O Globo, Ciência e Vida, p. 42
11 de Out de 2006
Aquecimento global ameaça milhões na costa asiática
Cientistas australianos traçam quadro catastrófico para a região a partir de 2030 devido à elevação dos mares
Milhões de pessoas podem ficar desabrigadas a partir de 2030, na Ásia, em razão do aumento do nível dos mares. Cientistas australianos alertaram ontem que os países em maior risco são Bangladesh, índia, Vietnã, China e nações insulares do Pacífico.
Um relatório sobre mudanças climáticas divulgado pela Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Comunidade Britânica (CSIRO, na sigla em inglês) revela que na região da Ásia banhada pelo Pacífico o nível do mar pode aumentar em 16 centímetros até 2030 e em 50 centímetros até 2070.
O aumento das temperaturas também causará um maior volume de chuva durante a estação das monções e pode provocar tempestades tropicais cada vez mais intensas, inundando vilarejos costeiros.
"A cosia asiáticaa do Pacífico é, em geral, extremamente vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas, particularmente o aumento do nível das águas causado pela elevação das temperaturas", aponta o relatório.
"Extensas áreas da região são baixas, particularmente os pequenos Estados insulares, e há ainda grandes deltas de rios em índia, Bangladesh, sudeste da Ásia e China."
Um aumento do nível do mar de 30 a 50 centímetros afetaria mais de 100 mil quilômetros quadrados da costa, particularmente na China e em Bangladesh. "Quando o aumento do nível da água exceder meio metro, a área afetada na região asiática do Pacífico aumenta para mais de meio milhão de quilômetros quadrados, afetando milhões de pessoas", sustenta o documento.
Fluxo de refugiados ambientais aumenta
Neste cenário, grandes áreas de Bangladesh, índia e Vietnã seriam inundadas, e Kiribati, Fiji e Maldivas seriam reduzidos a uma pequena fração de sua área atual.
O relatório também aponta que o aumento do nível dos mares e das chuvas disseminaria doenças infecciosas na região, deixando milhões de pessoas em risco de contrair dengue e malária.
As economias regionais seriam duramente atingidas. Segundo o documento, o Produto Interno Bruto (PIB) do Sri Lanka poderia cair 2,4% com uma elevação de temperatura inferior a dois graus Celsius.
O relatório alerta ainda para o fluxo de refugiados ambientais, que deve aumentar sobretudo nas ilhas do Pacífico Sul, onde as águas já começaram a subir. Nos últimos dois anos, 17 mil pessoas pediram visto de permanência à Nova Zelândia.
Em 2003 foram apenas 4 mil. Na Micronésia, por exemplo, desde 2001 vem sendo registrado um aumento do nível das águas de 21,4 milímetros anuais.
O Globo, 11/10/2006, Ciência e Vida, p. 42
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