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Após conflito em desocupação, índios viverão em Jacarepaguá, no Rio

G1 - http://g1.globo.com/
Autor: João Bandeira de Mello e Priscilla Souza
22 de Mar de 2013

Índios retirados do terreno que ocupavam no Maracanã, Zona Norte do Rio, vão passar a noite desta sexta-feira (22) no terceiro andar do Hotel Acolhedor Santana 2, no Centro, oferecido pela prefeitura, mas não pretendem permanecer por lá. Neste sábado (23), segundo o presidente da Associação dos Índios da Aldeia Maracanã, Afonso Apurinã, eles vão para a antiga Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, cedida pelo Governo do Estado.

"O alojamento está sendo montado de hoje (sexta) para amanhã (sábado) lá. Vamos passar a noite aqui, mas amanhã voltamos para Jacarepaguá", afirmou Afonso, que chegou ao hotel acolhedor - um albergue de estada provisória - com mais dez índios na tarde desta sexta (22), após visitar o terreno de Curupaiti.

Mais cedo, Afonso esteve entre os 12 índios que foram ao albergue no início da tarde, mas saíram depois de almoçar, reclamando da comida, especialmente do arroz "duro" e do frango "horrível". Um deles, identificado apenas como Tiago, disse que não voltaria, afirmando que iria voltar a morar em Pedra de Guaratiba, na Zona Oeste, onde sua família vive.

De acordo com a Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado (Seasdh), os 22 índios que aceitaram sair espontaneamente do antigo prédio do Museu do Índio, no Maracanã, escolheram o terreno em Jacarepaguá onde serão construídos o alojamento provisório e o Centro de Referência da Cultura Indígena.

Segundo a Seasdh, os índios visitaram os três locais oferecidos pelo Estado, acompanhados da subsecretária de Assistência Social e Descentralização da Gestão, Nelma de Azeredo, e optaram pelo terreno de Jacarepaguá, pelo tamanho, de 2 mil m² e a proximidade do trecho de matas da antiga colônia. De acordo com a secretaria, os alojamentos para residência temporária terão beliches e contêineres para cozinha e banheiros, dos quais um feminino e um masculino e ficarão prontos neste sábado (23).

No total, 35 índios viviam no acampamento, segundo o defensor público da União Daniel Macedo, que intermediou as negociações, terminadas em conflito com uso de gás de pimenta e tiros de balas de borrancha por policiais militares do Batalhão de Choque, depois que uma fogueira acesa em meio a um ritual, pelos índios que ainda permaneciam no local, incendiou uma espécie de oca que eles mantinham inprovisada e precisou ser apagadas às pressas pelos bombeiros, antes que se o fogo espalhasse pelas diversas árvores que há no local.

Um racha entre as índios que habitavam fez com que dois dos 17 grupos indígenas tentassem resistir à retirada, disse o artesão Kawatá Pataxó, que havia chegado ao acampamento do Maracanã há uma semana, vindo de Porto Seguro, na Bahia, e estava entre os que chegaram para passar a noite no albergue do Centro do Rio. "Todas as etnias aceitaram sair, menos Guajajara e Caiapó", contou.

Defensoria segue no caso

Daniel Macedo afirmou, na noite desta sexta-feira (22), que Defensoria pública da União (DPU) vai acompanhar os desbodramentos porque, segundo ele, não basta colocar o grupo em um terreno em Jacarepaguá. "Esse espaço não pode ser apenas um alojamento, para deixá-los lá. Tem que se criar uma estrutura digna para que eles consigam viver", disse

O defensor, acrescentou que a conduta da Polícia Militar será investigada. "Vamos apurar as responsabilidades, porque houve abuso de autoridade. Pedimos 10 minutos para negociar com os últimos índios que insistiam em permanecer no local. Eles estavam saindo, mas as autoridades determinaram a invasão. Jogaram spray de pimenta numa atitude truculenta".

Ocupantes reclamam de albergue

No Hotel Santana, os ocupantes têm que sair às 9h e tem horário de 16h as 22h para retornar. Os ocupantes, que podem ficar no albergue de dois a três meses, são advertidos caso não retornem no horário e, na terceira vez, expulsos. Eles criticam as condições do local. Um dos hóspedes, que não quis se identificar, com medo de expulsão, diz que, mal chegou, há 20 dias, já teve R$ 700 roubados em roupas.

Os armários não têm chaves e os furtos são comuns, segundo o faxineiro Ivonaldo Albuquerque, de 48 anos, que trabalha na Câmara dos Vereadores, no Centro, e "morava muito longe, em Santa Cruz [na Zona Oeste, a quase 80 km do Centro]", por isso, foi para o abrigo, de onde deve sair para morar de aluguel na Lapa, também no Centro.
"Nos dois meses em que eu estou aqui, teve um monte de furto, pelo menos uns cinco", conta.

Para evitar esse problema, o pedreiro Marco Antonio Coimbra, de 50 anos, conta que dorme com a carteira "dentro da roupa".

Por sua vez, Alex Fagner de Oliveira, de 29 anos, queixa-se da limitação de horário, que dificulta na hora de conseguir um trabalho a poder sair do abrigo.

"Cheguei aqui no dia 27 [de fevereiro], vindo de Macaé [no Norte Fluminense], e, no dia 4, arrumei emprego de garçom no Arábia Saudita, restaurante aqui perto, no Bairro de Fátima, mas eles exigiam que, toda vez em que eu passasse das 22h, o dono do restaurante assinasse um papel dizendo que eu estava trabalhando. Não dava para fazer isso sempre. Por isso, depois da primeira advertência, pedi para sair do emprego, para não ser expulso daqui", contou.

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/03/apos-conflito-em-des…

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