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Aquecimento global vai triplicar escassez de água

CB, Mundo, p. 28
22 de Mar de 2007

Aquecimento global vai triplicar escassez de água
Relatório prevê que aumento de 2 graus Celsius na temperatura terá impacto sobre recursos hídricos e atingirá 2 bilhões de pessoas

Da Redação

O aquecimento global pode triplicar um problema que já atinge bilhões de pessoas: a escassez de água. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), uma em cada quatro pessoas no mundo não tem acesso a água potável e 40% da população mundial não dispõe de serviços de saneamento básico.

Segundo um relatório preliminar da organização, obtido pela agência de notícias France Presse, os especialistas estimam que um aumento de 2 graus Celsius na temperatura média da Terra fará com que os recursos hídricos diminuam, tornando necessária a irrigação. O estudo prevê ainda que a freqüência das secas aumentará em 65% e afetará regiões já semi-áridas. No Dia Mundial da Água, comemorado hoje, diversas organizações alertam para o problema que, no médio prazo, poderá comprometer a vida na Terra.

O número de pessoas que poderiam ser atingidas pelo fenômeno é assustador. O estudo da Unesco estima que um aumento de 2 graus poderia submeter até 2 bilhões de seres humanos a uma escassez de água. Desse total, entre 350 milhões e 600 milhões estariam na África e de 200 milhões a 1 bilhão na Ásia. Se o termômetro subir 4 graus, os especialistas advertem que o problema afetará 3,2 bilhões de pessoas.

O relatório ainda pode ser modificado pelos representantes dos 190 Estados membros da ONU durante reunião do Grupo Intergovernamental de Estudos sobre Mudança Climática (Giec), que ocorre em Bruxelas. No mês passado, o grupo previu que até 2100 deve haver um aumento de 1,8oC a 4oC na temperatura média do planeta. No próximo dia 6 de abril, o Giec divulgará as conclusões sobre os impactos previsíveis do fenômeno de aquecimento climático.

Alarmista
Em informe publicado em 2006 - o UN World Water Development Report - pela Unesco, calcula-se que em menos de 25 anos dois terços dos habitantes do planeta residirão em países com graves problemas de abastecimento de água, especialmente no Norte da África, no Oriente Médio e na Ásia. Segundo os padrões da ONU, considera-se que há escassez de água quando a quantidade diária por pessoa é inferior a mil metros cúbicos.

A ONU reconhece que muitas regiões - como a África, o centro da Ásia, o sudoeste dos Estados Unidos e o sudeste da Austrália - vivem em situação de escassez crônica, com 500 metros cúbicos por pessoa.

Organizações não-governamentais (ONGs) e governos de todos os continentes defenderam ontem em Bruxelas o reconhecimento do acesso a esse recurso como um "direito" e consideraram que a gestão desse bem comum não deve, em nenhum caso, ficar nas mãos de empresas privadas. O objetivo deles é fazer com que, em 10 de dezembro de 2008 - 60o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos -, a água seja reconhecida pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU como um direito humano.

Brasília sob ameaça

Exemplo para o Brasil em saneamento básico, Brasília também corre risco de sofrer com a escassez de água. O alerta é do subsecretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, Gustavo Souto Maior. Ele adverte que a oferta de água não acompanha o aumento do consumo provocado pelo crescimento populacional. Hoje, apenas duas grandes reservas abastecem 90% da população do DF, conforme explicou o subsecretário. Uma delas é o Parque Nacional de Brasília (PNB), e a outra é a Barragem do Descoberto, que fica próximo a Brazlândia.

Souto Maior afirma que essas duas fontes estão sob risco de contaminação. "Enquanto o PNB está asfixiado pelo lixão da Via Estrutural, Descoberto é ameaçado por agricultores que usam pesticidas às margens do lago", sustenta. De acordo com o especialista, o aquecimento global põe em risco a disponibilidade de recursos hídricos. Nesse sentido, já propôs ao governo medidas como a melhoria do transporte coletivo e mutirões para o plantio de árvores em regiões desmatadas. "A arborização diminui as emissões de gases estufa."

Mesmo diante das previsões preocupantes, o presidente da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), Fernando Leite, é otimista. "Não há risco de que falte água", assegura. Ele lembra que o DF fornece água encanada e tratamento de esgoto a quase 100% da população. "Mas não há dúvida de que tratar melhor nossos recursos naturais é o primeiro passo para combater o aquecimento", concorda.

CB, 22/03/2007, Mundo, p. 28

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