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Arco e flecha na Cidade Proibida

JB, Caderno B, p. B8
25 de Mai de 2004

Arco e flecha na Cidade Proibida
Mostra exibe produção indígena em Pequim

Paula Santos
Especial para o JB

O Museu do Palácio Imperial de Pequim, na China, mais conhecido como Cidade Proibida, inaugura hoje pela primeira vez uma exposição concebida por um grupo estrangeiro. A mostra Amazônia: native traditions, organizada pela Brasil Connects, exibirá 344 peças de artesanato indígena brasileiro na construção que serviu de residência oficial dos imperadores de 1420 a 1924. O presidente Lula, que pisou em solo chinês no sábado, incluiu a abertura da mostra na agenda de sua viagem à China, a mais importante de seu mandato, segundo ele próprio.
- A Cidade Proibida é o maior ícone da cultura chinesa. É um reconhecimento do Brasil como um parceiro importante - diz João Carlos Veríssimo, presidente-executivo da Brasil Connects, empresa cujo presidente, Edemar Cid Ferreira, dirige o Banco Santos.
Veríssimo conta que as negociações para a exposição começaram em 2001, quando a empresa participou da visita do então presidente Fernando Henrique Cardoso à China.
- Enquanto era negociado um protocolo bilateral de comércio Brasil-China, negociamos um intercâmbio cultural. O primeiro passo foi concretizado no ano passado, com as exposições Os guerreiros de Xi'am e Os tesouros da Cidade Proibida, em São Paulo. Amazônia: native traditions é a contrapartida - explica Veríssimo.
Segundo Emilio Kalil, diretor executivo de projetos culturais da Brasil Connects, o conceito de retribuição é característico da cultura chinesa e foi essencial na realização da exposição.
- Elas chamam a isso guan xi, que significa relação de confiança, amizade, reciprocidade. Por termos visitado a China em 2001 e estarmos voltando agora, conquistamos isso - conta Kalil.
Segundo os organizadores, o tema brasileiro que mais interessa aos chineses é a cultura indígena. Para mostrá-la foram selecionadas peças do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, do Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará, e da coleção do Instituto Cultural Banco Santos, em São Paulo. As peças, produzidas por diversas tribos indígenas da região amazônica, têm tanto um caráter utilitário - como cestos, arcos, flechas e um ralador de mandioca - quanto ritualístico e estético, como urnas funerárias e diademas de penas (cocar).
A exposição é dividida em duas seções: uma, com curadoria da antropóloga Cristiana Barreto, mostra peças arqueológicas de até 8 mil anos de idade. A segunda conta com peças mais recentes, produzidas até 2003, sob curadoria do também antropólogo Luis Donisete Grupioni.
- A parte arqueológica ajuda a entender o surgimento de suas culturas, além de mostrar como os indígenas teorizam sobre a criação do mundo e seus rituais xamânicos - explica Cristiana.
A outra seção revela como se dá a produção da vida social, dividida entra atividades materiais e espirituais.
- Mostramos tanto a divisão de trabalho entre os sexos quanto os diversos ritos de passagem - acrescenta Donisete.

JB, 25/05/2004, Caderno B, p. B8

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