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Aperam investe em carvão vegetal para produzir aço mais barato no País

OESP, Negócios, p. B15
15 de Set de 2011

Aperam investe em carvão vegetal para produzir aço mais barato no País
Siderurgia. Usina de Timóteo (MG), ex-Acesita e Arcelor Mittal Inox, vai operar apenas com combustível renovável após conversão do segundo alto-forno; economia por tonelada de aço produzido será de US$ 150 por tonelada, diz CEO mundial da empresa

Fernando Scheller

A usina brasileira do braço de aço inoxidável da Arcelor Mittal, a Aperam, começa a operar a partir de hoje somente com carvão vegetal extraído de florestas plantadas e administradas pela empresa. Além dos benefícios ambientais do combustível renovável, o presidente mundial da Aperam, Bernard Fontana, afirma que o investimento terá efeito direto no preço do aço: com o carvão vegetal, a empresa pretende economizar US$ 150 para cada tonelada produzida.
Com capacidade para fabricar 650 mil toneladas de aço por ano, a unidade local - que fica em Timóteo (MG) e já se chamou Acesita e Arcelor Mittal Inox - vai receber investimentos de R$ 255 milhões. A maior parte do dinheiro foi usada na substituição do carvão mineral para o vegetal.
De acordo com Fontana, R$ 135 milhões já foram investidos na compra e manutenção de áreas para plantio de eucalipto, enquanto obras no pátio industrial consumiram R$ 40 milhões. O restante foi aplicado na substituição do uso de gás liquefeito de petróleo (GLP) por gás natural na unidade de Minas Gerais e no centro de serviço da empresa em Campinas (SP), que trabalha na adaptação dos produtos fabricados às necessidades específicas das indústrias.
Segundo especialistas em sustentabilidade, o uso do carvão vegetal representa um avanço porque não gera novos "débitos" de carbono. Ao contrário da extração mineral, que somente retira o produto da natureza, as florestas de replantio "geram" o carbono antes de emiti-lo. "Há um potencial grande de projetos de reflorestamento também no combate ao desmatamento ilegal", diz Alexandre Hulig, que escreveu tese de doutorado na USP sobre o uso da madeira no País.
Renovável. Fontana explica, porém, que eventualmente os fornos da unidade produtora poderão ser abastecidos com carvão mineral. Ele diz que a empresa pode fazer do combustível renovável um negócio separado, à medida que a demanda pelo produto aumentar. "Trata-se de uma avaliação econômica e ambiental. Caso as empresas passem a ter de pagar pelas emissões de carbono, ter um projeto como esse passa a ser uma vantagem competitiva", explica Hulig.
Mesmo com os novos investimentos, o executivo diz que a unidade brasileira continuará a operar no limite da capacidade. Segundo ele, é a única usina da Aperam no mundo que não tem capacidade ociosa (a companhia tem outras seis unidades produtivas, duas na Bélgica e três na França). Hoje, a empresa pode produzir até 2,5 milhões de toneladas de aço, mas a demanda ainda está cerca de 20% abaixo disso. No primeiro semestre deste ano, a Aperam faturou US$ 3,3 bilhões com a venda de 1 milhão de toneladas de aço inoxidável.
Apesar de o uso de 100% da capacidade da usina de Timóteo, Fontana diz que não há planos de expansão da produção no País. A empresa estuda, porém, medidas para "desafogar" a unidade. Segundo ele, a ideia é que a operação brasileira concentre apenas os pedidos do Brasil e da América Latina. A usina mineira produz aços inoxidáveis usados em vários setores em expansão no País, como energia elétrica e infraestrutura, além de serem aplicados também na fabricação de eletrodomésticos.
A operação própria das florestas representa, porém, um custo de mão de obra no Brasil. Apesar de a usina local representar menos de 30% da capacidade de produção total da Aperam, cerca de 4 mil pessoas trabalham na operação brasileira - ou aproximadamente 40% da equipe global da empresa. Do quadro local da Aperam, cerca de 1,2 mil funcionários dedicam-se à operação das florestas. "O uso do carvão vegetal é possível apenas no Brasil. É uma capacidade única no mundo", afirma Fontana.

Adaptação
BERNARD FONTANA
PRESIDENTE MUNDIAL DA APERAM
"A Aperam do Brasil opera no limite da capacidade. Por isso, tendemos a seguir o crescimento do Brasil e da América Latina, para melhorar a competitividade de custo da planta."

PARA LEMBRAR
Empresa surgiu em janeiro
A Aperam surgiu no início deste ano como uma empresa independente, depois de ser desmembrada da gigante siderúrgica mundial Arcelor Mittal. A companhia decidiu dar mais ênfase a seus negócios de aços inoxidáveis e especiais - a decisão de formar a Aperam foi tomada pelo Conselho da companhia em dezembro de 2010.
A estratégia de criar um negócio separado é uma maneira de facilitar a atração de capital e dar mais visibilidade aos aços inoxidáveis, segmento para o qual a Arcelor Mittal tem ambiciosas metas de crescimento para os próximos anos.
Antes de virar um negócio separado, com a criação da Aperam, os aços inoxidáveis representavam 5% do Ebitda (lucros antes de impostos, juros e amortizações) da gigante siderúrgica.

OESP, 15/09/2011, Negócios, p. B15

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