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Aquecimento provoca migração global de peixes

OESP, Metrópole, p.D6
31 de Mai de 2014

Aquecimento provoca migração global de peixes
Animais marinhos estão indo para águas mais frias, prejudicando pescadores nos trópicos e favorecendo empresas islandesas

Jamil Chade
ENVIADO ESPECIAL / REYKJAVIK

Com um iPad na mão, um binóculo e uma roupa especial para se proteger do frio polar, biólogos de diversos países saem pelos mares da Islândia em busca de informações sobre o percurso que baleias, golfinhos e outros peixes possam estar fazendo. A meta é tentar entender se essas populações estão migrando de outras regiões do mundo para as portas do Polo Norte e até que ponto as mudanças climáticas estão afetando a população marinha.
O Estado embarcou em uma dessas missões lideradas pela Universidade da Islândia, ao lado de pesquisadores da Itália, França, Alemanha e Estados Unidos. Estudos dos últimos anos concluem que mais de mil espécies comerciais de peixes poderão sofrer uma mudança dramática emigrar de locais onde estiveram por séculos para águas mais frias.
Uma das pesquisas revela que, até 2050, os mares passarão por uma mudança de sua população, com peixes deixando as áreas tropicais, cada vez mais aquecidas, para buscar refúgio nos polos do mundo. Segundo a pesquisa, realizada em cooperação entre as universidades de East Anglia, Princeton e a de British Columbia, até 2050, 60% da população de peixes sofrerão um deslocamento.
Um dos aspectos mais relevantes da previsão se refere ao futuro do bacalhau. A constatação é que, com a migração, aquecimento das águas e pesca contínua, a população mundial do peixe poderia diminuir pela metade até 2050. O atum também pode ser um dos peixes que promoverão uma forte migração.
O resultado seria, para diversas partes dos trópicos, a extinção da presença de algumas espécies, o que traria consequências devastadoras para pequenos pescadores da costada África e na Ásia, principalmente nos mares próximos da Malásia.

Mercado.
Na avaliação do projeto Pesca Sustentável da Universidade de Cambridge, a indústria pesqueira mundial poderá perder até US$ 41 bilhões por causa das mudanças climáticas. Oceanos mais quentes e ácidos podem afetar 400 milhões de pessoas pelo mundo, principalmente nos trópicos, que dependem da pesca para viver.
Uns perdem, outros ganham. Para alguns cientistas, locais como Rússia, Noruega e Islândia devem ser beneficiados pela migração. O Greenpeace já avisa que, no Ártico, barcos cada vez maiores de pescadores estão se aventurando nas águas do Norte, em busca de mais peixe e aproveitando que a camada de gelo na região é cada vez menor. O que contribui é o degelo de certas regiões e verões mais longos, permitindo uma "corrida ao ouro".
"Um novo oceano está sendo criado e, pela primeira vez na história, isso vai resultar em uma transformação monumental", declarou o presidente da Islândia, Ólafur Ragnar Grímsson, há duas semanas, em uma conferência promovida pelo Google.
Grímsson também confirmou que a migração dos peixes já é uma realidade e vem abrindo tensões diplomáticas entre seu país, a Noruega, a União Europeia e as Ilhas Faroe. Antigos acordos de fronteiras de pesca podem simplesmente não fazer mais sentido em poucos anos.
Um levantamento da Universidade de Queensland aponta que "a fronteira das espécies marinhas está se deslocando aos polos em uma taxa média de 72 km a cada dez anos".
O Estado visitou a poderosa Associação de Proprietários de Navios da Islândia e constatou o otimismo do setor diante das "novas oportunidades". "Dobramos nossas exportações de peixes em cinco anos", comemorou Sveinn Hjartarson, economista-chefe da entidade.

Temporário.
Mas ecologistas e pesquisadores alertam que não existe nenhuma garantia de que a migração e o degelo signifiquem que haverá uma bonança de peixes no médio prazo. Se em um primeiro momento os mares do Norte poderão dar uma impressão de uma super população de peixes, os estudos alertam que, em 50 anos, a região será um deserto marinho.
Um dos motivos é que o mar na região é profundo demais (até 4 mil metros) para muitas das espécies que teriam de migrar. Outro obstáculo seria o grau de acidez nos mares, diante da absorção cada vez maior de CO2, segundo estudos feitos pelo United States Geological Survey na região do Alasca.
Segundo um estudo da Universidade de Tromso, a produtividade de algas nos mares do Norte deve desabar até 2050, em mais um sinal de que a população de peixes não durará.

OESP, 31/05/2014, Metrópole, p.D6

http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,aquecimento-globa…

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