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Aracruz Celulose manda polícia para cima dos índios Tupinikim e Guarani

Rede Contra do Deserto Verde -Vitória -ES
22 de Out de 2004

A Rede Alerta contra o Deserto Verde no Espírito Santo vem denunciar ao público a forma autoritária e desrespeitosa com a qual a Aracruz Celulose tem reagido a uma ação legítima de protesto dos Índios Tupinikim e Guarani no Espírito Santo.

No dia 12 de outubro, 84 famílias indígenas iniciaram o corte, que durou vários dias, de cerca de 1000 árvores de eucalipto pertencentes à Aracruz Celulose, trazendo as toras para a área da aldeia de Caieiras Velhas, em protesto contra a decisão da empresa não fornecer mais resíduos de eucalipto, que sobram depois do corte das árvores para a produção de celulose. As 84 famílias coletam e vendem esses resíduos, sendo sua principal e quase única fonte de trabalho e sobrevivência.

A Aracruz Celulose teve duas reações ao ocorrido. De imediata, entrou na Justiça Comum da Comarca de Aracruz para pedir uma reintegração de posse, diretamente concedido pelo Juiz da 2ª Vara Civil, Marcelo Pimentel. Ao mesmo tempo, a Aracruz mandou uma notificação para FUNAI, solicitando que interviesse para que os Índios devolvessem, num prazo de 72 horas, a madeira cortada.

No dia 18 de outubro, o comandante da Polícia Militar (PM), acompanhado por vários soldados e do Serviço de Inteligência da Polícia, anunciou que o batalhão de choque da PM viria no dia seguinte para cumprir a liminar do Juiz de Aracruz. Afirmou ainda que os índios estavam roubando madeira da terra da Aracruz. É bom lembrar que a área, onde o corte foi realizado, já foi reconhecida como área indígena, porém ainda não demarcada porque o Governo Federal cedeu em 1998 às pressões da Aracruz Celulose para reduzir a área indígena a ser demarcada naquele momento.

No dia 19 de outubro, cerca de 400 índios Tupinikim e Guarani se mobilizaram para esperar o batalhão de choque da Polícia Militar. Estavam decididos para resistir. No entanto, o batalhão não veio cumprir a liminar, após intermediação do Governo Estadual. Posteriormente, o Juiz Pimentel revogou sua própria decisão quando descobriu que se tratava de um conflito envolvendo comunidades indígenas. Vale esclarecer que a Aracruz, no seu pedido de reintegração de posse, citou um não-índio que estaria no meio dos índios, para insinuar que o problema era com não-índios, um tipo de problema cuja resolução compete à Justiça Estadual, enquanto qualquer questão judicial que envolve os povos indígenas é da competência da Justiça Federal.

Ressaltamos que a única reivindicação dos índios é que a Aracruz venha até a aldeia para dialogar a revisão da sua decisão não ceder mais os resíduos a famílias cuja sobrevivência depende exatamente dessa atividade, por falta de alternativas para comunidades cercadas por um mar de eucalipto. Mas em vez de dialogar, a Aracruz mostra sua face mais perversa, mandando polícia para cima dos índios. O cacique Guarani, Antônio Carvalho, lembrou bem o seguinte: "Quando a Aracruz entrou nas nossas terras, derrubando nossas matas, matando os bichos, os peixes, secando nossos rios, onde estavam as polícias?"

Neste momento, os Índios estão aguardando a vinda na próxima 2ª-feira de um grupo da FUNAI de Brasília que virá tentar intermediar o conflito. Porém, prometem continuar com o movimento se a Aracruz não se dispuser a sentar com os Tupinikim e Guarani na área indígena para rever sua decisão não mais ceder resíduos de eucalipto. Os movimentos, entidades e comunidades que participam da Rede Deserto Verde no Espírito Santo tão solidários com os Tupinikim e Guarani, repudiando a postura e a ação da Aracruz Celulose, uma empresa que diz ter responsabilidade social e que hoje também se orgulha em ser portador do certificado FSC para parte das suas plantações, um selo que deveria garantir que sua ação é benéfica para as comunidades locais.

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