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Área devastada da Amazônia tem redução de 31%, diz governo

OESP, Vida, p. A14
06 de Dez de 2005

Área devastada da Amazônia tem redução de 31%, diz governo
Ministério afirma que área desmatada passou de 27.200 mil km2 para 18.900 km2

Gilse Guedes
Com Cristina Amorim e AFP

A área desmatada na Amazônia Legal foi de 18.900 quilômetros quadrados entre 1o de agosto de 2004 e 31 de julho de 2005, divulgou ontem a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, em Brasília. O número representa uma queda de 31% em relação ao período entre 2003 e 2004, que foi de 27.200 km2.
A redução no ritmo de desmatamento na Amazônia foi comemorada pelo governo, já que o número divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) do ano anterior não foi nada favorável: era 11% acima do que foi derrubado entre 2002 e 2003, o que indicava as fraquezas do plano federal contra o desmatamento na Amazônia.
Os dados mostrados ontem são apurados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) com base no sistema Prodes, a fonte mais precisa de avaliação por satélite que o governo tem hoje para calcular a área desmatada anualmente.
Em agosto, o ministério chegou a divulgar números bastante diferentes dos mostrados ontem - que indicavam uma redução de 50% - com base em outro sistema do Inpe, o Deter. Formatado como uma ferramenta para ações de fiscalização, ele é mais ágil do que o Prodes e fornece imagens a cada 15 dias, mas de forma bem mais imprecisa. Na época, apesar de uma certa euforia por parte de representantes do governo, inclusive de Marina, o Inpe lembrava que os dados do Deter indicavam apenas uma tendência à queda.
SOB A LUPA
"Pode haver uma variação no índice porque há uma margem de erro de 5% para mais ou para menos", diz o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. Isso explica o porquê do aumento nas áreas no período entre 2003 e 2004: a taxa preliminar indicava um crescimento de 6% em relação a 2002-2003 e ficou, na análise final das imagens, em 11%. De 2002 a 2003, o aumento no índice de desflorestamento ficou em 6% em comparação com o período de 2001 a 2002.
Segundo Câmara, o desmatamento de 2004-2005 ocorreu mais em algumas áreas, como o sudeste do Pará e sul do Amazonas. Cresceu menos em áreas onde o governo teve forte atuação, como na região da BR-163, que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA) e pode ser asfaltada. A lista de cidades e Estados que mais perderam árvores, tradicionalmente divulgado pelo Inpe, será divulgado apenas com o número consolidado.
"A queda no índice de desmatamento é reflexo do trabalho desenvolvido por 13 ministérios que compõem o grupo permanente de trabalho interministerial sobre desmatamento na Amazônia", afirma o o secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco. Desde 2003, houve apreensão de 582 mil metros cúbicos de madeira, 26 tratores, 54 caminhões e 459 motosserras. Foram emitidos R$ 1,8 bilhão em multas e 241 pessoas foram presas.
Para os ambientalistas, a relação entre causa e efeito não é tão simples quanto pinta o governo. Ações previstas no plano não foram colocadas em prática, enquanto outras são isoladas e não refletem um projeto de contenção permanente.
"O resultado não é para ser comemorado, uma vez que é um número alto de desmatamento. Mas é um passo na direção correta", diz Paulo Adário, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Segundo ele, ainda é cedo para dizer que a redução é uma tendência. Adário lembra que o índice é reflexo de outros fatores, entre eles a queda do preço internacional da soja (que estimula a derrubada da floresta principalmente no sul da região), a ação policial que se seguiu à morte da missionária americana Dorothy Stang, em fevereiro, e a Operação Curupira, que deflagrou um esquema de corrupção envolvendo madeireiros e fiscais em Mato Grosso.
Também a ONG WWF coloca o pé no freio ao analisar os números divulgados por Marina. "Se houver novamente a valorização de produtos agrícolas, a multa aplicada pelo Ibama pode valer a pena financeiramente para os que destroem a floresta", diz Mauro Armelin, coordenador de políticas públicas da organização. "A pergunta-chave é: aonde o governo quer chegar, qual é a meta de redução de desmatamento anual? Sem ela, é difícil medir resultados e planejamento a longo prazo."

OESP, 06/12/2005, Vida, p. A14

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