VOLTAR

Aracruz Celulose perde terras para índios

CB, Brasil, p. 21
29 de Ago de 2007

Aracruz Celulose perde terras para índios

Ullisses Campbell
Da equipe do Correio

Depois de 11 anos de espera, os índios tupiniquins e guaranis receberam ontem a confirmação de que são donos de 10 mil hectares das terras em que está instalada a empresa Aracruz Celulose, no norte do Espírito Santo. Na semana passada, o ministro da Justiça, Tarso Genro, já havia assinado outras portarias declarando mais sete territórios indígenas: cinco no Amazonas, um no Acre e um no Mato Grosso, somando ao todo 419 mil hectares e beneficiando pelo menos 3 mil índios. De abril a agosto deste ano, 710 mil hectares já foram assegurados a tribos.

No caso da Aracruz, os índios conseguiram as terras depois de muita luta. No ano passado, cerca de 200 tupiniquins e guaranis derrubaram cerca de três hectares de eucaliptos, próximos ao viveiro de mudas da Aracruz Celulose, para protestar contra a empresa. A derrubada, segundo os índios, foi uma forma de cobrar da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Ministério da Justiça mais agilidade na demarcação das terras ocupadas pela empresa, que é a maior produtora de celulose do mundo.

A Aracruz Celulose diz que comprou de particulares a área reivindicada pelos índios na década de 1960. No entanto, a Funai não reconheceu os documentos apresentados pelos advogados da empresa e alegou que, naquela época, a área já estava identificada como território indígena.

A portaria que repassou as terras aos índios foi publicada no Diário Oficial da União de ontem. Agora, a Funai deve delimitar a terra, colocando marcos físicos nos seus limites. Após essa etapa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva homologa a terra. "A devolução dessas terras aos índios representa uma vitória", diz o antropólogo Matheus Salvatori, da Universidade de Campinas (Unicamp).

De saída
Em fevereiro de 2006, a Funai já havia publicado um relatório reconhecendo a área como indígena. Mas a Aracruz Celulose contestou o relatório, questionando a identidade étnica dos tupiniquins e dos guaranis. O governo federal analisou a contestação da empresa e, em setembro, manteve a decisão de repassar as terras aos índios. No entanto, em março deste ano, o então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos resolveu não publicar a portaria e devolveu o processo para a Funai, solicitando que fosse feita uma conciliação entre a empresa e os índios.

Em julho deste ano, os índios invadiram parte das terras, promovendo derrubadas de plantações e reconstruíram aldeias que haviam sido destruídas no ano passado numa ação da Polícia Federal, solicitada pela Aracruz Celulose. "A portaria assinada pelo ministro Tarso Genro é incontestável. Assim que o presidente homologar a portaria, a empresa deve sair do local", diz o advogado da Funai, Pedro Carlos.

Em 1996, os índios reivindicaram pela primeira vez as terras ocupadas pela Aracruz. Caciques tupiniquins e guaranis, no entanto, resolveram fazer um acordo com a empresa, que prometeu benesses caso eles aceitassem ficar com apenas 7 mil hectares. O MP contestou esse acordo. Um estudo antropológico feito pela Funai revelou, na época, que os índios tinham direito a 18 mil hectares, desencadeando, a partir daí, uma luta pela devolução da área que se encerrou ontem.

CB, 29/08/2007, Brasil, p. 21

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.