu patrimônio natural em curto espaço de tempo", disse o coordenador da pesquisa no IBGE, Wadih João Scandar Neto. O desmatamento na chamada Amazônia Legal (que inclui o Maranhão, Mato Grosso e Goiás) saiu de 440 mil quilômetros quadrados em 1992 para 631 mil quilômetros quadrados em 2002. O Pará e o Mato Grosso são os dois estados com maiores áreas devastadas. No Pará, os 151,7 mil quilômetros quadrados desmatados em 1992 subiram para 215,7 mil quilômetros quadrados em 2002. No Mato Grosso, os 91,2 mil quilômetros quadrados em 1992 saltaram para 158,2 mil quilômetros quadrados em 2002.
O IDS reuniu 59 indicadores divididos em quatro áreas de interesse – ambiental, social, econômica e institucional – que dão a dimensão da sustentabilidade do modelo de desenvolvimento brasileiro. Os parâmetros que serviram de referência foram fixados pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável da ONU. "Para analisar o desenvolvimento de uma sociedade é preciso avaliar essas quatro dimensões", disse Scandar.
A área ambiental, apesar de tudo, também mostrou evolução em alguns indicadores. Por exemplo, houve redução do consumo de substâncias destruidoras da camada de ozônio, superando as metas estabelecidas pelo Protocolo de Montreal. O consumo de CFC, utilizado em refrigeradores, aerossóis, solventes e extintores de incêndio caiu de 11,1 mil toneladas, em 1992, para 4,3 mil toneladas em 2003.
Na região metropolitana de São Paulo, por exemplo, a concentração de poluentes caiu 23% entre 1995 e 2003, saindo de 22.013 microgramas/m³ para 16.861 mg/m³ em 2003. No Rio de Janeiro, a queda foi ainda mais forte. Em 1999, a concentração de poluentes atingia 75.650 mg/m³. No ano passado, caiu para 6.917 mg/m³.
"Isso demonstra que as ações de despoluição nas áreas urbanas vêm dando resultado", disse Scandar. Uma delas é o maior controle sobre a manutenção dos veículos.
A quantidade de fertilizantes utilizados cresceu duas vezes e meia em 10 anos. Em 2002, para 53,5 milhões de hectares plantados, os agricultores utilizaram 7,6 milhões de toneladas de fertilizantes. No mesmo ano, apenas o Paraná e Rio Grande do Sul consumiram 2,1 milhões de toneladas. Contudo, o uso de defensivos manteve a estabilidade nos últimos anos. O IDS revelou que os agricultores vêm optando por produtos menos tóxicos.
Baixa taxa de investimento
O desenvolvimento sustentado da economia brasileira requer taxas de investimentos superiores à atual. Essa foi uma das conclusões dos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS) 2004, divulgado, ontem, pelo IBGE. Nos últimos 11 anos, a taxa de investimento em relação ao PIB ficou praticamente estável, variando entre 18,42% do PIB em 1992 e 18,04% em 2002.
"São taxas baixas para países em desenvolvimento", disse o técnico responsável pela análise das informações econômicas dos IDS, Flávio Bolliger. A ideal para economias como a brasileira, conforme reiteram os economistas, gira em torno de 25% do PIB.
Outro indicador apurado pela pesquisa do IBGE foi relativo ao comportamento da demanda por energia e à participação da energia renovável na matriz brasileira. O consumo de energia per capita no Brasil passou de 36,3 GJ (Giga Joule)/habitante em 1992 para 42,6 GJ/hab em 2002. Paralelamente, houve uma queda da participação relativa da fonte renovável em relação ao consumo total, basicamente em função da operação das termoelétricas.
Em 2002, 41% da energia do País era proveniente de fonte renovável (em 92 representava 47,5% do total) e 59% de fonte não renovável (em 92 era 52,5%). O consumo de gás, nesse período, saiu de 3,5% para 7,5%. "O gás é uma fonte de energia limitada, pode acabar, mas reduz a poluição", disse o coordenador da pesquisa no IBGE, Wadih João Scandar Neto.
Na área social, a maior parte dos indicadores é positiva, apesar do ritmo lento de crescimento do nível de escolaridade. Caiu o número de internações motivadas por um grupo de doenças relacionadas à falta de saneamento. Em 1993, houve 730 internações por 100 mil habitantes, enquanto em 2002 foram 375 por 100 mil habitantes.
O coeficiente de mortalidade por homicídios é um dos poucos que apresentaram piora nos resultados. Em 1992, foram 19,21 mortes por homicídios em cada 100 mil habitantes. Em 2002, foram 27,84 em cada 100 mil habitantes, refletindo o crescimento da violência no País.

GM, 05-07/11/2004, Meio Ambiente, p. A6

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